Epílogo

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Por tempos eu nunca mais soube o que aconteceu com Erikar e com Júlio, e eu tinha tanta coisa para conversar, para perguntar, o interesse sobre meus antepassados poderia ser resolvido com eles.

Meu pai me contou que a Ordem não estava a par da batalha que estávamos travando, ele apenas se comunicou com o Gaspar, já que ele também o avisou quando soube do meu envolvimento vampírico. Quando minha mãe chegou, ela foi logo contatando tudo ao Coven Celtíbero, mas quando chegaram na cena, já havíamos vencido.

E ainda faltava algo a resolver. Jynxon estava na estrada, com seu manto esvoaçando com a tempestade que se aproximava de tanta magia que foi desprendida. Pegamos seu corpo e levamos para traz da casa, improvisamos uma pira entre as pedras e todo o Coven fez uma cerimônia para então incinerá-lo. Parece muita coisa para um inimigo, mas costumamos tratar bem todos os que despertam para a magia.

Os licans que estavam desmaiados, quando acordaram, souberam que a ordem havia sido desfeita, e por misericórdia foram liberados, e nunca mais escutamos histórias sobre eles.

Quando Kadri despertou, e foi atualizado de todo acontecido sentiu um alivio. Os membros do Coven decidiram que ele seria muito útil para ordem, por tantos segredos ancestrais, e magia enoquiana. E alguns meses depois ele foi oficialmente aceito como Kadri Cunha.

Mas sua história conosco não parou por aí, ele se tornou um grande amigo, se mostrando extremamente grato por nosso acolhimento, e também possuíamos uma energia atraente. Eu já estava na idade de me casar, e Kadri veio como um rapaz perfeito, e juntos tivemos um filho, chamado Gilbert Cunha de Campos. Voltamos a viver na cidade do Porto, no grande casarão, os empregados haviam sido tão fiéis, que o lugar continuava intacto, e quando chegamos, fomos recebidos por uma grande festa. Dariana foi eternamente grata por termos salvado a todos dos monstros.

Erikar e Júlio Políion depois que sequestraram Baldric e Ray ficamos por muito tempo sem nenhuma notícia, os tachávamos de ingratos por na verdade, ter entrado nessa confusão toda graças a ele.

Eles invadiram a sede, se apropriaram do lugar, estudaram magia, aprenderam com Baldric e Ray, pois pensavam que seriam soltos em algum momento. Mas só serviram para ser cobaias, Erikar sacrificou sua centelha para transformar Baldric, mas não funcionou, ele surgiu sem seus poderes, acabou sendo morto para recuperar sua centelha. E depois de outros vários testes, chegou à conclusão final com Ray, e esse sim conseguiu ser vampiro e usar magia, era o início de uma nova era de magia vampírica. Erikar fez tudo quanto fez com Ray, mas precisava de um praticante, e foi o próprio recém transformado, ele drenou toda a energia do Ray, mesmo sabendo que tomar a última gota poderia levá-lo a morte.

Erikar se tornou um vampiro capaz de usar magia, e ainda por cima dominando o Ray que se tornou o primeiro vampiro Thaûma, uma linhagem temida de vampiros dominadores de magia. O Júlio nunca foi capaz, e por algumas décadas seguiu seu mestre, mas logo uma nova política chegou, e todos se separam novamente. Erikar veio a se despedir, e me disse que faria como os demais antediluvianos, se esconderia nas montanhas, e que talvez eu nunca mais teria notícias dele.

Em 1330, Portugal passava a adaptar-se no seu processo de independência, alguns povos que ali existiam descendiam dos povos ibéricos que moravam na península muito antes de toda invasão.

Eu, ainda lembrava de meus pais, Jaime de Campos foi um exímio guerreiro, carregava o orgulho de ter um título de nobreza graças a seu avô que serviu a coroa portuguesa. Lembrando de meu pai, emergi em memórias profundas mais ou menos assim:

— Florinha, minha filha, senta aqui. – Meu pai me chamou para contar algumas coisas que ali desconhecia. Tinha por volta dos treze anos. Eu sentei-me próximo a meu pai e escutava atentamente o que ele dizia. – Nossa descendência é muito anterior, vou te contar coisas que sobreviveram pelas histórias, mas seu bisavô Alonso abominava.

