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Eu estou morando com um fantasma, quando acordo Michael não está mais em casa, quando está ele já está saindo do banho e de saída provavelmente pra sua aula, quando chego pro almoço ele já saiu, quando saio pro trabalho ele está chegando, ele passa o dia sei lá onde, mas também não é da minha conta, as vezes o escuto chegando de madrugada, ele tenta ser silencioso, mas escuto a porta abrindo, mas essa é a realidade, eu mal o vejo, e tudo que encontro são seus rastros de bagunça pela casa, as paredes do banheiro com respingos da tinta que solta do seu cabelo, suas camisetas manchadas jogadas no quarto, os livros espalhados pela sala (inclusive foi dessa forma que descobri que seu curso é literatura, descobri que não sei nada sobre meu companheiro de quarto), eu não consigo nem o ver por tempo o suficiente pra dar uma bronca pela sua bagunça.

- Você não para em casa. - Resmunguei sem tirar os olhos da televisão quando ouvi a porta da frente sendo aberta. Eu tinha idealizado dividir o apartamento com alguém incrível, que seriamos grandes amigos e sairíamos juntos e teríamos uma boa convivência, e tudo o que eu ganhei foi isso, uma assombração, em duas semanas se o vi cinco vezes em casa foi muito.

- Está sentindo minha falta, amor? - Ele disse em tom sarcástico enquanto andava até a cozinha.

- Já falei pra não me chamar assim, e não, definitivamente não, mas suas coisas estão jogadas pelo apartamento inteiro e não sou eu quem vai recolher.

- Quer? - Ele se aproximou com uma garrafa em mãos.

- Não bebo. - Torci o nariz deduzindo que fosse cerveja, o mais longe que vou é uma taça de vinho.

- Sim claro, óbvio que não. - Ele riu quando sentou ao meu lado, se esticando invadindo meu espaço no pequeno sofá.

- Você ouviu o que eu falei?

- Sim Luke, arrumar a casa e recolher minhas coisas, não se preocupe, vou fazer isso daqui a pouco. - Michael se afundou ainda mais no sofá, o olhei por um minuto, ele parecia exausto como quem não dorme a dias, eu teria pena se ele não fosse um arrombado.

- Onde tava? - Ele me olhou sorrindo repentinamente, como se eu tivesse quase que contado uma piada. - Não estou preocupado, só não entendo porque paga por um lugar que quase não usa.

- Não que seja da sua conta, mas eu sou um homem ocupado, trabalho muito, mas é bom ter uma casa pra onde voltar.

- Trabalha com o que? - Eu sei que pode parecer patético, mas eu estou cansado de viver com um fantasma, ainda penso se ele é um assassino planejando minha morte ou não. - Não me olha com essa cara, não sei nada sobre você, é só isso.

- O que quer saber sobre mim?

- O que quiser me contar.

- Eu sou seu futuro marido, minha meta é te pedir em casamento a daqui mais ou menos um ano, eu...

- Você é idiota e não sabe manter um diálogo amigável. - Eu o interrompi.

- E você não tem um pingo de senso de humor. - Eu não pude deixar de revirar os olhos, se ele chama isso de humor... -  Voltando ao que eu dizia, planejo me casar aos vinte e seis, acho que é uma boa ideia, dito isso é óbvio que tenho vinte e cinco, eu curso literatura, mas acho que já notou. - Ele apontou pros livros em cima da mesinha de centro. - O que quer dizer que meus votos de casamento vão ser perfeitos, espero que se esforce também. - Esse papinho idiota está realmente me tirando do sério, mas aparentemente não existe diálogo com ele sem ser agindo feito um humorista de baixa categoria. - Minha cor preferida é azul, provavelmente vai ser a cor da decoração do nosso casamento, eu já tive uma banda na adolescência, como todo bom adolescente rebelde, éramos bons na verdade, eu tenho um irmão, nos damos bem a maior parte do tempo, ou costumávamos nos dar bem a maior parte do tempo, vai ser... interessante quando se conhecerem. Quer saber mais alguma coisa?

