Pirata- O livro

Santo.

Rio de Janeiro, 1980.
Estavam os dois amantes sentado num desses botecos baratos, em beira mar. Ela sabe que o amado não tem o mínimo de dignidade, mas não consegue afastar-se do mesmo. Ele já está começando a desgostar da pobre moça, que quer o amor dele com todas as suas forças. Sentados um de frente para o outro, ele pede uma cerveja, e ela, uma groselha. A brisa vinda do mar servia de refresco à pobre moça, que já era consumida pela tristeza de saber o fim de tudo.
- Você já vai?
- Estou atrasado, me desculpe.
- Quando você volta?
- Eu não sei, não precisa me esperar.
- Mas, e se eu quiser te ver de novo?
- Quando menos esperar, nos vemos de novo. Só não planeje nada.
- Você não pretende pousar o coração num só lugar ?
- O mundo está aí para ser descoberto. Tenho muitas pessoas a conhecer. Desculpe, mas não posso ficar.
- Essa sua carinha... Há quem diga que és um santo! O melhor entre os homens de bem!
- É o maior equívoco da vida! Sabes bem que nunca o fui.
- Eu sei que não vais ficar. Nunca ficas.
- É jeito que levo a vida, senhorita. Peço desculpas, mas sei que encontrará alguém digno do seu amor.- disse beijando a mão da moça.
- Fala como se minha reputação não estivesse corrompida. - disse com desdém.- graças a você, nenhum homem há de querer alguém como sou.
- Você não precisa dos homens senhorita. Seja livre também. Sê feliz, apenas por ti mesma. - falou o libertino, se levantando da mesa.
- Até mais, meu caro.
- Não se preocupe, minha querida, em mostrar a todos a dignidade. Existe um ditado que diz: " um bom homem nunca jura, o seu caráter jura por ele." Deixe que pensem sobre ti o que quiserem.
- Para você é mais fácil. Ninguém sabe quem és realmente.
-Mas você sabe. Peço perdão se prometi alguma coisa à senhorita. Mas não pense que sou santo. Eu realmente não o sou.
Colocou o chapéu sobre a cabeça, sacudiu o paletó e saiu, deixando a pobre menina aos prantos pelo egoísmo do amado.
Ele não voltaria, ela sabia.
Mas ainda sim tinha esperança de um dia revê-lo.
Mas de uma coisa tinha certeza:
Um dia descobririam que ele não era santo.
De fato não era.