Vizinhas amigáveis

346 42 3
                                    


Eu comprei alguns doces para voltar para casa e me despedi da senhora Anko. Acho que eu não deveria, mas voltei para casa olhando aquele cartão. Sentia meu rosto aquecer de maneira compassiva ao imaginar que poderia mandar uma mensagem para ele. Era um sensação nova, imaginar um homem daquela forma. 

Conforme me aproximava de casa notei algumas senhoras olhando para o meu portão. Aquelas mulheres deviam ter entre 30 e 40 anos no máximo, não apareciam mais velhas que isso. E quando finalmente cheguei ao portão elas mostraram uma grande gama de sorrisos.

- Você é a vizinha nova? - Eu confirmei com a cabeça um tanto quanto tímida.

- Como é jovem, achei que seria uma senhora já que vi tantos kimonos no varal. - Comentou outra, se aproximando para me olhar.

- Calma meninas, ela é nova aqui, temos que ser pacientes. Bem vinda querida! Qual o seu nome?

- Nano Tanaka. É um prazer conhecê-las. - Eu me curvei brevemente. Logo olhei as mulheres e maioria delas estava, ou surpresa ou envergonhada.

Como o clima ficou assim? Eu falei algo errado ou... não pode ser. Elas sabiam quem eu era? Eu nunca usei pseudônimo, pois imaginava estar segura na cidade onde eu morava. Mas aqui era Tóquio. E eu tinha vendido 500 mil cópias do meu último romance. Encarei elas com o sorriso mais calmo e gentil que eu poderia.

- Você é a famosa escritora de romances edo? Na nossa vizinhança? - Disse um mulher de uns 20 anos e cabelos pretos. Ela tinha um bebê no colo. Eu confirmei com a cabeça, para respondê-la.

- Nosso bairro finalmente ficou bem frequentado! - Comemorou outra, o que me fez rir um pouco. Talvez de nervoso. 

- Eu li todos os seus romances, eles são MARAVILHOSOS. - Disse a mais velha delas com um olhar de quem ia se derreter em lágrimas.

Era estranho como aquelas figuras, com seus filhos, famílias criadas e tantas responsabilidades, paravam para ler um romance como o meu. Me dava certa sensação de acolhimento, imaginar elas em suas tardes frias, depois de colocarem seus bebês para dormir, prepararem um café e sentarem em seus sofás para lerem um capitulo.

Eu as convidei para entrar de maneira educada, tentando arranjar espaço para todas e oferecer os mochis que havia comprado na loja de Anko. Devido as visitas inesperadas eu teria que voltar lá amanhã e comprar mais mochi. Será que Nanami estaria lá? Por que será que queria vê-lo tão depressa?

Enquanto eu ria do meu lado, talvez, meloso. As mulheres conversavam na sala sobre o bairro, sobre a cafeteria nova que abriu e sobre outras coisas. Até eu comentar sobre o local que visitei depois da minha chegada.

- Era uma cafeteria tradicional. É bom que eu conheça para descrever melhor nos livros mais antiquados. - Acrescentei brevemente sem notar uma delas com o cartão do senhor Nanami em mãos. Quase me fazendo engasgar de vergonha. 

- Nanami Kento? Quem é...Senhorita? - Eu não sei a expressão que fiz para recuperar meu cartão rapidamente gerando algumas risadas entre as visitas e me deixando envergonhada. Coloquei o cartão sobre o peito, com doçura. 

- Sinto muito, é pessoal. - Comentei brevemente, fazendo todas se interessarem sem eu notar.

- No inicio eu estranhei que uma escritora de romance fosse solteira, mas parece te alguém por quem a senhorita se interessa. - Fala a mais velha das mulheres, bebendo o chá de forma elegante e logo encarando as demais.

- Kento...Kento...Já sei, ele deve morar no pequeno prédio no fim da rua. É um prédio de jovens executivos, aposto que ele vestia um terno, não é senhorita Nano? - Eu confirmei com a cabeça.

- Que fofa, ela se apaixonou por um homem de terno. Tão clássico. - Suspira a que sempre estava com o bebê de colo. 

- Nos conte senhorita, como ele é? - Perguntou a mais velha, tomando seu chá animadamente.

