Fim

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Eron e eu estava observando as estrelas, estava uma noite serena e finalmente me sentia feliz em estar ao seu lado. Minhas mãos entrelaçadas na sua e um serenidade em um silêncio eu o olhei e ele estava imóvel.

— Eron? — chamei.

E sua cabeça despencou para mim com uma bala cravada em sua cabeça, além de muito sangue, tomei um susto em sobressalto.

— Eron! — gritei em um pulo.

Tino tocou meu peito e me empurrou de volta para cama.

— Ei! Está tudo bem, tudo bem foi só um sonho. Garoto foi só um sonho.

Eu o olhei assustado, com os olhos úmidos, estava a noite, a máquinas do hospital apitava sem parar. Haviam agulhas em mim, uma bolsa de soro ao alto, o silêncio da noite, carros na rua. Não estávamos na área rural, de certo em alguma cidadezinha mineira.

Tino deu um sorriso, e tocou meu rosto.

— Eu sabia, no dia em que te vi, eu sabia no fundo eu sabia que era um pedaço de mim — sussurrou. Seus olhos se encheram. — Meu filho.

Então agora ele sabia. O olhei espantado em seguida me deu um abraço repetido e eu pude sentir todo aquele amor que ele carregava no peito, certamente era muito tarde, madrugada, mas não havia relógio aqui.

— O Eron?

— Passou por duas cirurgias, mas está bem. Aquele menino deu sorte, a bala passou à alguns milímetros do coração

—Ah — arfei em um ar choroso. Meus olhos se molharam ainda mais.

Tino me abraçou novamente, e ali, junto de seu corpo o abracei chorando em desespero. Eu não sabia ao certo se era um choro desesperado de alegria, de medo, incertezas. Um choro pelo Eron, mas chorei ainda mais ao sentir um pai que nunca tive em meus braços. Ele acariciou minha nuca, me aninhou.
Embora tivéssemos muito a conversar, não conversamos. Ele disse que eu precisava descansar e um beijo na testa. Acredito que ele também precisava, ele dormiu na cadeira de descanso e eu mesmo sem sono embalei em um cochilo, até que logo amanheceu. O medico veio ver como eu estava, além das enfermeiras que me trouxeram um café da manhã hospitalar nada bem. Logo em seguida tive alta.

Meu pai me acompanhava até o elevador, logo nos corredores brancos daquele hospital que eu não conhecia, minha mãe apareceu no final do mesmo vindo ao meu encontro. Cumprimentou tino e me deu um abraço.

— Ai nossa, estava indo ver ocê agora. Estive tão preocupada. Seu avô está aqui também, como ocê está?

— Bem — falei em meio ao abraço.

Descemos no elevador. Um clima estava instalado, minha mãe e Tino estavam meio estranhos, eu estava no meio dos dois, mas eles mal se olhavam, nem falavam nada. Tino parecia aborrecido.

Na recepção estavam meus avós, e os pais de Eron, separados claro, a família não se unia. Meu avô apenas me cumprimentou com um aperto de mão e minha avó me abraçou.

— Vamos para casa... — disse minha avó ajeitando a bolsa.

Meu pai que estava conversando com seu irmão, Barão Ao ouvir aquilo se voltou contra minha avó se aproximando.

— Que casa? — interrogou ele.

Meu avô e minha avó o olharam.

— Ele não vai, não vai para uma casa onde não querem ele — disse num tom brusco.

— Tino — resmungou minha mãe.

— Ocê me tirou o direito de ser pai dele, mas saiba que mesmo eu tendo dificuldade para aceitar ele gostar de outro homem eu jamais o tocaria para fora de minha casa — disse ele irritado.

— Ocê não deixa de ser um metido de meia tigela — resmungou meu avô

— Por mim Levi não vai com orcês. Não vai! — disse irritado.

— Parem vocês, mas que merda! —falei irritado os abandonando.

Estava desinteressado naquela discussão, cruzei o salão até o outro lado, onde mãe de Eron ainda estava com os olhos choros e a abracei, ali mesmo, diante de todos. A reação dela eram nulas, não sabia o que fazer, eu sabia que ela havia ficado chateada comigo, mas ela nunca foi uma pessoa ruim comigo embora não trocássemos muitas palavras eu a estava perdoando. Depois do abraço cumprimentei Barão que querendo ou não eram meus tios.

— Me desculpa tio — falei baixinho e aquela palavra o tocou.

