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Helena

    Batemos primeiro na porta e a resposta rouca e forte de um homem me fez engolir em seco.

   Tio Willy empurrou a porta com o corpo, revelando o interior do gigantesco quarto do rei. Ele ainda estava em sua armadura, de pé, com os braços segurando o dossel da cama, olhando atento quase seduzido a imagem dos dois bebês recém-nascidos na gigantesca cama.

     A rainha no entanto, estava um "trapo" julgando por tudo que ela passou e teve que aguentar, é mais do que justo que ela possa ter um descanso adequado.  Apenas a vi de soslaio, com seus cabelos esparramados pelo lençol e seus pés descalços. E pela serenidade de sua respiração e sua quietude, finalmente tinha chegado ao final de suas energias e se entregado a um descanso merecido.

     Mas era curioso a maneira como o rei permaneceu olhando os bebês e sua esposa, ele não se importou com quem entrou ou saiu do quarto, não éramos os únicos que trouxemos mais baldes d'água. E quando um pequeno se debateu, tio Willy me cutucou me chamando para ir a fora.

— Shi shi shi..._ O rei sussurrou de um jeito bonitinho para um dos bebês. Com seus olhos verdes brilhando com orgulho e amor, ele deu seu dedo indicador para o bebê segurar. _ Isso, isso... Vamos deixar a mamãe dormir.

    Ri escondido baixinho e segui tio Willy. Eu sei que não são todos os homens que se interessam pela gravidez ou cuidados com seus filhos. Muitos deles nem mesmo se importam se não verem suas esposas durante toda a gravidez, e apenas pegam os filhos homens nos braços quando nascem e os devolvem para a mãe ou para a ama de leite.

   Tio Willy fechou a porta com extremo cuidado, para que qualquer ruído fosse minimizado e não acordasse a rainha. E só então percebi que o castelo estava em um silêncio incomum.

— Tio Willy..._ Sussurrei me agarrando ao seu braço coberto pela armadura. _ Por acaso o rei decretou: que se corte a língua daquele que fizer barulho que vá acordar a rainha?

— Não é preciso que ele ordene com palavras. Todos sabem que o rei é um homem apaixonado por sua esposa e também um pai zeloso para seus filhos. Todos, sem excessão, sabem o que os reserva se fizerem algo que venha prejudicar o descanso da rainha.

— E você como guarda da rainha não deveria ficar na porta? _ perguntei ainda mais curiosa.

— Quando o rei e a rainha se reúnem dentro do quarto, é proibido qualquer um permanecer no corredor.

— Humm..._ arqueio as duas sobrancelhas. _ Entendi...

— Vá ajudar na cozinha que eu voltarei ao meu trabalho!

    Não tive escolha a não ser soltar seu braço e seguir caminhando pelos corredores. E o suposto duque, onde será que ele se meteu?

Dylan

   Afundo a pá na terra e bato meu pé em sua base para ir mais fundo e jogo a terra para o lado de fora da cova. De baixo da sombra de um salgueiro, onde costumávamos brincar quando era mais novos, foi o lugar que escolhi para enterra-la.

   Limpei o suor da testa junto das lágrimas  e continuei cavando. Ao menos aqui, ela terá um descanso apropriado. Parte disso é minha culpa, eu devia ter feito muito mais do que conversar. Deveria ter sido um irmão mais rígido em sua crianção, nem que para isso, eu tivesse a trancafiado no quarto, e eu ainda teria minha irmã viva.

    Paro de cavar conferindo o fundo buraco. Saio da cova e paro olhando para o seu vestido preferido que pedi uma das criadas para vestir nela. Mais lágrimas vem ao meus olhos e os ergo para cima, onde os raios de sol atravessavam pela copa do salgueiro. Com cuidado tomei Catarina em meus braços e a levei para a cova.

   A dor de enterre-la me parte em centenas de pedaços, e ninguém mais pode realizar tal tarefa. Restando apenas a mim, a responsabilidade de dar um enterro digno a minha minha irmã, pois de Hartz a Dazzo, todos estavam torcendo para vê-la em uma gaiola suspensa no ar e apreciar os corvos comendo seus olhos e a carne de sua língua. Todos esperavam por tal vingança do rei aos traidores, assim como Pietro e Friederich receberam.

