Capítulo 6 - Conversas

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   Os olhos esmeraldinos e perolados olhavam juntos a mudança do céu ao entardecer. Era possível ouvir o som de gargalhadas em alguns momentos.

   Hinata não podia estar mais feliz por ter conhecido no dia anterior a moça que estava ao seu lado.

   Sakura Uchiha, esposa do General Sasuke Uchiha, era de fato uma mulher elegante e divertida. Participara do seu aniversário como se fossem amigas a anos. Não havia como não gostar da moça de cabelos intrigantemente rosa.

   Estavam sentadas no jardim que existia na parte de trás da mansão Uzumaki, que Hinata só descobrira naquela manhã. A grama baixa, a vista pras montanhas e uma pequena parte da vasta floresta do condado de Konoha eram um deleite.

   Tenten tivera que sair para resolver um problema familiar que surgiram de última hora, por isso infelizmente não estava com elas naquele momento.

   Conversavam sobre tantas coisas, o assunto nunca parecia acabar. A moça de cabelos escuros já conhecia a maioria das histórias de infância que o casal Uchiha vivera com seu marido, não imaginara que aquele homem tão sério poderia ter sido uma criança tão energética. Contara pra nova amiga sobre sua mãe, seu tio e seu primo, suas pessoas favoritas no mundo. Também descobrira que apesar de humilde, a Uchiha tinha como madrinha ninguém menos que a Imperatriz do País do Fogo.

   - Sabe, eu não quero ser indelicada, mas, até a notícia do casamento do Naruto, eu não sabia sobre você. - a mulher não pode deixar de notar o tom quase tímido na voz de Sakura. - Vi sua irmã tantas vezes nos aniversários e chás da tarde, mas você, nunca. Não estava na capital?

   Um suspiro foi ouvido, enquanto as mãos brancas como porcelana começavam a arrancar algumas gramas ao seu redor.

   - Shion e a mãe dela sempre disseram que não seria bom ela aparecer ao lado da meia irmã bastarda. - a mulher ao seu lado espantou-se.

   - Isso é absurdo! - as bochechas vermelhas e um tom levemente mais escuro de verde nos olhos combinados a raiva em sua voz só comprovava o quanto estava irada pela informação - Aquela esnobe dizer uma coisa dessa? Como se alguma de nós realmente gostasse dela. Ora, você é um milhão de vezes melhor que ela.

   Uma gargalhada alta e forte escapou de seus lábios. A vida toda escutara o quanto a loira era adorada por todos, que todas as jovens da capital queriam ser como ela, era a primeira vez que alguém lhe dizia o contrário. E de complemento, alguém fora de sua família que conhecia ambas achava Hinata boa o suficiente. Se sentia feliz, tanto que as risadas não paravam de vir, e em pouco tempo, as duas estavam deitadas na grama tendo uma verdadeira crise de risos.

   - Mas, Hinata, seu pai esteve de acordo sua vida toda com isso? - depois de recuperar o fôlego, a rosada não pode deixar de perguntar.

   - Papai e a esposa dele, a mãe Mina, tem muitos deveres como membros do conselho do Imperador. - a perolada agora se sentia tão leve, que não mediu a avalanche de informações que simplesmente saíram - Muitas vezes eles passavam dias sem conseguir voltar pra mansão Hyūga, então não tinha como eles saberem tudo que acontecia, entende? - vendo a mulher ao seu lado acenar de leve com a cabeça, ela deu continuidade - Eles sempre me pediam pra ir nos eventos que Shion comparecia. Mas a senhora Kimi sempre dizia que me colocaria para dormir no porão de novo se eu fosse, ou que faria algo pra prejudicar minha mãe. - enquanto ouvia isso, os olhos verdes se arregalaram levemente - Eu não queria trazer mais problemas, minha mãe já tem muitos desde que nasci. Já não basta quantas vezes humilharam ela por simples diversão, ou quantas vezes ouvi ela chorando por por sentir culpada pelo que faziam comigo. Por ela eu ficaria em casa, e dormiria no chão do porão quantas vezes fossem necessárias. Até porque essas nem foram as piores coisas que me fizeram.

