Convicção

118 17 1
                                    

Com a cair da noite, liberada do restante das comemorações, Grey seguira rapidamente para seu quarto, se trancando no mesmo com o livro em sua posse. O deixara na cama como quem escondia um segredo, indo em direção ao banheiro para se livrar de tudo o que havia pensado naquele dia. A água não lavava seus pecados, mas esfriava sua cabeça que não parava nem por um minuto de pensar em Addison Montgomery. Como um lembrete gritante de como Grey estava entrando por um caminho sem volta.

De volta ao quarto, devidamente vestida com a camisola branca, a menina se sentara em sua cama, deixando o livro sobre suas pernas. Em um suspiro, ela o abrira, o folheando como se pudesse tocar Addison ao fazer tal coisa. Com a ponta do dedo, virava as páginas uma a uma, encontrando outro bilhete na página doze.

"Estou tão despida de quereres quanto você. A.M"

Grey engolira seco, segurando o delicado bilhete escrito a mão, o fitando enquanto sua mente formava a imagem perfeita de Montgomery o escrevendo. De súbito, se ajoelhara sobre a cama, tomando o papel e a caneta de dentro da gaveta, respirando profundamente enquanto escrevia. Addison queria um poema e ela teria. A escrita demorara mais que o esperado, acabando por fazer com que a menina dormisse sobre os papéis na posição mais desconfortável possível.

Assim que clareara minimamente, visto o tempo chuvoso, Meredith despertara com o despertador a tocar em alto e bom tom. Como de costume, tomara um banho rápido, se arrumando logo em seguida. As aulas naquele dia seriam práticas, e só realmente teriam pausa na hora do almoço, mas era o que a menina precisava. Após o café da manhã, a primeira aula se iniciara, ao que as horas passavam lentas, como se algo impedisse Meredith de fazer o que queria.

A liberação viera junto ao horário de almoço, e ainda que seus olhos procurassem por Addison no local, não a viu em momento algum. Assim que terminara sua pouca refeição, Grey correra até a biblioteca, adentrando a mesma com calma. Caminhara até a penúltima fileira de livros e lá encontrara Montgomery com um livro aberto em mãos.

────"Você veio para o lado da cama
e sentou-se olhando para mim. / Então você me beijou - eu senti cera quente na minha testa. /Eu queria deixar uma marca: foi assim que eu soube que te amava. / Porque eu queria ser queimado, carimbado,
ter algo no final. /Puxei o vestido por cima da cabeça; um rubor cobriu meu rosto e ombros. /Ele seguirá seu curso, o curso de fogo, colocando uma moeda fria na testa, entre os olhos. /Você se deitou ao meu lado; sua mão se moveu sobre meu rosto
como se você também tivesse sentido
você deve ter sabido, então, como eu queria você. /Sempre saberemos isso, você e eu. /A prova será meu corpo." ────Suas palavras acabaram por tomar conta de todos os sentido de sua aluna, que se deleitava de olhos fechados ao ouvi-la branda.

Assim que saira de mais um de seus transes, a mais nova se aproximara de sua professora sem cerimônias, novamente ficando entre a coluna de livros e o corpo de Addison Montgomery. Com as mãos trêmulas, retirara do bolso da saia plissada um papel branco pautado, o abrindo lentamente. Com o mesmo diante de seus olhos, ela fitara as orbes verdes da mulher a sua frente, aspirando seu cheiro bom.

────A espera de seu beijo me mata aos poucos. / A morte boa e pacífica que sempre sonhei. / Na eternidade em descanso lhe tenho como quero. / Com a fome necessária para lhe fazer entender. /Ainda que se vista de pecado na carne. / Minha alma se ajoelha em sua frente. / Esperando que seus dedos me toquem, despertem. / Sua, para sempre. ────Os lábios entreabertos de Addison se tornavam secos, precisando que a mesma os umedecesse com a ponta da língua.

────Meredith. ────Sua mão se apoiara na estante a sua frente, fazendo com que os corpos se encontrassem em perfeito silêncio.

Devido a diferença de altura, seus rostos não se encontravam, mas Grey subia sua feição de olhos fechados, ao que Montgomery abaixava a sua, também de olhos fechados. Sabiam que aquilo estava totalmente fora dos limites, e nem mesmo se a palavra que lhes livrava do pecado lhes viesse a mente, nada as salvariam.

────Addison, por favor... ────Um sussurro viera, fazendo com que a ruiva estremecesse, pois não havia escutado ser pronunciado por aqueles lábios.

────Eu... Meredith... ────Suspirara contra os lábios convidativos a sua frente, engolindo seco ao se afastar. ────Eu não posso... Você é apenas... Eu não posso! ────Suas mãos desceram por sua saia, alisando o tecido da mesma enquanto seu corpo era colocado contra a estante dessa vez. ────Não me tente assim... Dói tê-la perto e não poder nem ao menos pensar em lhe tocar!

────Então pense, Addison! Pelo menos pense. ────Grey deixara seu nariz passear pelo rosto de sua professora, ficando na ponta dos pés para alcança-la. ────Eu estou pensando em como é ser tocada por você, o quanto suas mãos são macias e como você escreveria poesia em minha pele. ────A mais velha se encostava contra a estante, respirando tão profundamente que doía.

────Meus lábios estão tão ávidos por você e nem mesmo sei explicar como, só quero tê-la, só para mim. ────Mordiscara seu lábio inferior, tentando controlar sua respiração. ────Eu não vou tirar sua pureza. ────Suas mãos finalmente tocaram o rosto de Meredith, a olhando de perto, quase tocando os lábios. ────Eu não vou fazer nada até que me peça com convicção.

Eve's Garden ▪︎ MEDDISONOnde histórias criam vida. Descubra agora