O nascimento de um anjo talvez seja a coisa mais excepcional que sequer poderia existir. Entretanto, aqui, no navio do futuro ancorado no passado, encontro-me lamentando a morte de um.
A superfície do mar reflete o que poderia ser algo que ocorreu-me, ou talvez o que está por vir, mas que não sei distinguir.
O anjo que morreu pode nunca ter existido, tampouco sei por que sofro tanto pelo seu falecimento. O que sei é da sensação e da certeza que forçam a permanência no meu coração, sem sequer ter tido um prelúdio.
O convés a ecoar o canto caótico das aves a planar acima de minha cabeça e a tremular pela ferocidade das memórias distorcidas e perdidas entre uma ampulheta de ossos e sangue. Tudo soa tão abstrato que sou incapaz de sentir a minha própria existência, a não ser as cinzas que começam a agitar-se a cada vez que o sol tenta penetrar as sombras profundas de lugar nenhum.
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Retrato de um Poeta Maldito
Puisi"A tolice, o pecado, o logro, a mesquinhez Habitam nosso espírito e o corpo viciam, E adoráveis remorsos sempre nos saciam, Como o mendigo exibe a sua sordidez." Charles Baudelaire. Reunião de textos e poemas de um poeta que renega sua própria po...