parte 6

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Minha obsessão estava tão grande que eu não questionava mais as consequências de toda a minha teimosia.
Existia algo que estava perturbando minhas noites de sono, e até mesmo meus descansos além das perguntas constante a respeito do por quê?

Todas as noites as perguntas em minha cabeça eram: por que minha mãe escondeu meu pai de mim? Qual foi o acordo? Porquê? Por que ela não queria que eu ficasse perto dele? Por que Tino não sabia de minha existência?

Era obvio que meu avo não sabia que eu estava atrás de todas as respostas, e minha mãe por mais que ela tentasse esconder ela sabia que eu estava atrás das repostas, e o que ela podia fazer? Me dizer a verdade? Sim, ela podia fazer isso, ela poderia me dizer a verdade se ela soubesse. No final eu sabia que meu avô a induziu a me manter distante, meu avô não queria que houvesse um escândalo entre as famílias, meu avô queria privar o nome Durand do que assumir que seu próprio neto era um Collalto. Meu avô, tudo girava em torno dele, e o que aconteceu com sua irmã?
Agora havia a pergunta que mais invadia minha mente além desses questionários complexos...

Eu estava apaixonado por Eron?
Na casa Durand todos agiam como se nada tivesse acontecendo, ou acontecido, era natural, ninguém falava com ninguém sobre o ocorrido de semanas atrás. Eu estava sentado, na beirada da cama, estava apenas pensando o que faria hoje, como fingiria hoje. Minha mãe entrou no quarto após bater na porta, ela carregava uma bandeja de café da manhã.

— Bom dia... — disse ela com um sorriso, ela ergueu a bandeja — Meu pedido de paz.

Eu não sabia se devia aceitar. Mas fiquei em silêncio, ela se sentou ao meu lado empurrando a bandeja em minha direção.

— Tem doce damascos, sei que é seu favorito — sussurrou ela.

— Nem tanto — empurrei a bandeja sutilmente de volta.

— Por favor, foi eu quem fiz... — ela falou ainda mais baixo.

Fiquei com pena. A geleia de damasco era algo que eu realmente gostava, mas não queria dar o braço a torcer, porem provei com um pedaço de biscoito, por pena e o doce desceu mais amargo.
Ela respirou fundo. Quase como um alívio.

— Me desculpa. — ganiu ela.

— Eu não consigo entender. Meu avô parece mais vilão que Alfredo Collalto. O que houve com a irmã dele afinal?

— Nesse caso os dois são. Por Alfredo ocê estaria morto, e seu vô, bom ele preferiu que eu não o abortasse de fato. — Ela deu uma pausa — E não sei ao certo, mas o que sei é que Alfredo era apaixonado por ela, e ela morreu em seus braços e uma vez ouvi dizer que fora apenas o coração dela que parou, não ele que matou, mas não sei se é verdade, nem sei se essa história é verdade.

— Ah, e para solucionar tudo isso, além de você ter me concebido ainda me me mandou para longe.

— Melhor do que tê-lo morto.

— Preferia ter morrido.

— Não, não diga isso! — disse ela com brandura — Não repita isso.

— Qual foi o acordo?

— Não sei, mas creio que Tino nunca saberia que você existe, e Alfredo jamais te tocaria. — Ela deu uma pausa — Por isso você não pode conhecer Tino, entende? Vai por sua vida em risco a troco do quê?

— Mãe? — falei ficando irritado — Ele merece saber, assim como eu merecia, vocês privaram a gente.

— Você nem o conhece.

— Então me fale dele, como aconteceu? Vocês se apaixonaram ou.... Ou... — Insinuei que ela tivesse sofrido algo pior

— Não... Não Tino, Tino jamais faria algo comigo as forças. — Ela respirou fundo — ele era um doce...

Ela resgatou uma lembrança, ficando em transe.