- Ele é loiro, tem um rosto desenhado e olheiras um pouco marcadas. - Eu tentei ser breve, mas logo ouvi os suspiros. Parecia que elas estavam animadas por mim? Não soava tão ruim. Me senti meio mimada em imaginar aquele bando de mulheres adultas felizes por mim. - Ele gosta de doces tradicionais, e parece uma pessoa educada.

Isso arrancou alguns suspiros e risadinhas amigáveis. Não era ruim chamar a atenção daquelas senhoras. Eu passei um tempo as ouvindo falar de família, casa, trabalho. A maioria eram donas de casa, com filhos. Eu admirava muito aquilo, inclusive pude segurar o bebê de uma delas. E ele não assustou, apenas achou meu cabelo muito interessante. 

Os dias se passaram um pouco rápido, mas em uma semana eu ja conhecia todas as senhoras casadas da rua. E era cumprimentada ao entrar ou sair de casa, visitei o café mais algumas vezes, procurando discretamente pelo homem de cabelos loiros. Anko disse que ele não tinha vindo pessoalmente desde aquele dia. 

Tentei não demonstrar certo descontentamento, mas Anko dava suaves risadinhas todas vez que eu entrava e olhava para os lados. O que me levou a cogitar mandar uma mensagem para ele. Não era cortes eu enviar logo que recebia o número, mas já se passou uma semana e eu estou comendo um belo Parfait de pêssegos enquanto Anko fala animadamente sobre a vida de casada.

Eu trouxe uma de minhas vizinhas comigo, a que está sempre com seu bebê. Tinha me tornado próximo da jovem Mahina, que tinha a mesma idade que eu e um bebê de 8 meses chamado Yuki. 

- Mahina, coma um pouco, eu divido minha frutas com Yuki. Ele deve querer um pouco. - Disse estendendo os braços.

- Senhorita Nano gosta tanto assim de crianças? - Perguntou Anko docemente enquanto eu pegava Yuki no colo, ele era uma criança bem obediente. 

- Gosto, crianças são fofas. - Brinquei. O bebê passava a mão pelos desenhos coloridos do meu kimono, que hoje era de gatos. Eu deixei o cabelo em trança, mas o tirei da frente pois não queria que fosse puxado pelas pequenas mãozinhas.

- Yuki se comporta bem com Nano, dei muita sorte de finalmente ter uma vizinha da minha idade. - Riu timidamente Mahina que era uma mulher simples, de cabelos curtos com uma franja delicada. Ela se casou assim que se formou, por isso era a mais jovem da rua. Ela usava um vestido longo, simples e bege. Muito comum para mães japonesas daquela região. Além de uma delicada camisa por baixo.

Eu comecei a dar as frutas devagar para Yuki, observando suas reações. Ele gostou muito do pêssego, embora a cereja e o morango tenham sido reprovados. Como um simples bebê conseguia distrair três mulheres adultas daquela forma?

Mas Anko ficou silenciosa por alguns segundos. Distraindo meus pensamentos brevemente, enquanto matinha meus olhos no bebê. A porta se abriu, eu conseguia ouvir. Senti a fragrância masculina no ar, enquanto me esforçava para não olhar de maneira direta o mesmo e continuar dando pêssegos para Yuki.

- Olá, senhora Anko. - Ele diz inicialmente, e assim que senta na mesa ao lado sinto seus olhos em mim. - Como vai senhorita Nano? 

- Olá, senhor Kento. Eu vou bem, trouxe minha vizinha para conhecer a doceria. Mas acho que o bebê dela apreciou muito mais. - Eu disse, olhando o mesmo. Ajeitando Yuki no colo, que ficou encarando o loiro com curiosidade.

- Você é o rapaz do cartão? - Nessa hora eu tremi olhando Mahina que não notou a gravidade do que falava. Sentindo meu rosto esquentar. - Mora aqui perto?

- Sim, moro. - Ele respondeu simplesmente enquanto eu dava outro pêssego para o bebê, que parecia feliz com tamanha atenção. Mal sabia ele que utilizava isso para não demonstrar meu nervosismo. - Senhora Anko, pode ver alguns MoonCakes? E embrulhe meu favorito para senhorita Nano. Acho que ela vai gostar. 

- O que? - Nessa hora eu o olhei um pouco surpresa, ele fazia um sorriso de quem tinha vencido uma pequena batalha. 


Uma paixão entediante?Onde histórias criam vida. Descubra agora