Barão não era um cara doce, ele tinha problemas sério com bebidas, e por isso quando Eron era menor batia no menino constantemente alcoolizado. Esse era o motivo do Tino ter uma certa angustia de Barão. Por isso as marcas de cigarro, barão fazia a mesma coisa que Alfredo lhe fizera em outras épocas, pessoas machucadas machucam as outras mesmo que involuntariamente.

Eu ainda não tinha noticia de Eron. Mas diante de minha redenção decidi perguntar.

— E Eron?

Deu um sorriso limpando a lágrimas.

— Já está no quarto, assim que acordou perguntou de você — disse ela

Barão pareceu incomodado, colocou as mãos no bolso e fez cara de paisagem.

— Posso vê-lo?

Ela olhou para Barão, esperando um olhar de aprovação, mas ele apenas a olhou com as sobrancelhas erguidas ainda um tanto incomodado e deu os ombros. Ela então sorriu, segurou minha mão, Barão saiu de perto ainda engolindo seco.

— Ele vai se acostumar — disse com o sorriso fraco. — Um sobrinho e um cunhado tudo numa caixada só... Complicado — acrescentou — Vou te levar até ele.

Subimos o elevador após passarmos na recepção, o quarto era 302, e eu repetia o numero do quarto mentalmente para tentar disfarçar meu nervosismo, para tentar manter a calma. Milhões de pensamentos percorrem minha mente constantemente a respeito de Eron, será que ele vai ficar bem?

302, a porta estava aberta. Ele estava lá, deitado em silêncio, coberto por uma manta hospitalar fina e azul clara, de olhos fechados. E ali desmoronei, senti meus olhos encherem tanto que era impossível conter o choro mesmo tentando.

— Querido? — chamou sua mãe.

Ele não estava dormindo, estava apenas de olhos fechados. Ele abriu um dos olhos a olhando, mas quando finalmente me viu, seus olhos verdes e castanhos encontraram os meus.  Eu tentei esconder o choro com o punho sobre meus lábios, mas não consegui, estava falhando miseravelmente, e Eron que não chorava chorou, e quando o abracei ele chorou ainda mais, feito um bebê chorão. E sua mãe ao outro lado estava supremamente comovida com a situação, ela olhou para porta onde Barão também se fazia presente agora e até mesmo ele estava com os olhos marejados de ver o próprio filho sucumbir a emoção enquanto ele me abraçava e me apertava superando a dor de sua quase morte.
Suas mãos adentraram em minha nuca, minha cabeça repousava em seu peito enquanto escutava seu coração bater, eu estava debruçado em seu corpo, escutando-o chorar sem parar, ele beijava e cheirava meus cabelos enquanto me acariciava, ele resmungava o mais fino som de choro que sua garganta emiti, eu escutava a respiração dele falhando. E minhas lágrima o inundaram ainda mais.

— Filho cuidado ocê não estava cem por cento — disse sua mãe preocupada com o esforço de Eron para me abraçar.

Mas ele nem a ouviu, estava embargado no choro e no soluço. E eu? Eu estava derretido por dentro, esmagado pelo medo de quase tê-lo perdido e pelos seus braços que me apertavam com tanta força, que eu me sentia uma pequena pelúcia.

— Eu pensei... Eu pensei — disse ele com a voz de choro — Pensei que não ia mais ver ocê.

— Eu sei... Eu sei — falei choroso.

— Eu amo ocê Levi — quase não saiu em meio ao choro.

Beijei seus cabelos e alisei os mesmos. Ele não parava de chorar e eu também não, estávamos assustados, como podíamos sentir aquele amor tão grande? Como somos capazes de amar dessa forma, da forma que dói? Como é possível isso caber no coração?
Doeu muito saber que quase o perdi, tudo que vivemos foi rápido e tão intenso, mas tão intenso que eu não saberia o que fazer se o perdesse.

— Também o amo — falei baixinho...

— Quero ter uma vida mais ocê. Nós vamos embora, vamos ter nosso canto...

— Sim nós vamos ter — falei ainda tentando me acalmar o apertando.

Eu queria sentir sua pele, seu cheiro, saber que aquilo era real.

Mas aquele dia foi um dia que podíamos chorar. Havia milhares de coisas para resolver, mas nada, nada importava mais do que Eron, eu entendi que ele era a minha vida, minha segunda vida, e eu não precisava de mais nada, nada além dele. O amor é imprescindível, é delicado, é doce, tão doce que mesmo amargo pelos seus sabores, ainda sim é o melhor sabor e sentimento que alguém possa sentir quando se trata de amar e ser amado.

O Garoto de Lugar NenhumOnde histórias criam vida. Descubra agora