Eu não entendia num princípio, já que Jaime tinha muito orgulho de seu avô Alonso.

Jaime olhou para a casa grande, e viu que sua esposa estava na cozinha dando ordens as criadas. Sua esposa era uma Balcãs, esquisita aos povos dali, por uma cultura diferenciada.

— A península onde vivemos era em tempo imemoriáveis habitada por povos originários chamados Ibéricos, que se juntou aos celtas, formando os Celtiberos. – Eu olhava encantada, sempre me a gostado muito escutar histórias, principalmente quando meu avô as contava.

— Então nosso sangue é daqui mesmo pai? – Perguntei com os olhos a brilhar.

Jaime sorriu.

— Esses povos tinham lindos costumes, celebrações, seres encantados. – Jaime falava com cautela, observando a minha reação.

— Seres encantados! – Arregalei os olhos. – Magia? – Perguntei.

— Todos os seres e todas as coisas que existem possuem um espírito vivendo neles. Assim como nós.

— Nossa alma?

— Mais que nossa alma, filha. – Jaime me ergueu e colocou sua mão próxima ao meu umbigo, "aqui vive seu Mana". Então levou a mão até o meu coração e disse, "aqui vive seu Mana Mana". E finalizando levou sua mão até o alto da minha cabeça e disse, "aqui vive o Mana Loa".

— Três espíritos? – Abri a boca.

Eu então me voltei dos devaneios, continuava a viver na mesma casa, meu filho, Gilbert agora tinha três anos, e meu pai cinquenta e sete.

Ao voltar para a casa, entrando na sala de estar, meu pai e minha mãe estavam sentados na sala de reuniões. Ao ver meus semblantes, sabia que algo havia acontecido. Sentou-se rapidamente e perguntou:

— O que está acontecendo?

Meu pai se levantou por um instante, colocou a mão no rosto e virou-se a mim.

— O Coven da Irlanda quase foi dizimado aquela vez, se lembram? Poucos sobreviveram, e eles temem que a inquisição agora chegue a Portugal.

— Quem caiu? – Perguntei atônita, pois havia acontecido tanta coisa e nem parei para me preocupar com isso na época.

Minha mãe então respondeu.

— Foi Alice e quase toda a sua volta, a Sullivan conseguiu escapar, como você viu, ajudando na batalha. – Ela ofegou. – Agora ela está num esconderijo.

Eu levantei, andei em círculos, busquei Gilbert e o trouxe de mãos dadas.

— E nós esperaremos a inquisição?

— Iremos ao Condado de Flandres, vamos compartilhar do esconderijo de Máiréad até que a onda passe um pouco. Temos que nos fortalecer.

E foi assim que os Campos se uniram aos Sullivan e outras bruxas por várias gerações.

Gilbert cresceu e gerou a Clarindo. Ele respeitou a religião, mas não a praticou, a magia não despertou.

Clarindo teve três filhos importantes, Talen de Campos que continuou no Condado de Flandres, Sancho del Campo, que foi a Andaluzia com o Rei San Fernando, sendo um dos 200 cavaleiros de linhagem, capitão dos reis católicos, abominava o que seu pai praticava e por isso foi embora, assim como Martim de Campos que retornou a Portugal como cavaleiro do Dom Alfonso III.

Em 1330 também, Máiréad ao retornar a Irlanda teve filhos e filhas. Por volta de 1560 nasce Megan O' Sullivan, uma bruxa irlandesa que casa com o nobre belga Jorge Van der Borg avô de Felipe Van der Borg que sua descendência parou em Nobres – MT, Brasil.

E foi assim até 23 de maio de 1536 quando o Rei João III instituiu a Inquisição em Portugal. Instituindo um tempo de repulsa e medo por toda a península ibérica.

Obrigando bruxos, bruxas, seres feéricos, anjos, demônios e outras criaturas noturnas a vagarem como ratos em esconderijos, ou atuando como os membros da religião vigente.

Continua...

Flora - O DespertarOnde histórias criam vida. Descubra agora