parte 7

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Passei a semana toda me sentindo um idiota. A semana toda até chegar o dia do chá de bebê da irmã de Eron. A varanda da residência dos Collalto estava enfeitada com uma faixa escrita: Chá do César Augusto Garcia, eu já havia chego, mas ali ainda enfeitando a varanda só estava eu e ela. Os homens da casa haviam saído antes que eu chegasse, havia também as primas de Eron.
Eu estava desconfortável, mas nem tudo se tratava de Eron, eu sabia que Tino, Eron, Barão e Alfredo haviam saído, foram ao centro da cidade comprar algumas coisas para Erica.

— Neto, você poderia ficar com a Dani um minutinho. — disse Erica me dado sua filha. — Meu marido já-já chega

Eu a peguei, ela já devia ter uns 2 anos, era bem espertinha. Erica se casou com um homem fluente conhecido, e também um policial da cidade, Tenente Garcia, eu o conhecia e isso me assustava. Ele não era ruim, mas eu pensava que de qualquer modo a família Collalto era protegida pela lei.
Algumas crianças brincavam para lá e para cá, eu não gostava muito de crianças, mas o Neto tinha que gostar, ou pelo menos fingir. Fiquei tentando amizade com a pequena Daniela, ela não era tão fofa, e também não parecia se importar com minha tentativa frustrada de amizade.

Não demorou muito para alguém retirar a criança de perto de mim, foi um alivio, mas eu sabia que todos gostavam de criança, e uma convidada em questão, amiga de Erica fez esse favor.
Erica depois de muito se esforçar esticou ao meu lado com sua enorme barriga, parecia carregar uma bola de basquete embaixo daquele vestido, ela era magra, embora gravida, e era semelhante a Eron, entretanto Eron era mais rustico, Eron tinha o rosto mais redondo e quadrado, um corpo taludo e uma barriga de quem gostava de comer bem, Eron era um tanto forte, mas sem barriga escultural apesar do peitoral viril e braços fortes. Eron era diferente dela justamente por ter um porte físico bruto, seus músculos vinham de uma natureza braçal, como se aquilo vinhesse do trabalho do campo ou de sua genética natural, uma vez que Barão, pai de Eron, parecia um dia ter tido o mesmo porte físico de Eron, agora já estava com um sobrepeso, rugas e flacidez da velhice. Espero que Eron não fique igual a ele no futuro.

Erica estava apoiando a mão nas costas, parecia estar exausta, depois de descer subiu as escadinhas da varanda devagar, e me olhou com um sorriso no olhar. Ela era semelhante a Eron, e muito linda, certamente na cidade ela faria sucesso como modelo.

—Ah — resmungou ela — Juro que César será meu ultimo filho.

Dei um riso a olhando. Erica se sentou ao meu lado apoiando a mão no banco e bufando um ar cansado, estava pingando de suor. Os cabelos louros escuros estavam presos para trás, num rabo de cavalo de fios ondulados.

— O trabalho duro sempre sobra para a mulher... Um dia vai ter a sua. — disse ela me olhando — E ocê verá, claro se não a abandonar buchuda como muitos homens fazem.

Eu ri baixinho e ela riu.

— Homens não tem paciência, Neto — acrescentou ela — ocê mesmo não me parece muito paciente... Já as mulheres são pacientes desde o primeiro dia de gestação.

— Eu tento.

— Acha que nós mulheres tentamos? Não, claro que não. No fundo nascemos preparada. Preparadas para tudo, criar os filhos, mesmo que sozinha, por que no final raramente não nos sentiremos assim, sozinhas. — Ela deu uma pausa. — Meu marido era para estar aqui, e a onde ele está me pergunte?

— Onde?

— Onde? — ecoou ela — Não faço a mínima.

Ela riu, em seguida se levantou se esticando até a mesa de salgada próxima da gente e pegou um pedaço de torta.

— Quer? — perguntou ela voltando a se sentar e eu neguei a oferta com a cabeça — Hmm... Você já era amigo de Eron antes? Tipo você me parece familiar.

— Não... Eu não... Eu conheci ele há uns três ou quatro meses atrás.

— Ah... — ela paralisou me encarando.

Eu sabia o que ela estava fazendo. Me analisando, eu tinha medo de descobrirem que Neto era Levi, ainda mais ela que era mais velha, e me via com frequência quando eu era pequeno afinal eu e Eron estudamos e fizemos o primário da escola juntos. Embora não fossemos da mesma turma as vezes eu via Erica indo busca-lo na escolinha. Tentei disfarçar desviando o olhar para qualquer lado, olhei para além da varanda enfeitada.
Será que ela sabia que Tino tinha um filho também?
Tentei não olhar muito para ela.
Logo vi Eron chegando, junto de seu pai, o Barão.

— Hã... Neto? ocê veio! — disse ele me cumprimentando com um aperto de mãos e um abraço sutil.

— Sim! Sim...

— Ele até trouxe um presente ao César — disse Érica — Além de fraudas.

— Hã, foi so uma... Lembrancinha. — Falei enquanto apertava a mão de Barão.

— Pai... ocê trouxe o que pedi? — perguntou Érica.

— Sim, está lá fora com sua mãe, vou ir me lavar, vai lá ver se aquele está bom... — disse Barão que também estava suado e sujo.
Erica saiu, e Barão entrou na casa. Ninguém ainda estava arrumado para o evento exceto algumas pessoas como o senhor Alfredo e alguns convidados que já haviam chegado como eu...e claro, Eron. Estava arrumado na medida do possível, com aquela camisa verde e o chapéu de cowboy. Eron também estava cheiroso, pela primeira vez sentia cheiro de perfume vazar de seus poros.

— Pensei que ocê não ia vir uai.

— E perder a oportunidade de conhecer meu pai... — dei uma pausa após falar bem baixinho — E sua namorada, é claro...

Eron paralisou em minha frente, vi o brilho de seus olhos sumirem e se apagarem, assim como o sorriso desmanchar.

O Garoto de Lugar NenhumOnde histórias criam vida. Descubra agora