Capítulo 5

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Gabriela

Acordei bem disposta pela manhã, acho que as risadas que dei com Joice foram suficientes para me fazer ficar bem. Comi um sanduíche e o restante do bolo de cenoura que ela havia feito e liguei para o Lucas pra avisar que ia buscar meu carro.
Tomei banho e vesti um vestido preto simples.

Peguei um Uber até o apartamento dele. Na portaria o porteiro já me conhecia e permitiu que eu subisse direto.

Peguei a chave em baixo do tapete e abri a
porta. O local estava cheirando a perfume
feminino, revirei os olhos, deveria ser o de
Sara.

— Oi? — perguntei, mas não houve resposta. — Ótimo — Adentrei no local e fui até o quarto, a cama estava toda bagunçada, no chão tinha uma calcinha preta e minúscula, que nojento.

Procurei as chaves do meu carro na mesinha de cabeceira onde o Lucas sempre coloca quando pega emprestado, mas não achei. Fui para a cozinha e a vi sobre o balcão. Junto estavam algumas anotações.

Em uma letra gigante tinha números de
telefone e em cima escrito bem grande
"Clinicas de aborto". Meu coração quebrou,
não podia acreditar que Lucas tinha sido
capaz de me deixar um bilhete dizendo que
não queria nosso filho.

Meus joelhos vacilaram e eu caí no chão em
meio às lágrimas. Ele era meu melhor amigo, por que não tinha dito diretamente para mim que não queria o filho? Por que deixar apenas um bilhete jogando isso na minha cara?

Estava chorando e soluçando.

Rasguei o papel ao meio e joguei no chão.
Peguei a chave do meu carro e deixei o
apartamento. Meus olhos estavam embaçados por conta das lágrimas, quase tropecei na porta do elevador.

Respirei fundo tentando me acalmar, não
podia chegar ao trabalho assim. Já dentro do meu carro soquei o volante inúmeras vezes enquanto xingava Lucas.

Ele não queria o filho? Não precisava se
preocupar, pois não o veria. Iria acabar com a preocupação dele, iria me afastar, não queria nunca mais vê-lo na minha frente. E assim seria, pelo bem do meu filho.

Dei partida e segui para a indústria onde
trabalhava. Sequei as lágrimas dos meus
olhos que me impediam de ver às vezes.
Quando estacionei na minha vaga habitual
meu telefone tocou. A música era a que
sempre tocava quando Lucas ligava. Silenciei o celular e limpei meu rosto.

Era muita cara de pau a dele, deve está ligando para saber se eu vou tirar o meu filho, eu nunca podia imaginar isso do Lucas podia esperar de qualquer pessoa menos do Lucas.

Ergui a cabeça enquanto entrava na fábrica. Hoje era dia de supervisionar a produção. Fui até minha sala onde costumava passar a maior parte do tempo e vesti meu macacão branco, necessário para os dias de supervisão.

Meu coração doía ao lembrar do bilhete sobre a o balcão. Mas minha cabeça
dominava o meu corpo e me lembrava de que eu deveria ser racional. Iniciei meu trabalho tentando ignorar minha memória de mais cedo.

Além de deter minha tristeza, tinha que deter meus hormônios, segurar o choro era muito difícil. No meu horário de almoço tranquei a porta da minha sala e chorei tudo que tinha segurado.

A decepção era o que mais me afligia. Pensei em ligar para ele e xinga-lo, mas não tinha nem estômago para isso. Limpei minhas lágrimas e olhei para o salgadinho a minha frente, credo eu não ia comer isso.
Respirei fundo abaixei minha cabeça na mesa e chorei mais um pouco. Quando deu minha hora de ir trabalhar novamente segui com a cabeça erguida.

Fui checar um problema de desperdício no subsolo e enquanto eu descia as escadas, por conta da minha impaciência em esperar aquele elevador que estava demorando demais, meu celular começou a vibrar no meu bolso. Peguei e li escrito o nome do Lucas com um número exagerado de corações depois do nome dele.

Meu melhor erroOnde histórias criam vida. Descubra agora