— Ele costumava dar um sorriso doce, meigo. Ele era um tanto educado, embora tivesse suas brutalidades — Enquanto ela descrevia Tino, Eron invadiu minha mente — Ele, ele era atencioso, diferente da família Collalto, e as vezes parecia que aquela família o obrigava a agir feito um monstro.

Ela limpou a garganta.

— Ele não era muito adorado pela sua doçura e por isso as vezes, Alfredo o batia da pior forma. Apagava cigarros em seu braço — ela deu uma longa pausa — Funcionou. A ultima vez que vi Tino ele estava diferente. Parecia que tinha sido tomado por um monstro interior eu tentei me aproximar e... Ele não gostou muito, disse que eu fui uma vergonha, um problema para ele.

— Eu entendi... Me desculpa também. — Gani baixinho temendo que isso acontecesse com Eron.

— Aquele garoto... Eron, ele me parece...

— Ele não é ruim. É doce, embora um pouco amargo como essa geleia de damasco — falei e ela riu.

— Eu errei, mas eu tentei — ela disse rindo e provando a geleia com o dedo.

— Ele é educado. É gentil. Ele... Ele sorri, Eron sorri de modo descontraído e sempre doce. Oh — bufei um ar.

Ela ficou me encarando com o dedo nos lábios, apertou os olhos, depois relaxou as sobrancelhas. Tirou as mãos dos lábios e bufou um arzinho espantoso.

— Tem sentimentos por ele? — ela falou boquiaberta. — Ah não... — Ela negou com a cabeça e os olhos dela se encheu.

Desviei o olhar olhando para o chão, senti meus olhos encher.

— Mãe...

— Não.... Meu deus.... Não... Não... — ela segurou a cruz seu colar de rosário. — ooh meu deus. É por isso.... — Sussurrou ela

Houve um silêncio, eu não olhei para o rosto dela, mas escutei ela enxugar e sugar as lagrimas.

— Ocês dois... São dois homens, isso... Merda isso... — ela limpou as lagrimas de novo

— Me perdoa minha mãe — falei já aos soluços. — Eu... Eu tentei, ser homem de verdade eu... Sei que queria que eu casasse.

Seus braços envolveram minha cabeça, e ela me puxou para seu peito me abraçando e me aninhando. Ambos se nós em soluços inacabáveis.

— A Iara, amiga da mamãe sabe? Aquela que tem uma filha que ocê brincava a Eloisa, lembra?

Fiz que sim com a cabeça.

— A Eloisa ela é assim que nem ocê. E quando o pai dela descobriu ele... Ele a expulsou e bateu nela e a Iara pediu para que eu ajudasse — ela deu uma pausa — Eu a trouxe para cá, mas foi tempo até seu avô descobrir e... Eu não consegui mais ajudar ela.

Eu não entendi a onde ela queria chegar, mas novamente ela limpou seus olhos.

— Eu não quero que isso aconteça com ocê. Eu não quero que seu avô te expulse... Eu não quero... Que... Eu não quero te ter longe de novo.

— Como a Eloisa está hoje?

— Ela foi embora, ta morando na cidadezinha, na Bela Vista.

— E a Iara?

— Ela tenta, ela vê a filha escondida do marido...

— Promete para mim que você vai tentar mãe — sussurrei depois de alguns segundos silenciosos. — Promete que não vai me deixar de novo, nem se meu avô quiser muito...

Ela se afastou, pegou meu rosto e me olhou nos olhos.

— Prometo. Eu prometo.

Minha mãe deu uma pausa longa, nos afastamos, ela limpou meus olhos e os dela.

— Desculpa, mas o Eron... Ele e você... Como é isso?

— Hã.... Bom, a gente, eu não sei... Aconteceu. A gente se beijou...

— Mas... O Eron? Filho... o Eron namora. Ele namora a Marina, filha da Maria do Jorginho.

— O quê?

— É... Agora que me lembrei... Ele...

— Ele namora? A Marina?

Ótimo! Eu não era o único mentiroso.

O Garoto de Lugar NenhumOnde histórias criam vida. Descubra agora