Capítulo 1 | Dia Normal
O céu escuro e o clima frio era o que indicava que o hoje não teria nada de especial. A chuva continuava a cair como todo dia fazia, Dona Cármen continuava a falar sobre regras da gramática como todas as quintas, e eu? Continuava encarando a janela.
— Daysa? Está prestando atenção?
Virei lentamente a cabeça em sua direção, tirei o cabelo escuro de meu rosto e assenti levemente. Ela apenas suspirou e voltou a falar como se estivesse dando uma palestra, às vezes, gritava para calar a turma de adolescentes rebeldes que pouco se importavam se 'visto que' era uma 'conjunção subordinada adverbial casual'.
O sinal tocou. Eu saí da sala e segui para a biblioteca em busca de um lugar calmo, onde não seria incomodada por falsos amigos procurando ajuda com tarefas de casa. Já estavam todos expulsos daquele lugar por fazerem barulho demais. Uma coisa boa, pelo menos.
Ao chegar, sentei-me em um dos cantos mais afastados da porta de entrada, peguei um livro qualquer e comecei a ler. Eu estava calma, lendo e aproveitando cada segundo daquele prazer imensurável que eu estava sentindo até um ser, que eu tranquilamente amaldiçoaria até a décima geração, chegou para me atormentar.
— Daysa? Aqui de novo?
Ah! Era só ela.
— Presidente! Oi!
Fingi animação ao vê-la e, obviamente, ela percebeu. Jogou seus longos cabelos negros para trás e serrou os olhos âmbares para mim enquanto apoiava as mãos sobre seus quadris.
— Preciso que venha comigo. Agora.
Fechei o livro, guardei-o e segui a presidente da sala em direção a diretoria. Fui calada, apenas observando a chuva enquanto pensava se eu receberia alguma outra advertência por não prestar atenção na aula.
Quando chegamos, ela abriu a porta para mim e, depois que entrei, veio atrás, resmungando palavras que eu não conseguia compreender.
Na sala, a senhora de cabelos grisalhos mexia em uma pilha de papéis em seu armário, quando nos viu chegar, sentou-se na mesa que estava frente a nós, ajeitou seus óculos de armação dourada e suspirou.
— Daysa.
Disse apenas, eu sabia estar prestes a receber um sermão sobre a importância de estar atenta a aula, sobre como, mesmo que eu não gostasse, a gramática era importante para a vida, e que se eu fizesse aquilo mais uma vez levaria outra advertência.
Mas, quem disse que eu ligava?
Tanta coisa útil para aprender, e eles querem ensinar a diferença entre trás e traz para crianças de 15 anos que, nessa idade, só querem se envolver fisicamente com pessoas da escola que mal conhecem e não tem a mínima noção do que fazem com seus corpos.
Pelo menos aqui, no Colégio Sáfira, era assim.
— Sabe, Daysa. Já é a décima vez que você é chamada aqui por não prestar atenção nas aulas de gramática. Não só nela, como em arte, história e geografia também. — Cíntia ajeitou seus óculos
— Eu sei.
— Olha, eu adoraria passar as próximas duas horas lhe ensinando a importância dos estudos, mas tenho uma tarefa diferente para você.
Ela chamou alguém que estava na sala ao lado. Era um garoto. Devia ter a minha idade ou um pouco mais, veio andando a passos lentos e cuidadosos, como se estivesse acabado de aprender a andar e não quisesse cair em algum buraco inexistente.
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Amor e Corvos
FantasyPara Daysa, uma adolescente de 15 anos que já não liga tanto para as coisas, criar um laço afetivo com alguém que não fosse as poucas pessoas que ela já conhecia parecia uma missão impossível. Ainda mais quando a cidade onde mora é habitada por pes...