- No que trabalha? - Essa é uma informação que pode dizer muito sobre ele, pro caso dele dizer qualquer trabalho no qual ele tenha acesso a qualquer tipo de arma ou formas de ocultar um corpo, eu pego minhas coisas e fujo agora mesmo, porque tenho cada vez mais certeza de que ele é um maluco.

- Depende de qual dia da semana está perguntando. - Ele disse rindo se afundando mais no sofá. - Todos são fixos, mas isso não quer dizer que eu tenha um horário fixo, vamos dizer que sou multifuncional, trabalho em uma rádio local, normalmente dois ou três dias da semana, também como barman em um clube, fora os trabalhos extracurricular da faculdade, sabia que eu quem escrevo pro jornal de lá?

- Falando desse jeito até parece que tem algum neurônio operante. - Quem diria, um homem metido a punk rebelde no auge dos vinte e cinco anos, nada mais é do que um escritor multifuncional incompreendido.

- Não é querendo me gabar, mas eu sou um partidão.

- Sim, por isso está solteiro, não é? - Disse ironicamente o encarando.

- Só estou guardando seu lugar, amor.

- Obrigado, eu passo a vez.

Michael cochilou ao meu lado em poucos minutos, ele estava realmente exausto, e só por isso não insisti pra que levantasse e arrumasse suas coisas, ele tem o final de semana inteiro pra fazer isso, e eu definitivamente gosto mais dele quando ele está de bico fechado.

- Por que não me acordou pra que eu fizesse o que pediu? - Ele ainda estava sonolento quando entrou no quarto duas horas depois, esfregava os olhos como quem tenta acordar de verdade.

- Tem tempo pra fazer isso.

- Na verdade eu estou de saída agora, mas prometo que amanhã eu dou um jeito nas minhas coisas.

Michael se trancou no banheiro e saiu minutos depois limpo, cheiroso e nu, desviei o olhar pro meu celular, mas pude o ouvir rindo. Odeio pessoas com boa autoestima, porque me deixam constrangidas com toda sua autoconfiança e isso faz com que eu me sinta um idiota.

- Pode me dar sua opinião por favor? - Eu voltei a o olhar um tanto relutante com medo dele estar perguntando sobre o tamanho do seu pau,  as ele parecia quase uma pessoa civilizada com sua calça preta preta rotineira, mas com uma camisa social escura com as manhãs dobradas até os cotovelos, sem rasgos ou manchas vale a pena ressaltar, já que suas roupas estão sempre manchadas ou rasgadas.

- Depende, qual a ocasião? Se for pra assistir uma missa vão mandar te exorcizar.

- O oposto, parece apropriado pra um barman?

- É assim que vende drinks? Exibindo o total de dois pelos que cresceram no seu peito? - Eu disse apontando para os botões abertos de sua camisa.

- Também, mas claro que meu adorável carisma também ajuda.

- Nada te abala né?

- Não sei, talvez um beijo seu.

- Não tá atrasado pro trabalho não? - Ele riu mais uma vez se abaixando para amarrar os sapatos, eu tenho a impressão que ele acha graça em me constranger.

- Tenho todo tempo do mundo pra você, amor. - Eu sempre odiei ser chamado dessa forma, até mesmo dentro de relacionamentos, então o ouvir me chamar dessa forma me faz querer chutar suas bolas, e eu só não o fiz ainda em nome da boa convivência.


... Ele se afastou quando me aproximei pra que eu pudesse o ajudar, ele se manteve sentado no chão ao meu lado enquanto eu limpava o estrago dele, suas mãos estavam trêmulas demais pra que ele fizesse isso e não quero outro corte pra respingar sangue no meu chão.


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Oiooooi, já coloquei o trechinho no final do capítulo 1 e 2, agora todos os próximos vão seguir esse padrão.

Thinking of You ** MUKEOnde histórias criam vida. Descubra agora