Capítulo 9 | Maldição
Suspirei.
— Pode ser — convidei-o para se sentar em minha cama, o que ele fez sem hesitar. Ele se ajeitou no meio dos lençóis e passou a me observar com mais atenção e curiosidade do que eu já tivesse visto nos olhos de qualquer ser humano.
Suspirei novamente, tentando encontrar uma maneira de dizer a ele para onde estava indo sem dar muitos detalhes, mas parecia muito complicado depois de tanto tempo sem ter uma conversa dessas com ninguém além de Amy ou Dona Yasmim. E o fato de estar fazendo isso com o menino-meio-corvo só tornava as coisas mais complicadas.
A verdade é que não era tão complicado quanto eu pensava. Sempre que Georgie, Julie ou Dona Yasmim me diziam para procurar por alguém que eu pudesse pelo menos chamar de colega, faziam parecer a coisa mais simples do mundo, mas não era exatamente assim que eu me sentia agora.
"É só ir com calma" minha mente sussurrou para mim "Sem pressa"
— Meu pai... — comecei depois de alguns minutos, o garoto focou seu olhar em mim e eu desviei meu olhar para o cobertor cinza sobre meu colo — ... disse que iriamos viajar, para ver minha mãe.
Senti um aperto no peito ao falar dela. Ao levantar os olhos, pude ver Draven com uma expressão mais confusa e curiosa do que estava antes, sua cabeça se inclinou para o lado oposto de onde estava.
— Sua... mãe? Isso não é bom?
— Nós não nos vemos a um tempo — expliquei receosa — Ela mora em outra cidade.
— Entendi — sua cabeça se inclinou levemente — Pelo jeito que você fala, não parece estar muito feliz em revê-la. Estou certo?
Como ele pode chegar a essa conclusão tão rapidamente? Eu estava me esforçando ao máximo para parecer indiferente ao falar qualquer coisa que fosse. No entanto, eu não devia estar escondendo tão bem assim, já que ele deu uma breve risada ao ver meu semblante.
— Me desculpe, foi se querer — ele fechou o sorriso e eu senti um pequeno sentimento estranho no peito
— Tanto faz — voltei a olhar para os cobertores, procurando entender o que era aquela coisa estranha que eu havia sentido
— Sabe, Daysa. — ele chamou minha atenção, desviando o olhar para a janela quando me viu observá-lo — Se você quiser... se se sentir à vontade... sei que pode parecer estranho, mas... — ele olhou para mim e depois voltou a encarar a janela — De-deixa para lá.
Minha curiosidade bateu. O que será que ele iria me dizer? Algo sobre seu passado? Ou algum comentário sobre como era ridículo eu estar me preocupando só por viajar para ver minha mãe?
— O que foi? — perguntei, tentando não soar tão curiosa quanto realmente estava
— Eu só ia dizer que... — ele voltou a me olhar — Que... que você pode me contar... sabe? O que está te incomodando... se isso fosse... te... ajudar...
Estreitei os olhos. Como assim?
— E-eu sei que é estranho! Vindo de um ser como eu. Mas... talvez... se você conversasse sobre isso com alguém, se sentiria melhor — nós nos encaramos por um tempo, pude ver seu rosto ficar levemente vermelho — Di-digo, eu... consigo ver que você não se sente bem ao falar de sua mãe.
Não pude evitar minha expressão confusa. Minha mente percorreu vários lugares a procura de entender como ele sabia disso, sendo que eu não dera a entender o que sentia em relação a minha mãe.
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Amor e Corvos
FantasyPara Daysa, uma adolescente de 15 anos que já não liga tanto para as coisas, criar um laço afetivo com alguém que não fosse as poucas pessoas que ela já conhecia parecia uma missão impossível. Ainda mais quando a cidade onde mora é habitada por pes...