   Sou grato ao rei por me permitir trazer minha irmã junto com seu sobrenome para casa. Ela será enterrada como uma Bhontor, e não jogada a punição como uma traidora.

    Não darei ouvidos as pragas e baixos xingamentos que lançaram a Catarina por algum tempo, honrando o jesto de clemência de Archie para ela. Catarina recebeu piedade até mesmo em sua morte. Um pescoço quebrado foi melhor do que arrastada pelo cavalo do rei de Hartz a Dazzo.

    Seu carrasco me poupou de ouvir seus gritos agoniantes e dor crua, do que provavelmente seria sua pele sendo esfolada no chão seco.

   Quando joguei o primeiro monte de terra sobre seu corpo, chorei, com os dentes apertados e minha visão nublada. Eu estava sozinho agora, sem quem chamar de família. Eu perdi cada um deles, eu não teria mais as discussões idiotas sobre bailes e vestidos, não ouviria os chiliques das mulheres pela manhã porque o espartilho não estava fechando, ou o silêncio do homem que me criou como pai, enquanto ele olharia através da janela.

   Caí de joelhos, colando minha testa a pá. Estar sozinho, era assustador...

***

Ao adentrar a sala do trono, olho intrigado para o rei segurando um de seus primogênitos. Ele tinha uma feição interessante e eu poderia jurar que vi uma baba escorrendo pela boca.

Bom, o rei parece ser um "pai babão" pelos seus bebês. Faço uma reverencia demorada e coloco meus olhos  na criança em seus braços.

— Agora é decidir qual deles eu serei padrinho...

— Algum problema em ser os dois? _ Archie arqueou a sobrancelha e fiquei surpreso com a sugestão.

Sorri e neguei. Não seria problema nenhum. 

— Será uma honra dupla!_ digo tranquilo e o rei se levanta, mantendo o bebê em seus braços com extremo cuidado como se fosse porcelana fina.

Me estende o bebê, e o olho aflito pela fragilidade do bebê enquanto o tomo com cuidado em meus braços.

— Ele é pesadinho... É um menino saudável.

    Meredith se aproximou sorridente, outra que tinha um brilho intrigante no olhar devido a simples presença dos bebês entre nós, e ela entregou a  pequena aos braços do pai que a ajeitou no peitoral, enquanto segurava sua cabecinha com cuidado e outra sobre as costinhas.

— Esse dia deve ser comemorado, meu rei! Acho que deveria existir um festival todos os anos em comemoração ao aniversário do príncipe e da princesa. _ idealizo olhando para o pequeno príncipe e depois mais de perto para a pequena princesa.

— Isso me parece bom. O que acha Nicolas?_ Archie encarou Nicolas ladino, parecendo ter se agradado da pequena sugestão.

— Nós teremos justas ? _ Nicolas perguntou e o rei concordou gostando da ideia.

— E um baile! _ idealizo e Archie  concordou sorrindo para sua princesa.

    É claro que ele daria um baile em nome de seus filhos. O reino poderia esperar festividades nunca vistas antes em Dazzo.

   O rei acena para Meredith que pega o bebê de meus braços. Me sinto aliviado por não ter o deixado cair ou coisa do tipo, mas também ja sentia falta.

— Você o fez?_ Archie perguntou sério e baixo, me encarando com seriedade dentro dos olhos.

— Sim, meu rei. O fiz!

— Bom!

Ele maneou a cabeça e se retirou, no meio do caminho o vi dar leves tapinhas nas costinhas de Dara e ela gofar vômito branco no ombro do pai que nem mesmo se deu conta.

— Eca... _ Nicolas fez uma cara de nojo e fingiu vômito.

    Ri baixo balançando minha cabeça em negativa. Nicolas sempre irá nos surpreender.

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Nicolas, como sempre, dono dos melhores momentos 😂😂😂 Ja até pensei em um nome pro livro do Nicolas: A sombra de um Rei.

Boa leitura!

❤️

Escolhida Pelo DuqueOnde histórias criam vida. Descubra agora