Capítulo 2

137 28 50
                                    

Namjoon estava sozinho em um restaurante lotado. O happy hour tinha começado há pouco tempo. Estava com aquela sensação de quando alguém é deixado sem ninguém para conversar em um ambiente que todos parecem se conhecer. O garçom já tinha perguntado duas vezes se ele gostaria de algo e, por isso, estava bebendo seu segundo chopp. Xingava Hoseok mentalmente por ter deixado ele tomar aquela decisão. Em que momento achou que seria uma boa ideia encontrar Seokjin?

Balançava a perna sem conseguir se controlar. Estava inquieto. Quem quer que passasse por ele podia notar aquilo em segundos. Será que alguém estava percebendo aquela situação? Será que tinha alguém tirando uma foto sua para postar uma legenda filosófica nas redes sociais? Tentava encontrar qualquer sinal de que alguém estava lhe encarando e não percebeu quando um homem alto parou na sua frente.

Era Seokjin, obviamente. Não tinha como esquecer aquele rosto. Namjoon tinha um certo preconceito com astrólogos. Acreditava que tudo era um grande charlatanismo e não tinha quem lhe convencesse do contrário. Por isso, tinha criado a própria imagem de um astrólogo na sua mente: seria aquele típico estereótipo de um homem, hétero e rico de esquerda. Aquele que anda em lugares forçadamente diferentes, onde uma cerveja custa dez reais. Aquele que não transa com alguém, tem uma conexão de almas. Era o que traía a namorada defendendo uma força maior. Mas, quando encarou Seokjin, aquela figura parecia bem diferente do que imaginava.

- Namjoon? - perguntou, com um sorriso no rosto que destacava o formato impecável de seu nariz. Existia alguém com tão pouco defeito? - Sou Seokjin, conversamos no Tinder. Posso sentar?

Aquele encontro tinha sido marcado para que os dois se conhecessem. Era evidente que ele podia sentar na cadeira vazia. Esse era todo o objetivo. Mas Namjoon apreciou a educação dele.

- Hm, sou Namjoon. Prazer em conhecer você.

O que se fala depois daqui? O que alguém tão bonito tem para conversar?

Namjoon tinha perdido toda a capacidade de pensar. Encarava as feições de Seokjin sem conseguir disfarçar. Seus olhos eram grandes e arredondados. Os lábios eram dignos de inveja por qualquer pessoa que quisesse fazer preenchimento labial - mas, ali, era natural. Será que ele fez rinoplastia em algum momento? O cabelo era preto e suas franjas cobriam sua testa até as sobrancelhas.

- É a primeira vez que venho aqui - disse, enquanto olhava para os lados à procura de um garçom. - Quem está atendendo nossa mesa?

- Não consigo lembrar o nome dele - agora Seokjin com certeza achava que Namjoon era esnobe por não recordar o nome do garçom que estava lhe servindo. - Mas é aquele ali - apontou para o homem que parecia minimamente semelhante ao que tinha lhe entregado dois chopps.

Seokjin pediu uma capirinha.

Depois, veio o silêncio.

Ele observava Namjoon, e Namjoon fazia o mesmo, sem ter ideia de como proceder depois dali. Ele costumava conversar de maneira adequada em primeiros encontros. Bastava falar de amenidades, perguntar sobre o trabalho e outros interesses. Tinha que tentar fazer alguma coisa, mas a beleza de Seokjin lhe deixava sem reação.

- Então, você é mesmo astrólogo?

Puta que pariu. Se Seokjin não achou que Namjoon estava sendo esnobe por esquecer o nome do garçom, pensava isso agora. O outro levantou uma das sobrancelhas antes de responder.

- Você me parece o tipo de pessoa que não acredita em astrologia - ele não falou aquilo com rancor na voz. Parecia estar acostumado a ouvir aquilo. - Você acha que ser um pastor é uma vocação válida?

- Depende - suspirou. Não começa com seus pontos de vista polêmicos, pelo amor de Deus. Mas o que pensava era mais forte que ele. - Depende de que igreja estamos falando. Se falarmos em um contexto geral, então, sim, ser pastor é uma vocação válida. Mas a gente não pode fechar os olhos para as milhares de igrejas que têm como único objetivo roubar dinheiro dos fiéis. Muitos deles têm pouquíssimo dinheiro e doam para a igreja jurando que estão fazendo algo pelo bem maior quando, na verdade, só estão contribuindo para a concentração de renda e desvio de dinheiro. E ainda teríamos que falar de outra coisa, que é a bancada evangélica...

Um lugar onde exista nós doisOnde histórias criam vida. Descubra agora