Estou em um bloqueio criativo, se é que posso chamá-lo assim. Na verdade, bloqueio existencial serviria melhor.
Ainda sobram em mim diversas ideias, mostrando-me que, mesmo que meu corpo já esteja em decomposição, a poesia ronda-me como um enxame de moscas. Mas não consigo escrever. Nem sei se em algum momento eu consegui, de fato, escrever... Eu não sei por que escrevo...
Acho que a minha mente está apenas em um pesadelo caótico e violento. Diferente das outras vezes, não posso colher fragmentos dela. Se eu realmente tentasse fazer isso, sem dúvida eu sairia com muitos ferimentos irreparáveis. Manter o status atual e o entorpecimento não é tão ruim. Ser apenas mais um ser patético que chora estrume não parece-me tão desprezível para mim mesmo, como era antes.
Por vezes leio meus poemas, e não sei realmente o que sinto fazendo isso, nem consigo relembrar do que fez-me escrevê-los. Acho que as minhas criações tornam-se vazias depois que crio-as. Enxergo-as como escritos malditos, tão lamentáveis por existirem por causa de um ser tão lastimável.
Apesar do que parece, não sofro de autopiedade, tampouco de autodesprezo. Não encontro-me capaz de sentir sequer uma emoção por mim mesmo.
Recentemente peguei-me numa conversa comigo mesmo. Acho que o tema era sobre o "eu". Infelizmente sou incapaz de lembrar dela, mas não é irônico que eu fale sobre "eu" com um reflexo da minha consciência?
Talvez nesse momento eu esteja fazendo a mesma coisa. Estou tentando olhar para o meu reflexo distorcido por estar desesperado para querer escrever algo na esperança de sentir-me menos vazio. No fim, acho que não estou totalmente vazio, quando em mim há um teatro com um show tragicômico que causa-me desconforto e um leve desespero com risco de progredir para além de mim. Isso assombra-me, mas deixa-me ansioso para descobrir mais sobre o que eu sou.
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Retrato de um Poeta Maldito
Poetry"A tolice, o pecado, o logro, a mesquinhez Habitam nosso espírito e o corpo viciam, E adoráveis remorsos sempre nos saciam, Como o mendigo exibe a sua sordidez." Charles Baudelaire. Reunião de textos e poemas de um poeta que renega sua própria po...