5.mare

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Há quanto tempo não via um ser humano? O vampiro se perguntava, mas perdera a conta dos anos muito tempo atrás.

Aquele rapaz parecia muito estranho em seu modo de falar, agir, se vestir e até carregava umas bugigangas que o ser imortal desconhecia até então.

O tempo não perdoou o mundo lá fora das impenetráveis paredes de seu castelo.

— Se acalme, Jeon Jungkook — disse para si mesmo, respirando fundo. — Ele tem mais medo de você do que você dele.
Repetiu as palavras que antes o moral lhe dissera.

Foi até o espelho na tentativa de parecer mais apresentável. Trajava suas melhores vestes, a capa preta sobre o veludo vermelho, os cabelos negros ondulando até a altura do ombro.

Ao mirar o espelho, visualizou todo o cenário do aposento; a cama, as cortinas, a espreguiçadeira. Tudo, menos sua própria imagem.

Ele nem sequer se lembrava muito de como sua aparência era. Também não queria agora que ela não pertencia só à ele. Agora que naquela pele também habitava um monstro.

Passou os dedos pelos fios e saiu, mesclando-se na escuridão. O mortal estava sempre zanzando por aí e Jungkook temia que por descuido acabassem se esbarrando. Preferia evitar contatos desnecessários, mas mesmo assim, mantinha-se elegante, só por via das dúvidas.

Afinal, era um príncipe. Ou já fora… Em um passado muito distante.

Passado este que insistia em voltar, cada vez mais forte. Memórias que lutara para enterrar, sentimentos que tentou exterminar… Sentimentos humanos.

Não podia se permitir ter emoções. Não possuía tal privilégio. Já podia sentir a besta dentro, se contorcendo na jaula, lutando entre as brechas de sua vulnerabilidade.

Até quando o mortal insistiria? Não via que isso acabaria mal para ambos? Jungkook não se perdoaria se o ferisse. Se ferisse qualquer um além de si mesmo. E não podia alimentar o monstro, depois de todo o esforço para conte-lo.

Esgueirou-se pelos corredores, se camuflando entre as sombras que se projetavam no caminho até a escadaria principal.

— Ah, aí está você — disse o rapaz, detectando a presença de Jeon como se tivesse um sensor. Aquilo assustou Jungkook — Me diga, qual o seu nome? É Drácula?

Ele estava largado em um sofá que arrastara para o meio do salão, parecendo tão em paz e despreocupado quanto se estivesse em uma colônia de férias.

Jungkook permaneceu em silêncio observando o outro mastigar aquela comida fedida que tanto gostava e lutando para não pegar um paninho e limpar os farelos do sofá.

— Se você quer que eu fique, é melhor que sejamos amigos — disse o de cabelos brancos, dando de ombros. — O meu nome é Jimin! Senta aqui comigo? Vamos comer salgadinho. Se quiser pode beber meu sangue.

Ele pendeu a cabeça para o lado, deixando a pele de seu pescoço à mostra.

O estômago de Jungkook se revirou.

— Por quê eu faria isto?

— Ué, porque você é um vampiro.

— Eu não sou um vampiro. — afirmou impulsivamente, se amaldiçoando de imediato por ter falado demais.

Jimin sentou no sofá, estupefato.

— O que você é? — perguntou, boquiaberto com uma curiosidade e fascínio tão genuínos que Jungkook achava quase… Ele não sabia bem. Talvez adorável.

Ele fugiu depressa, se trancando nas masmorras e ignorando as birras de Jimin pedindo para que ele voltasse.

Os dias se passaram e ele continuava nas sombras, observando o mortal que falava com ele sem obter resposta alguma.

Jungkook preferia ficar por perto só por precaução, para garantir que o baderneiro não destruísse seu precioso castelo e também cuidando para que não se metesse em encrencas.

Não sabia como ele tinha chegado até a vida adulta, pois seu senso de sobrevivência era péssimo!

Jungkook tentou avisar tarde demais quando o viu adentrar a torre mais alta, um lugar onde Jeon costumava ficar acorrentado quando não possuía controle o bastante.

Lá era o único lugar onde não ousava entrar, pois lhe trazia péssimas lembranças. Ainda assim, não hesitou em correr até Jimin quando a madeira podre da escada se rompeu, levando o garoto abaixo junto com o chão.

Conseguiu proteger o corpo do outro com o seu e receber todo o baque da queda. Se seu corpo não fosse imortal, estaria com sérios problemas.

Jimin não parecia se importar de ter caído de uma altura de vários metros, apenas se inclinou para Jeon e o examinou preocupado.

— Minha nossa, me desculpe! Ai… Você tá bem? Se machucou?

Jungkook riu, ainda instintivamente segurando firme o corpo do outro, de maneira protetora.

— Eu? Está preocupado comigo? — indagou com um sorriso descrente para o mortal.

Jimin parou, sua expressão se suavizando e o toque que antes servia para aparar o rosto de Jeon, agora era terno e cuidadoso, quase um carinho sutil que fez o corpo do monstro se arrepiar.

Estava escuro, mas era a primeira vez que Park o via. Ele analisou seu rosto, abrindo os lábios carnudos na tentativa de dizer algo, mas antes que pudesse, Jungkook desapareceu, mas permaneceu em seus pensamentos.

Sua pele queimava onde Park o tocou, como se o carinho lhe ferisse.

De alguma forma era como se Jimin o conhecesse e não iria embora até descobrir quem ele era.

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⏰ Última atualização: Apr 05, 2022 ⏰

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amaranthine ★ jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora