O Anjo Esquecido

11 0 0
                                    

  O nascimento de um anjo talvez seja a coisa mais excepcional que sequer poderia existir. Entretanto, aqui, no navio do futuro ancorado no passado, encontro-me lamentando a morte de um.
  A superfície do mar reflete o que poderia ser algo que ocorreu-me, ou talvez o que está por vir, mas que não sei distinguir.
  O anjo que morreu pode nunca ter existido, tampouco sei por que sofro tanto pelo seu falecimento. O que sei é da sensação e da certeza que forçam a permanência no meu coração, sem sequer ter tido um prelúdio.
  O convés a ecoar o canto caótico das aves a planar acima de minha cabeça e a tremular pela ferocidade das memórias distorcidas e perdidas entre uma ampulheta de ossos e sangue. Tudo soa tão abstrato que sou incapaz de sentir a minha própria existência, a não ser as cinzas que começam a agitar-se a cada vez que o sol tenta penetrar as sombras profundas de lugar nenhum.

Retrato de um Poeta MalditoOnde histórias criam vida. Descubra agora