A lenda

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  Byeongkwan se considerava um cara comum.

Apesar de tudo de incomum que rondava a sua vida, desde ser parte de uma organização secreta até ser um espelho de boa conduta e impecabilidade, ainda assim ele se considerava um cara comum.

E azarado.

Além de disperso também.

Já tinha cogitado várias vezes retornar com as terapias, mas desistia sempre no último momento, quando seus lapsos de irrealidade diminuíam bem. E atualmente ele andava até que ótimo naquele quesito.

Por isso olhava para o cartão branco simples da nova terapeuta - seu terapeuta antigo se aposentou ano passado e tinha lhe dado o contato da nova especialista de Sidney. – Bye olhava para aquele cartão diante do pequeno fogo da lareira de sua sala e respirava fundo.

Se queimasse, não haveria mais chance de encontrar outra pessoa de confiança para lidar com seus lapsos. Se não queimasse, teria de recomeçar, fazer um resumo de tudo o que passava desde criança ainda que soubesse que Dr. Smith deveria ter passado seu prontuário e histórico para ela.

Seu terapeuta era um comum. Seu caso só começou a se tratado porque ele tinha feito seus pais jurarem que nunca iam dizer nada daquilo a ninguém fora de casa. Não queria arranhar a imagem perfeita da sua família com seus sonhos súbitos acordados.

Mesmo seu pai Jin dizendo mais de mil vezes que nada daquilo era importante.

Mas era. Seus pais eram a coisa mais importante em seu mundo e no mundo dos seus irmãos. Sempre foram.

— Tem certeza de que quer fazer isso?

A voz de Jun soou baixa e compenetrada. Bye suspirou e abaixou o cartão colocando-o novamente sobre a mesinha de canto. Em um local mais seguro.

Dele e do fogo.

— Sabe Jun, a última vez que tive um dos lapsos, eu vi uma velha mística na rua me dizendo que meu dever era abrir os olhos e não os fechar de vez. Ela estava com um cajado na mão cheio de olhos pendurados. Foi mais sinistro do que os lapsos com gente estranha passando por mim sem me ver ou aqueles doentes me chamando nos lugares mais insanos me pedindo por luz e por poeira.

Resmungou chateado.

— Faz mais de três meses que teve sua última crise, certo?

— Sim e eu fico me perguntando se a coisa de abrir e fechar os olhos era literal.

Ele se voltou para o irmão e viu que havia algo estranho nas roupas dele...

Jun sempre usava o traje típico e tradicional de donos da OMMP. Havia variações em seu vestuário, mas sempre era algo com cores sóbrias, de manga longa, gola fechada, formal. Agora ele estava usando bermudas de praia e camisa gola canoa – blusas com aquele tipo de gola era tipicamente usada por pets – e tudo da cor azul celeste.

— Er... Está tudo bem?

— Pete veio visitar a rainha e eu pedi uma audiência formal com ele essa tarde no palácio.

— Você veio de lá... Vestido assim?

Byeongkwan perdeu até mesmo o fio da meada dos seus próprios problemas para entender o que estava acontecendo com o mais frio e duro dos seus irmãos. Não conseguia fazer a conexão roupa anexo/pet mais cor oficial da ex-rainha e visita do seu irmão tarde da noite em seu apartamento. Geralmente era ele invadindo o quarto do outro para reclamar da sua má sorte em ter lapsos de visão fantasiosa em situações comprometedoras e puramente loucas.

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