5. Capítulo Cinco

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Odiava pensar que trabalharia para a família Kim. Mas sabia que aquilo faria uma mudança absurda em nossa vida todinha.

Tinha uma grande lacuna com a família real e a minha família cujo eu adoraria ser capaz de entender, mas tudo era confuso. Eles faziam ser confuso. Por qual motivo em especial haviam tratado meu pai daquele modo? Por qual razão fizeram o que fizeram com ele? Todas essas coisas passavam pela minha cabeça de tantos modos mas nenhuma da forma perfeita para que fosse questionada à minha mãe. Nenhum modo parecia ser adequado, na verdade, nenhum modo era realmente adequado de se falar sobre assunto tão sensível com mamãe; correndo o risco de soar insensível e até talvez inconveniente me parecia mais consciente da minha parte manter silêncio absoluto. Só que toda aquela maldita dúvida poderia muito bem ser esclarecida aos meus pensamentos intranquilos. Tudo poderia ter uma total e absoluta explicação onde eu seria capaz de entender essa bendita história de forma mais fácil de se lidar - mesmo que fosse impossível que eu acreditasse em uma façanha tão absoluta quanto essa.
Suspirei, no final as coisas deveriam acabar da mesma forma que sempre acabou, eu sem saber sobre como tudo realmente aconteceu, mamãe triste mas tendo a necessidade de aceitar aquele trabalho com a família real e, por fim, eu acatando sempre às ordens como eu sempre tive de fazer, no final de todo o dia. Sendo embaraçado com uma tristeza e angústia totalmente injusta a fim de entender a história obscura e pesada por detrás da bendita da família real. Onde seus sorrisos farsantes escondiam um passado tão sujo e abrupto quanto o que atualmente eu vou traçando na minha vidinha noturna e mentirosa.

Mas a verdade é que eu nunca seria totalmente capaz de entender como ou porque o proceder das coisas vieram até esse ponto que todos nós ficamos as margens dos desejos da sociedade. Bom, claro que eu tinha consciência de que a monarquia sempre teria privilégios totalmente mais absolutos do que qualquer coisa que pessoas comuns como nós, trabalhadores, teriam. Mas de que forma essa que a miséria acabou sendo tão instalada por esse país e, principalmente pela província que eu atualmente morava? Orégon carregava lindas paisagens com pessoas maravilhosas e dentre outros detalhes que seria difícil ser mencionado por alguém que não conhecesse tão bem essa cidade. Com absoluta certeza em algum lugar da Grécia ou outros países tinham paisagens agradáveis, sim. Mas nada nunca seria Orégon. E pior, nada nunca teria também a miséria que Orégon tinha. Pontos de humilhação onde a maior vontade de qualquer um que passe e se dê pela primeira vez com toda essa terrível vida de pobrezas seria no final poder ajudar, tornar o mundo um lugar diferente; todas as ambições que seriam consideradas clichês para os que moram aqui a tanto tempo, tanto tempo que foi suficiente para que perdessem a esperança e talvez coisa pior, a sede por conquista. A vontade de mudar e se mudar. Se tornar parte da história de modo significativo. Não às sombras de alguém. Não como meu pai pensou que seria.

Fui acordado de meu transe ao que espetei meu dedo no espinho de uma rosa de um dos arranjos da família real que já tratava de preparar, levando meu dedo num ressalte para fora do alcance dos caules e, por fim, das pétalas da flor. Fiquei ali sacudindo minha mão de forma dolorida mas acostumada. Por que no final eu realmente estava. Eu realmente estava mesmo. Chacoalhar a mão foi a forma que eu tive de pensar mais sobre como minha vida parecia um arranjo de flores. Mas não no sentido bom e poético que qualquer um com uma mente piegas pensaria. Eu pensei que sempre teria servido para isso, apenas para agraciar os olhos e o desejo de  beleza entre as pessoas. Me senti como um objeto, cujo único objetivo fosse ser admirado e beneficiar ao meu redor com vantagens que eu poderia oferecer para pessoas ao meu redor e, por mais que parecesse e realmente fosse bem injusto, me obrigaria a sentir agradado por estar nessas condições de agrado ao redor. Desde que fosse possível agradar pessoas como minha mãe e irmãs eu ficaria contente pela sua contentação. Ficaria agradado pelo seu agrado e mais do que qualquer coisa eu ficaria tremendamente feliz por estarem feliz. De um lado, podia totalmente concordar com essa concepção e do quão poético e bonito era o fato de que de alguma forma eu poderia mudar os dias de quem me cerca ou pelo menos de quem me vê por aí de modo positivo, irradiando mesmo que por um pouco uma carga de serotonina aos que me cercam; de outro, achava que era uma ambição vazia, sem a mínima oportunidade de viver minha própria vida e ainda sim poder agradar quem ficava ao meu redor, ou pelo menos, quem sabe, adquirir a companhia de quem realmente gostasse de mim pelo que eu sou, e não pelo que me tornei para ser. De modo agressivo me peguei tendo essas dúvidas no último mês. Obviamente eu sempre às tive, mas agora a ficha veio caindo para mim em certos momentos de relativa lucidez. Eu me sentia como um fantoche a margem da sociedade. Um bonequinho de decoração na história secundária do protagonista. Como meu pai deve ter se sentido um dia. Meu estômago se revirou com a ideia que me parecia tremendamente dolorosa. Me imaginar em semelhança com meu pai no quesito história de tristezas magoou meu sonho comum e justo de qualquer pessoa de simplesmente ser alguém feliz. Me doeu pensar que não poderia eu ter uma vida onde pudesse ter uma família, um bom emprego, filhos amorosos e uma esposa cuidadosa que me faria tão bem e cuidaria o bastante de minha saúde. De alguma forma isso me pareceu totalmente mais aceitável quando pensei que não merecia.

