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Acompanhei Ônix a uma distância segura. Se ele tentasse qualquer coisa daria tempo de correr, afinal, eu poderia colocar fim à minha vida. Mais ninguém.
Ônix andava com uma graciosidade peculiar, como se fosse um grande Duque antiquado pisando em ovos podres.
Entramos em uma lanchonete chamada " Pick's Burguer " de fachada amarela desbotada. Um pequeno sino soou quando entramos pela porta. A atendente atrás do balcão nos olhou de cima a baixo. Qual a probabilidade de um homem vestido da cabeça aos pés de vermelho e uma grande cartola andando junto com uma garota vestida de pijama e descalça? Me liguei somente agora que Ônix em nenhum momento comentou sobre a minha aparência.

Nos sentamos em uma mesa próxima a janela, um de frente para o outro.
Ônix folheava o cardápio distraidamente.

- O que vão querer? - Nenhum bom dia. A atendente, que segundo o crachá se chamava Suzy estava com cara de que desejava estar bem longe dali. Suzi mascava um chiclete acizentado.

- Que bela hora para uma refeição, certo Vic ? - Meu estômago respondeu por mim. - Bem, vamos lá. Eu gostaria de um milk shake de chocolate. E a senhorita ?

- Hm... o maior hambúrguer que você tiver, com uma grande batata frita. - Certamente eu fui gananciosa em pedir, mas queria ver qual era a de Ônix. - E um milk shake de morango, por favor.

Ônix bateu palminhas - Esplêndido. Capriche na refeição de minha amiga, por favor.

Suzy saiu se arrastando para preparar os pedidos.

- Sabe, meu dia está tomado de surpresas. Algumas ruins e outras boas. - Ônix comentou.

- E eu me enquadro em qual?

- Nas boas surpresas, é claro. Quer dizer, olhe só pra você ?! Já se deu conta de o quanto você é linda, Vic?

Me senti desconfortável de repente.
- Olha, Ônix... Eu não estou procurando por romance.

- E que maravilha! Um romance para você seria completa perda de tempo. Não criança, imagino o seu futuro grande, com muito dinheiro, ah sim.

- Também não serei prostituta, Ônix. - Qual era a dele?!

- Tudo bem. Cada qual com o seu. Não seria minha consorte, nem uma dama da vida. E que tal uma dançarina em uma grande boate luxuosa ?

Eu gargalhei, totalmente sem humor.
- Dançarina? Eu não sei dançar.

- Você aprenderia. Sim, tudo bem que é para o entretenimento de homens. Mas ninguém te tocaria sem a sua permissão, já adianto. Além do mais, você teria um quarto só para você, e ganharia aproximadamente oito mil dólares por semana.

Fiquei estupefata olhando para ele. Aonde estava a pegadinha? Quem ofereceria oito mil por semana para uma menina maltrapilha em troca de... dançar?

- O que ? - Minha voz era um pouco mais do que um sussurro.

Suzy chegou com os pedidos, os distribuindo pela mesa. Eu havia esquecido a fome.

- Sim, mademoiselle. Tudo o que deveria fazer é assinar um contrato, onde ambas as partes concordam.

- Espere. Eu sei sobre tráfico de pessoas, ok? De órgãos também. Vá enganar outro, Ônix.

- Não minha querida, você entendeu errado, não é nada disso. Você já ouviu falar na boate Pandemonium?

Claro que sim. A Pandemonium era a boate mais famosa de Highland Park, a 5 km de Dallas. O sonho de todo o adolescente rebelde da minha idade era frequentar essa boate. A única boate tão famosa quanto que eu já havia escutado falar era aqui em Dallas mesmo , a Apófis. Infelizmente eu não tinha poder aquisitivo para frequenta-lá.

- Sim, já escutei falar.

- É claro que sim, querida. Bem, eu sou um dos promotores da Pandemonium, e o meu trabalho é recrutar belas jovens com o perfil que nossa boate pede. Não tenho nenhum interesse em sequestrar pessoas.

Remexi em uma batata. - Eu tenho um irmão pequeno...

Os olhos de Ônix brilharam.

- E o que eu poderia fazer por ele?

- Qual horário eu deveria cumprir na boate?

- Horário noturno. O diurno é todo seu, e tem folga nas segundas.

- Eu topo. Mas se eu puder ter um pequeno apartamento, e meu irmão for morar comigo.

- Com quem você deixaria ele a noite, querida ?

- Eu me viro.

- Negócio fechado!

- O que ?! Tudo bem o apartamento pra você? - Eu não estava acreditando. Qual preço iria pagar por ser tão fácil?

- Mademoiselle, devemos reconhecer quando vemos um diamante. E para adquirir um diamante, vale quase tudo.

Ônix tirou um pequeno contrato do bolso e estendeu o papel sobre a mesa.

- Se quiser, pode ler as entrelinhas. As únicas coisas que serão exigidas de você são as horas trabalhadas, evidentemente, e que você trabalhe em um mínimo de seis meses. Após disso, se desejar sai, será livre.

Peguei o contrato. Logo no topo do papel, estava impresso duas máscaras, daquelas que lembram uma peça de teatro. Uma estava com a carinha feliz, a outra estava triste. Já tinha visto em algum lugar, talvez na escola. Se não me engano, era tragédia e comédia.
Abaixo estava como título a palavra Pandemonium.
Várias cláusulas estavam listadas ao decorrer do contrato, e pelo que pude ler, não continha nada absurdo, como vender a minha alma ou tráfico de pessoas. Uma fina linha era destacada no final de tudo, deveria ser o espaço destinado para assinatura.

- Ok. Digamos que eu concorde com essa loucura. Eu não tenho uma caneta...

- Oh, não precisa, querida. Tudo o que deve fazer é depositar um pequeno beijo na linha.

Que pedido mais estranho.

- Somente isso? Um beijo? No papel?

- Tente querida. É só um beijo, leve como pluma. - Ônix nesse momento estava nervoso, ansioso até.

Bem, o que eu teria a perder ? Se não desse certo, eu teria uma nova oportunidade para acabar com tudo.

Aproximei o papel dos meus lábios. Dei um pequeno "estalinho" na linha fina.
Uma tontura prometia me acometer, e senti tudo ficar escuro. Os olhos de Ônix que eram escuros, ficaram vermelhos. Não tive chance de indagar o que era aquilo.

Desmaiei.

BelialOnde histórias criam vida. Descubra agora