Poesia como começo

337 29 6
                                    

"Deixe minhas palavras lhes guiarem, e a salvação virá." 

Na manhã da segunda-feira chuvosa que abatia a cidade como se quisesse lhe lavar, os olhos esverdeados de Meredith Grey se despertaram com um tom esverdeado diferente. Era O Dia. Sua mala estava pronta, seu coração calmo e seus pais estavam munidos da maior felicidade do mundo. No completar de seus vinte e um anos, sua maior idade vinha com responsabilidades maiores que seus desejos, ainda que esses fossem escondidos embaixo de sua pele. Em sua privacidade, um banho demorado fora tomado, a deixando renovada para vestir o vestido branco bem passado que havia sido deixado no cabide desde o dia anterior. Seu cabelo fora arrumado em um coque, e logo seus pés abrigavam o sapato preto. 

Como de costume, seus joelhos se dobraram diante a imagem sagrada, levando seus dois dedos acima do crucifixo em seu pescoço, iniciando a oração com os lábios úmidos. Seus olhos se fechavam, suspirando a cada palavra dita, buscando diariamente seguir o que lhe guiava. Ao terminar, seu "amém" viera mais baixo, se levantando dali para pegar sua única mala preta. Saira dali convicta uma vez mais de sua escolha, descendo as escadas com seu corpo e mente tranquila. 

No andar debaixo, seus pais a esperavam com um sorriso orgulhoso, a fazendo sorrir da mesma forma. Comeram juntos como de costume, em silêncio, pois a comida em comunhão era sagrada demais para ser interferida por palavras. Ao final do café da manhã, Meredith tomara seu tempo para escovar seus dentes, voltando a presença de seus pais às exatas seis da manhã. O carro já estava ligado e preparado para leva-la, enfrentando a chuva que finalmente cedera um tanto, os deixando em paz para cumprir sua missão daquele dia. 

Durante o caminho, seus dedos tocavam o crucifixo uma vez mais, fitando a janela enquanto seu corpo levemente tremia de frio. Pedia a Deus a serenidade necessária para iniciar seus estudos mais aprofundados, longe da vida mundana que só lhe ferira. Quando seus olhos miraram os portões do local, discretamente sorrira, finalmente havia chegado. O carro diminuira a velocidade, estacionando logo na porta onde uma mulher de vestido preto longo os aguardava, portando um guarda-chuva. A mesma acabara buscando Grey no carro após vê-la se despedir dos pais, a levando para dentro. 

Assim que a enorme porta de madeira se fechara de maneira sonoro atrás de si, a menina tremera um tanto, sentindo seus braços molhados pela chuva. 

────Senhorita Grey, lhe levarei até seu quarto, onde seu uniforme lhe espera, bem como seus novos sapatos. ────A voz firme da mulher ecoava por todo o corredor vazio, fazendo com que os olhos esverdeados se prendessem a ela. ────Como sabe, suas aulas já se iniciaram, inclusive agradeço a pontualidade, isso mostra bastante sobre seus princípios! Há um horário junto a seus novos pertences, as aulas se iniciam às oito. 

A mulher a levara para o terceiro andar do suntuoso prédio, onde todos os quartos das alunas se situavam. O de Meredith era o quarto vinte e oito, localizado ao meio do corredor. Era seu e apenas seu, com poucos móveis, apenas o necessário para seu conforto. Sua mala fora deixada no banco ao final da cama, ao que ela passara a se trocar, colocando o uniforme branco, verde e preto. Suas mãos logo colocaram as meias brancas, seguidas do sapato preto de abotoar. Refizera o coque ao se olhar no espelho, deixando seus fios no lugar, para só então seguir junto a seu horário para a sala. 

Sua primeira aula do dia era poesia, o que internamente lhe fizera sorrir. Nas palavras, Grey sempre encontrou o conforto necessário para repousar partes suas que gritavam mais do que deveriam, sendo assim, envolvida pela arte, sua mente descansava. Se sentara na primeira cadeira do canto, visto que a mesma possuía seu nome e os pertences necessários para o estudo. No horário pontual, a mulher de bela postura adentrara a sala em seus saltos monumentais, nas mãos a mesma possuía uma pasta preta e uma bolsa. Seus pertences foram deixados sobre a mesa de madeira escura, ao que ela parara ao meio da delimitação de seu local, fitando a todas. 

────Bom dia, senhoritas! Eu sou Addison Montgomery, sua professora de poesia. ────A mesma suspirara, dando um sorriso cálido. ────Espero que deixem as palavras lhes guiarem pelo jardim, mas que não se percam no processo. ────Meredith lhe olhara como se buscasse o significado oculto naquela frase, mas nada achara. 

Eve's Garden ▪︎ MEDDISONOnde histórias criam vida. Descubra agora