Eu realmente não merecia, e nem iria merecer nunca. Tive uma sentença diferente de qualquer um que pudesse sonhar assim como eu. Eu me escondia atrás das obrigações com minha família para fazer toda minha frustração ser depositada em algo para ser comentado, mas a verdade era que eu sempre fui o secundário da minha história. E da história de vida de qualquer um, por mais que minha mãe e meus pais sempre houveram se dedicado para me manter bem e me fornecer um justo futuro. No final do dia eles também pensavam em si mesmos também, não era? Isso não parecia minimamente justo e direito? De que modo eu poderia pensar que abdicavam das próprias vidas só por mim quando eu era na verdade algo a mais em todo aquele ponto que a vida de todo mundo houvera iniciado? Nada mais justo do que todos terem o direito de pensar em si mesmos, assim trabalhando para seguir seus sonhos e saindo dessa onda de que precisava sim ser devoto e considerado de alguma forma pelos que me cercavam e no futuro me cercariam.

Mas eu sei que a vida não era e nunca seria assim. Pessoas se dedicavam por mim também, não era?

Mas o que era, o que era mim? Eu me deixava ser alguém de personalidade o suficiente para que fosse marcado em minha própria história? Eu seria. Eu era. Inclusive, na verdade, eu sou. Duvido que de alguma forma eu me tornaria tão insignificante assim nas minhas próprias idealizações. A forma que eu me enxergava era muito cruel, ou não era? Tantas perguntas pairavam pela minha cabeça que eu não tinha a mínima certeza do porque que um dia de trabalho árduo e desfocado dos meus princípios fora do trabalho havia se tornado uma discussão tão séria sobre o fato de que eu não tinha uma grama que fosse de conteúdo surpreendente e que me faria ser destacado no meio de uma multidão - ou até mesmo num grupo de pouco alcance. Por que meu cérebro resolvia me confrontar com tantas injustiças e indulgências no momento de meu trabalho? Para qual razão era tão cruel se meu objetivo único era ser uma boa pessoa ou quem sabe uma pessoa melhor?
Isso na verdade me mostra mais humano, mais egoísta. Mas é justo, não têm povos cujo seus objetivos servem somente servir. Tinha me tornado sombra de mim mesmo e esse pensamento me afrontava de uma forma tão grosseira que esqueci que meu sangue pingava pela floricultura. Reacordei de meus pensamentos intranquilos quando a ardência pegou de supetão o meio do meu dedo indicador, me fazendo sobressaltar da minha realidade e caminhar em direção ao balcão, de onde tirei uma flanela velha e gasta e enrolei pelo meu dedo ensanguentado. Quando que uma flor poderia ferir tanto? A rispidez do machucado me picou como um veneno de repente eu pensava tanto quanto uma criança inexperiente, produzindo fumaça a todo vapor como uma locomotiva antiga. E o machucado era sua buzina. Seu barulho me arrancava da realidade de minha cabeça de uma forma grosseira.

Parei de pensar em meu pai e em todas as coisas que poderiam me desesperar e me peguei limpando o sangue carmesim derrubado pelo chão da floricultura. Depois de averiguar meu ferimento percebi que não só havia magoado meu dedo como toda minha mão. Resposta plausível para explicar todo aquele sangue escorrido no piso branco; suspirei, pensando do que seria de mim com toda essa desatenção e falta de produtividade no trabalho. A única boa coisa que me divergia dessa onda súbita de tristeza era pensar que graças aos céus as sextas-feiras ficavam longe dos domingos, das segundas e das terças. Fazia cerca de dois dias que a família real havia contratado os serviços da nossa floricultura e desde então eu não conseguia pensar em coisa diferente além do nervosismo que me causava a sensação de permanecer nessa vida pra sempre. Eu não tinha muitos planos porque isso nem me era tão permitido assim, eu só sabia que precisava sonhar e alcançar o que eu idealizava como justo, mas como eu podia fazer tal coisa? Além de todo meu dó pela minha família e minha repúdia pela família real o que tinha em mim que poderia ser usável além da voz? Além das muretas de tantos medos e inseguranças que me impediam de circular meu plano e minhas metas, além de qualquer coisa que antes eu já tinha visto sobre mim? 

Foi quando o ressoar do sino da loja me pegou desprevenido. Me virei olhando o que seria uma forma masculina mas não bombada. E antes de pensar muito meus olhos pesaram, meu corpo fraquejou e a minha mão - que eu não tinha percebido estar quase praticamente jorrando sangue - decidiu escorregar para o lado do balcão, me fazendo chocar com a cabeça diretamente a parte de madeira branca da parte externa do caixa.

Sem muito esforço, eu desmaiei.


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⏰ Última atualização: Aug 08, 2023 ⏰

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