Um lugar onde exista nós dois

Capítulo 14

Namjoon tinha falhado na tentativa de ficar calmo. Depois que saíram do hospital, os três haviam parado em um fast food para comer e voltar para o hotel. Quando chegaram ao quarto, Namjoon começou a chorar. Ele não parou de chorar por horas e horas. Enquanto isso, Taehyung e Seokjin aceitaram a situação em silêncio. Às vezes, os dois faziam piadas pouco engraçadas para melhorar o humor. Outras vezes, eles tentavam convencê-lo a, pelo menos, tomar um banho e deitar na cama. Em nenhum momento deram conselhos inúteis ou pediram para que ficasse bem. E Namjoon era grato por aquilo.

Namjoon não lembrava a hora que tinha conseguido dormir, mas provavelmente já era de madrugada. Ele tinha se enrolado no edredom, deixando somente os olhos inchados e cansados de fora, e chorado até cochilar.

Quando acordou, seus olhos cotinuavam muito inchados. Era impossível disfarçar sua dor, porque suas olheiras estavam o dobro do tamanho, seus olhos estavam baixos e suas bochechas também tinham aumentado. Alguém poderia facilmente ter lhe dado um murro.

Mas ele decidiu ir ao hospital mesmo assim, sem se importar caso alguém notasse o quão destruído estava por dentro.

Agora estava parado na frente do quarto do hospital, com Seokjin e Taehyung logo atrás. Eles tinham combinado que nenhum dos dois entraria até que Namjoon achasse necessário. Eles ficariam ali, do lado de fora, como uma espécie de alento, assim como tinham feito na noite anterior.

A porta estava fechada e, por isso, Namjoon bateu algumas vezes. Quem atendeu foi Jungkook, que estava com o rosto tão cansado quanto o dele. Os pais não estavam ali.

- Onde estão Jongsun e Yumi? - perguntou.

- Eles estão resolvendo coisas com os médicos. Não perguntei direito. Mas é, tipo, sobre fisioterapia e fonoaudiologia e todo esse suporte que Hoseok vai precisar a partir de agora.

- Ele não está falando? - perguntou, preocupado. Seu coração já estava acelerando de novo. - Ele não está andando?

- Andando, não. Hoseok tem que aprender a andar de novo. Imagina não usar os músculos de suas pernas por tantos anos, você precisa reaprender. E falar, bem, ele falou algumas palavras, não todas. Mas está embolando algumas coisas.

Namjoon reuniu toda sua coragem para fazer a próxima pergunta.

- Teve algum dano? No cérebro?

Jungkook balançou a cabeça, negando.

- Não. Não que os médicos saibam. Talvez a gente só descubra mais tarde. Mas, até agora, não - pausou. - É um milagre.

- Ele é um milagre.

Os dois ficaram em silêncio, olhando um para o outro. Reconheciam a dor um do outro, mesmo que não entendessem. Jungkook não tinha ideia da relação de Namjoon com Hoseok para além do acidente de carro. Na cabeça do irmão, Namjoon se sentia somente culpado por tudo que aconteceu. Já Namjoon não conseguia imaginar a dor que Jungkook carregou desde a infância, tendo que, todos os dias, lidar com o fato de que tinha e, ao mesmo tempo, não tinha um irmão.

- Você quer entrar? Talvez seja bom para ele interagir com um estranho.

Um estranho.

Aquela palavra sufocou Namjoon. Sentiu seu corpo se contrair, como se alguém estivesse lhe ameaçando com uma faca e sua primeira reação fosse se proteger.

Um estranho.

Namjoon era um estranho.

Namjoon era um estranho para toda aquela família.

Talvez fosse um estranho até para Hoseok.

Quando entrou no quarto, Jungkook ficou do lado de fora. Talvez quisesse ficar em algum lugar que não lhe lembrasse de toda a tragédia. Talvez quisesse conversar com Seokjin, que reapareceu em um dos momentos mais importantes de sua vida.