Raquel

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       Ter a presença da babá ajudou muito a passar pelo período do meu resguardo. Ela não me permitia pegar peso e nem me esforçar de mais. Mesmo sendo uma senhora, cuidava de tudo no meu lugar. E meu filho parecia muito confortável no colo dela. Até a minha alimentação ela vigiou. E graças aos seus cuidados, eu consegui me recuperar bem. A única marca de que estive grávida eram as estrias a mais. Que eu ainda estava tentando eliminar. Mas o meu peso já estava como antes e meu corpo não teve grandes mudanças no geral. Apenas os seios mostravam sinais de que eu agora era mãe. O peso não teria voltado se não fosse os chás que ela preparava para mim. Dizendo que foi passado de geração em geração. Eu gostava do meu corpo antes da gravidez e fiquei feliz em poder recuperar um pouco disso. Apesar de saber que ele nunca mais seria igual. 

         Recebi muitas mensagens da minha mãe, cobrando notícias do neto e pedindo que eu o levasse para eles conhecerem, quando fosse possível. Enviei vários vídeos dele e fotos. Ela se derretia toda pelo netinho. Até meu pai já estava mais conformado em ser avô. Apesar de ser o que mais cobrava que eu contasse ao pai da criança. Minha mãe também perguntava sobre isso. Mas eu não tinha coragem de dizer que o bebê era filho de um homem casado e que ainda por cima... Era o meu chefe! Mesmo dizendo que eu não sabia do seu relacionamento. Eles me cobrariam por não ter pedido demissão assim que eu soube. 

           Como o resguardo havia acabado, era hora de voltar a trabalhar direto na empresa. Então liguei para o meu chefe. Que atendeu logo. Sempre estava grudado no celular. 

           _ Olá. Está tudo bem?

           _ Sim, senhor Leviels. Estou me sentindo bem e pronta para voltar a trabalhar na empresa. 

           _ Ah, que ótima notícia! Hoje eu também estou de home office. Então se puder vir aqui em casa, eu agradeceria. Só por hoje. Amanhã nós dois voltamos para a empresa. 

           _ Tudo bem. Me passe o endereço! 

           Era uma situação constrangedora para mim. Entrar na casa em que ele morava com aquele senhor, depois do que aconteceu entre a gente. Me parecia desrespeitoso. Mas era só trabalho e eu não tinha porque me sentir mal. 

          Olhei para o meu filho, adormecido no meu colo. Após ter mamado. Tinha os ralos fios de cabelo, ruivos como o pai. Também herdou a cor de seus olhos. Mas bebês nem sempre permaneciam com os mesmos traços depois de crescidos. No momento, ele era a cara do pai. 

           _ Fique quietinho com a babá. Eu vou trabalhar com o seu pai. 

          Me arrumei como se estivesse indo para a empresa, peguei meu notebook e a bolsa. 

          _ Qualquer coisa me liga. Eu vou trabalhar fora hoje e como venceu meu resguardo voltarei a empresa. Deixei leite meu que tirei com a bombinha na geladeira. 

          _ Vá tranquila. Eu cuido dele. É para isso que estou aqui. 

          _ Obrigada! 

          Fui para o ponto de ônibus, me lembrando dos constrangimentos que passei por estar grávida e receber os olhares atravessados. Dos que não gostavam de ceder o lugar e dos que me criticavam por não ter uma aliança de casamento. Pior ainda... Dos que simplesmente achavam um absurdo colocar crianças no mundo. Provavelmente por conta do "excesso de população" mundial. Como apregoavam por aí. Na minha opinião... Se Deus estava enviando crianças ao mundo, é porque tinha espaço. Afinal, ele está em um lugar muito mais alto e tem uma visão muito melhor do que nós, meros mortais. Enfim... A decisão de ter um filho ou não, só dizia respeito a mim. Fui me sentar perto da janela, porque gostava de ficar pensando na vida enquanto olhava a paisagem caótica da cidade. 

Is It Love? Carter Corp - Amor e Poder Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora