Capítulo 2

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Capítulo 2 | Ligação


A caminho da escola, podia contemplar o céu mais escuro que o normal. As nuvens estavam mais pesadas, uma indicação que mais tarde haveria mais tempestade. O caminho nunca tinha nada de incomum, eu sempre passava pela Lanchonete dos Sonhos Perdidos e pelo centro comercial antes de chegar na minha escola, nunca havia observado nada além da chuva e as pessoas deprimentes andando ou correndo atrás de cumprir as obrigações da vida adulta.

Hoje, porém, pude notar um movimento estranho de corvos pelas ruas, eles estavam em quase toda parte, apenas crocitando, o que muitas pessoas consideravam mau presságio. Era um barulho quase insuportável, mas o que mais me incomodou, foi o fato de eles parecerem me observar. Alguns seguiam-me de longe, o que fazia as pessoas olharem torto para mim, não que eu me incomodasse. Na verdade, eu não dava a mínima.

Quando cheguei ao portão escola, vi que o número de corvos havia diminuído consideravelmente, alguns ainda atazanavam os alunos que corriam desesperadamente em busca de abrigo nas salas de aula ou nos banheiros. Assim que dei o primeiro passo para dentro do perímetro da escola, todos os corvos voltaram a me observar. Talvez seria um sinal de que eu sofreria algum acidente de carro, iria para o hospital e morreria por falta de atendimento médico ou algo parecido.

Mas para mim, aquilo tudo não passava de mera suposição. A cidade não simpatizava com esses animais desde que, misteriosamente, vários deles assassinaram uma das famílias da cidade, deixando apenas uma sobrevivente que estava fora de casa no momento do "massacre".

A grande maioria dizia ser uma maldição, outros, que a cidade era apenas mais um alvo dos animais que por si só traziam desgraça, opiniões não muito diferentes e, embora eu não acreditasse nisso, não podia negar que sempre que eles vinham alguém morria. Ano passado, durante a última visita dos pássaros, o falecido foi o filho mais novo do prefeito.

Segui em direção ao meu armário como se aqueles pássaros não existissem. Abri-o para pega uns materias, e meu olhar se tornou confuso ao analisar o que havia dentro do meu armário. Peguei-a e observei-a com atenção. Era uma rosa artificial, penso que para que não murchasse, mas tinha um cheiro estranho, como penugem molhada ou algo parecido.

Olhei para os lados a procura da pessoa que havia feito aquilo, mas os alunos continuavam a correr e se esconder dos corvos. Não havia nenhum sinal de quem poderia ter posto aquilo em meu armário. Tudo que sei sobre essa pessoa é que, com certeza, não devia ter mais que dois miolos no lugar do cérebro. Peguei o que fui pegar, deixei a rosa ali e fui para a sala de aula.

As primeiras aulas foram de história, com um professor que ficava me encarando a cada minuto para ver se eu estava prestando atenção. Não é como se eu não prestasse atenção, se eu conseguisse pelo menos ler o que estava nos livros, seria o suficiente para eu tirar uma nota acima de 8. Eu sempre lia durante essas aulas que eu não gostava, o que faziam pensar que eu não estava estudando.

Mas eu não precisei aguentar esse tipo de coisa pelo resto do dia. Nossa diretora nos mandou para casa depois que sua sala fora invadida pelos corvos. Talvez ela que fosse morrer, afinal. Como eu não tinha o que fazer, e também não queria passar a tarde com meu tio, ao sair da escola fui para uma praça qualquer, já que todas estavam vazias não faria muita diferença.

Fiquei sentada em um banco lendo um livro qualquer enquanto esperava as horas passarem e segurava meu guarda-chuva para se caso começasse a chover, sem estar realmente atenta nas palavras do livro, o que era um erro, já que depois eu precisaria voltar e reler todas as páginas. Porém, eu fiquei mais preocupada com o menino que me observava do outro lado da praça.

Não conseguia definir quem era, pois, ele estava muito longe. Eu só sabia que, ou ele era alguém que não ligava para lendas, como eu, ou devia ser novo na cidade, ninguém normal daqui ficaria sentado numa praça cheia de corvos, ainda mais, correndo risco de tempestade.

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