Capitulo dois

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Xie Lian acordou em um pulo, sentando-se de supetão na cama macia e rapidamente procurando por seu primo entre as cobertas, suspirando aliviado ao notar que o mais novo ainda dormia tranquilamente. Seu corpo todo tremia com as memórias ainda tão recentes do sonho que acabara de ter. Então no mais puro instinto protetor ele puxou seu primo para seus braços, abraçando-o com força enquanto afundava seu nariz nos cabelos de Qi Rong que possuíam um tom peculiar de oliva - ele mesmo havia pintado para seu primo.

Mesmo após seis meses sob a proteção de Pei Ming ele ainda não era capaz de se sentir seguro ao dormir. Havia um ponto irritante e escuro em seu cérebro que insistia em o manter alerta e, caso não o fizesse, ele lhe enchia com esses pesadelos horrendos sobre um passado que ele desejava apenas esquecer.

E ele não achava que era diferente com Qi Rong, afinal, ambos possuíam quartos individuais na famigerada Mansão Paraíso e mesmo assim seu primo insistia em dormir na mesma cama que ele, duvidava que ele havia sequer tocado nas cobertas do próprio quarto nesse tempo em que estavam aqui. Na verdade o mais velho não achava ruim, assim poderia ter total controle sobre o sono de Qi Rong, poderia ter certeza de que nunca mais alguém o incomodaria em seu sono.

Ao sentir que sua respiração estava mais controlada, ele finalmente deitou o jovem novamente na cama o cobrindo para que não sentisse frio. Suas mãos ainda tremiam e ele suava frio, mas estava tudo bem... eles estavam seguros agora. Isso logo passaria. Desviando seu olhar da expressão tranquila de seu primo ele observou o relógio digital sobre a mesa de cabeceira. Três da manhã, como todos os outros dias.

Ele suspirou e começou a repetir o sutra de ética em sua cabeça, assim como sua mãe sempre o pedia para fazer quando ele ficava nervoso com algo. Funcionou dessa vez, mas ele sabia que não iria conseguir voltar a dormir tão cedo, não quando a lembrança daquela porra de máscara ainda estava tão fresca em sua memória. Não querendo mais se aprofundar em pensamentos, ele lentamente escorregou para fora da cama, sentindo o vento frio do outono bater em suas pernas desnudas pelo costume de dormir apenas com a roupa íntima e uma camiseta grande - ou até mesmo uma camisola, como muitas vezes foi obrigado a fazer. Mas ele realmente não se importava muito com esse ponto na verdade, até gostava, não quando era obrigado, obviamente.

Pé por pé ele se esgueirou lentamente para o corredor, visando não acordar seu priminho que parecia estar tendo um dos melhores sonos em muito tempo. Ele caminhou descalço calmamente por todo o corredor extenso que possuía diversos quartos, descendo a escada escura com cuidado para não fazer muito barulho e acabar acordando alguém daquele pavilhão.

Xie Lian já estava desacostumado a morar em casas tão grandes assim, mas sua memória sempre fora boa então nem mesmo no começo ele teve problemas se perdendo pelos cômodos, pelo contrário, Xie Lian sabia muito bem onde exatamente estava cada cômodo daquele enorme local, poderia andar ali de olhos fechados e ainda assim não seria capaz de se perder pelo labirinto que era aquele lugar.

Enquanto andava em direção à cozinha ele continuava murmurando o sutra e com movimentos rápidos ele prendeu seus cabelos em um coque frouxo sobre a cabeça, com fios despontando por todos os lados. Suas mãos foram rápidas ao tatear o pescoço e arrumar as faixas brancas que estavam dispostas ali, tendo certeza de que estariam escondendo o que deveriam esconder.

Em pouquíssimo tempo ele já estava na cozinha, o que não era surpreendente. Também não era surpreendente aqueles cinco estarem sentados à mesa jogando RPG de mesa, às três da manhã. Na verdade, na maioria dos dias em que ele levantava de madrugada para beber água eles estavam ali, já não fazia mais tanta diferença.

Mas ele mentiria se dissesse que não se sentia nem um pouco acuado toda vez que entrava no ambiente e os quatro pares e meio de olhos se viravam para ele. Nas primeiras vezes em que se esbarraram por ali, Xie Lian teve um deslumbre de muitos sentimentos nos cinco rostos: dúvidas, desconfianças, alerta, preocupação, vergonha pela sua falta de roupa, e por aí vai. Mas agora, quando eles notavam ser apenas Xie Lian perambulando como um zombie pela casa, eles apenas o cumprimentavam e tornavam aos seus afazeres, não ligavam mais para suas vestes ou para o horário, apenas seguiam o roteiro.

vermelho como o amor, amarelo como a vingança.Onde histórias criam vida. Descubra agora