   Sakura não sabia o que dizer. A mulher a sua frente, de aparência tão delicada, falava de forma tão simples algo tão triste. E por mais que quisesse perguntar o que mais a moça havia sofrido, ela possuía medo do que descobriria.

   Abraçando a mulher a sua frente, os olhos esmeraldinos fitaram a figura de seu marido aparecendo na porta, prestes a lhe chamar.


*------*


   Konohamaru sentia seu peito queimar, acabara de se esconder as pressas na biblioteca. Os olhos ardiam, e um nó se formava em sua garganta.

   Maldita fosse a hora que resolvera ir em direção ao jardim dos fundos para treinar. Maldita fosse a hora que ouvira aquela conversa.

   Sua cabeça dava um nó, e aquelas palavras corriam bagunçando seus pensamentos. Uma memória também ficava voltando a sua mente.

   Era por isso que ela era tão polida, que ela entrara em pânico quando ele surtara com ela, que ela pedia desculpas por tudo e aceitava tudo com um sorriso no rosto.

   Lágrimas quentes começaram a cair livres. O mundo parecia estar lhe pregando uma peça.

   Sentia-se péssimo. Tão cego quanto ao próprio passado que descontara em alguém que não merecia. Como poderia ele tornar-se o que Naruto esperava dele, quando não podia ver coisas simples que estavam à sua frente?

   Secando as lágrimas de forma brusca ele decidiu naquele momento que, a partir de agora, ele faria de tudo para não errar daquela forma de novo. E sentindo-se indigno de estar na presença de Hinata, ele prometeu pra si mesmo que faria de tudo para protegê-la.


*------*


   Naruto andava inquieto em seu quarto. Tivera uma longa conversa com Sasuke durante a tarde. Uma conversa sobre a nova Uzumaki.

   Ele contara pro amigo a grande dificuldade que estava passando. E o amigo lhe aconselhara a se aproximar da mulher. Ora, ele pede conselhos de como afastá-la dele, e o homem lhe diz isso?

   Não sabia quem estava pior em lhe ajudar, o Uchiha ou o Nara. Duas das pessoas que ele achou que mais iriam lhe compreender.

   Sasuke ainda fez questão de lhe dizer que estava sendo injusto com a mulher. E que ele deveria ter arrumado um quarto mais decente a ela, não um de hóspedes.

   Bufando, sentou-se na cama. Ele já sabia de tudo que o outro lhe dissera!

   Se ele dissesse que não estava crescendo uma vontade de a trazer para mais perto, ele estaria mentindo.

   Mas ele prometera pro seu irmãozinho que não deixaria isso acontecer. E por mais que o menino parecesse estar se acostumando um pouco com a presença dela, não voltaria atrás com sua palavra. Prometera uma vez que faria de tudo para protegê-lo, e cumpriria sua promessa, não importava o quanto seu coração doesse.

   Só conseguia imaginar o quanto seria bom, se por um acaso seu irmão dissesse que estaria tudo bem em manter Hinata em suas vidas. Principalmente quando lembrava-se do olhar emocionado da mesma no dia anterior, ou da risada que parecia mais como música para seus ouvidos.

   Talvez estivesse louco, como poderia, alguém quebrar suas barreiras em tão pouco tempo? Ele não sabia, mas bastava olhar no fundo das duas luas que ela possuía nos olhos que ele se esquecia do mundo ao redor.

   Como queria que seus pais estivessem vivos para lhe aconselhar naquele momento.

   Desistindo de ficar dando voltas no quarto, ele deitou-se, pensando que talvez, pelo menos um dos conselhos de seu amigo de infância ele seguiria. A partir de amanhã, colocaria a moça em um quarto na mesma ala do seu, um quarto melhor.

   Afinal, um pequeno agrado não faria mal.
   

  

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