Capítulo 15

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363 dias.

Essa era a quantidade de dias que havia passado desde que Namjoon descobriu que Hoseok estava no hospital e que tinha acordado.

Sempre que Namjoon acordava, a primeira coisa que ele fazia era anotar em que dia estava.

As primeiras semanas tinham sido terríveis. Namjoon não saiu do quarto nem para fazer as necessidades mais básicas. Tomou banho depois de uma semana inteira preso dentro do quarto, porque Seokjin foi para sua casa e lhe puxou pelo braço até o banheiro. Seus pais levavam comida para ele dentro do quarto, e ele passava os dias no escuro. Quando viu a luz do sol pela primeira vez em duas semanas, sentiu uma dor de cabeça tão forte que precisou voltar para o quarto e dormir. Ele se sentia um fardo, porque sabia que Seokjin e Taehyung não queriam ficar seus sábados inteiros dentro de um quarto escuro, mas, mesmo assim, os dois apareciam. Às vezes, nem sequer falavam algo. Ficavam somente ali, observando enquanto Namjoon definhava em seu quarto.

Ele não queria sair, porque tudo lembrava Hoseok. Até mesmo ficar sozinho lhe lembrava de Hoseok, porque, se fosse em dias normais, seu melhor amigo estaria ali.

O dia em que conseguiu sair do quarto pela primeira vez foi o dia em que Seokjin apareceu em sua casa com uma mensagem de Jungkook. Jungkook estava falando regularmente com Seokjin e Taehyung. Aparentemente, ficaram muito amigos. E Jungkook enviou um vídeo em que Hoseok andava pela primeira vez sem usar muletas. Foi a coisa mais linda que Namjoon já tinha visto na sua vida.

Ele podia, sim, falar com Jungkook. Nada lhe impedia. Mas tinha medo de entrar em contato e descobrir que sua vida nunca mais seria a mesma. Tinha pânico de saber que Hoseok não precisava dele e que todos tinham seguido em frente. Só Namjoon teria ficado para trás. Ele queria que sua realidade mudasse, mas não tanto ao ponto de perder Hoseok. Por isso, seu celular tinha descarregado em algum momento e ele nunca mais se deu o trabalho de procurar por um carregador. Achava mais cômodo permanecer incomunicável.

Mas aquele vídeo mudou tudo.

Em poucos segundos de gravação, dava para ver que Hoseok estava em casa e, depois de passar algum tempo segurando a mão do fisioterapeuta, ele se soltou por completo e deu alguns passos para frente. Primeiro, o pé direito. Depois, parou. Em seguida, o pé esquerdo. Fez aquilo cinco vezes antes de se sentar no sofá. A família de Hoseok chorava, Jungkook chorava, até o fisioterapeuta deixou algumas lágrimas caírem. Mas Hoseok ria, com todos os seus dentes aparecendo. Estava feliz, bem. Mesmo sem Namjoon, Hoseok estava seguindo em frente.

Aquilo bastou.

Depois desse dia, Namjoon tomou o primeiro passo para mudar: ele ligou para sua psicóloga. Tinha que voltar para a terapia e, provavelmente, tomar remédio. Ele faria aquilo agora que não corria o perigo de deixar de ver Hoseok. Faria o que fosse preciso para ficar bem, porque havia feito uma promessa ao melhor amigo. Hoseok podia não lembrar de Namjoon, mas Namjoon lembrava de Hoseok. Aquilo tinha que ser suficiente.

Quando voltou para a psicóloga, a mulher parecia genuinamente preocupada. Talvez, no começo, Namjoon só tivesse se irritado com ela porque vivia uma situação inexplicável. Mas, agora, ele era como qualquer outro homem comum de sua idade. Nada de extraordinário estava acontecendo em sua vida.

Depois de alguns meses, já saía com Taehyung e Seokjin. Os dois únicos que Namjoon ainda se esforçava para manter a amizade. De vez em quando, também conhecia os homens com quem Taehyung e Seokjin estavam saindo, mas eles nunca duravam mais do que algumas semanas. Os dois queriam encontrar um terceiro para relações casuais (Namjoon tinha parado de julgar aquilo fazia algum tempo), mas era difícil acompanhar a dinâmica deles.

Ele começou a reenviar currículos e agradeceu a Deus por nenhum recrutador questionar porque havia passado tanto tempo fora do mercado de trabalho. Não sabia mentir. Mas todos viviam em tempos de crise econômica. Não era incomum que jovens como ele estivessem desempregados.

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