Capítulo 5 | Dupla
— O que você está fazendo? — perguntou
— Atividades.
Ele permaneceu calado por alguns minutos. Sem que eu percebesse ele veio até mim, ficando tão próximo a ponto de eu conseguir sentir sua respiração gelada em meu pescoço. Ele analisava as questões respondidas em meu caderno com certa curiosidade.
— Você é bem inteligente, não é?
— Acho que sim.
Ele continuou a me observar enquanto eu fazia as atividades, às vezes comentava algo que ele havia reparado sobre mim ou sobre alguma outra coisa aleatória que eu não fazia o mínimo esforço para tentar compreender o que era.
Eram cerca de 2:30 da madrugada quando eu consegui terminar todas as atividades, meus dedos e pulsos doíam tanto que pareciam que iriam cair a qualquer momento, meus olhos estavam murchos, pareciam uma fruta que passou do prazo de validade.
— Você parece cansada.
— É mesmo? — bocejei enquanto enfiava todos os livros e cadernos dentro da minha mochila.
— Você está bem?
Soltei outro bocejo fazendo Draven soltar uma leve risada. No memento em que eu iria terminar de guardar minhas coisas, notei as rosas e os bilhetes que recebi no fundo de um dos bolsos, antes que elas fossem esmagadas por meus materiais tirei-as e as coloquei sobre a minha mesa.
Draven pegou uma delas e a analisou. Tinha seu olhar tão fixo nela que parecia estar hipnotizado, e talvez estivesse mesmo, já que ele permaneceu assim mesmo após chamar seu nome umas quinze vezes, e teria continuado se eu não tivesse lhe dado um tapa leve em seu rosto.
— Ahm? Ah! O que foi?
— Me devolva, por favor.
Ele me entregou a rosa ainda com seu olhar fixo nela. Joguei-a com a outra em uma gaveta vazia da minha escrivaninha e depois me joguei na cama, abrindo os braços e fechando os olhos, aproveitando o conforto da cama para tentar dormir.
Mas aí eu me lembrei de Draven.
— Você vai ficar aqui?
— Eu posso?
Suspirei. Eu não iria dormir e deixá-lo ali em meu quarto me observando sendo que ele poderia facilmente sair de meu quarto e roubar algo em minha casa, talvez ele até mesmo tentasse me matar.
— Por que você quer tanto ficar?
O sorriso tímido que ele tinha desapareceu dando lugar a uma expressão triste que quase me fez sentir pena.
— Eu costumo ficar sozinho. Aqui tenho uma companhia.
Cerrei meus olhos. A expressão que Draven fazia nesse momento era como se ele tivesse acabado de ver seu cachorro morrer atropelado por um carro desgovernado. Bem deprimente, eu diria.
Eu conhecia a sensação de ficar sozinha, era como um buraco negro. Fazia tudo em nós e à nossa volta sumir apenas para nós mesmos e, embora as outras coisas ainda permanecessem presentes, eram como se elas tivessem virado pó ou, simplesmente, nunca estivesse estado ali. Diferente de mim, ele não parecia estar acostumado com ela, não importa a quanto tempo estivesse sentindo-a.
Por um instante cheguei a cogitar deixá-lo ficar, talvez a ideia de ter uma companhia diferente animasse a parte aventureira de meu cérebro que estava tentando sair da caixa onde eu a prendi há dois anos.
— E... bem, eu gosto da sua... companhia.
Meus olhos se abriram quase que instantaneamente. Seria mais fácil eu acreditar que ele se sentia sozinho e queria apenas conversar com alguém, porém, dizer que gostava da minha companhia — logo eu, que quase o expulsei do meu quarto e não o tratei com nada mais que indiferença — era algo completamente diferente.
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Amor e Corvos
FantasyPara Daysa, uma adolescente de 15 anos que já não liga tanto para as coisas, criar um laço afetivo com alguém que não fosse as poucas pessoas que ela já conhecia parecia uma missão impossível. Ainda mais quando a cidade onde mora é habitada por pes...