𝓒𝓪𝓹𝓲𝓽𝓾𝓵𝓸 5

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Pov: [nome]

Quando dei a notícia à minha mãe, ela abraçou-me e começou a chorar como se de alguma forma quisesse repor as lágrimas que eu deixei nas roupas do Aizawa quando ele me deu a mesma notícia.
Ficou desejosa de o conhecer e agradecer-lhe pessoalmente a sua generosidade. Era uma mulher de choro fácil, nisso éramos iguais.

Aliás, eu choro a ver filmes e a ouvir músicas. Choro a ver vídeos de cãezinhos abandonados e de pessoas que participam em concursos com histórias de vida incríveis e que fazem um brilharete em palco. Choro até se vir alguém a chorar. Sou uma espécie de
esponja sentimental que me faz sofrer quase tanto quanto a pessoa que tem verdadeiramente motivos para isso. Choro facilmente, mas choro ainda mais para mim. Por dentro, em silêncio e em segredo. Mas sempre com a certeza de que logo a seguir vem um sorriso. Talvez por isso choro muito, para logo depois ter ainda mais vontade e motivos para sorrir. E sorrio tal como choro, ou seja, por tudo e por nada. Dizem, que sou louca, mas não, nada disso, apenas vivo tudo intensamente.

Nos dias que se seguiram comecei a acompanhar Aizawa regularmente ao final do dia, ao longo de duas horas, no conforto da sua casa. Era quase sempre recebida por uma das empregadas, mas as despedidas ficavam sempre por minha conta.

Por vezes cruzava-me com Mitsuki, mas as conversas não eram diferentes das poucas que tínhamos tido no lar, ou seja, pouco mais que cumprimentos. Não por falta de simpatia de ambas as partes e muito menos por falta de tema de conversa, mas sentia em Mitsuki uma timidez que nada mais era do que um mecanismo para camuflar algo muito mais pesado. Tinha um sorriso meigo e calmo, como o do pai, mas sentia-lhe dor no olhar. E a sua mágoa era nítida. Sorria como se achasse que não tinha direito de o fazer, como se não fosse merecedora ou como se o tivesse reprimido por tanto tempo que já não sabia fazê-lo com naturalidade.

Desconfiava que poderia estar relacionado com o pai do Bakugou, até porque era uma figura que nunca tinha visto naquela casa e de quem nem sequer tinha ouvido qualquer referência. Nem mesmo da boca de Aizawa. Era como se fosse um tema proibido. O que me estava a intrigar cada vez mais. Andava há dias a tentar controlar a minha curiosidade para não passar pela humilhação de me dizerem para me meter na minha vida, mas eu já me conhecia e sabia que não aguentaria muito mais.

Relativamente a Bakugou, tinha-me cruzado com ele
algumas vezes, mas sempre que nos víamos virávamos o rosto para o lado. Nunca mais tivemos um diálogo desde aquele dia à entrada da sua casa, mas, apesar de não sentir falta, tinha de admitir que aquela situação me deixava desconfortável. Contudo, além de ser uma chorona, uma esponja sentimental, curiosa ao ponto de fazer inveja a qualquer gato, eu também era muito orgulhosa. E isso impedia-me de dar um passo em direção às tréguas com aquele rapaz.

Algo que eu tentei mudar naquele dia quando, por engano, ele entrou na cozinha no momento em que eu estava com Aizawa a preparar petit gâteaux para servirem de sobremesa ao jantar.

Como terapeuta ocupacional, uma das minhas missões é estimular e motivar os idosos recuperando muitas das atividades que desenvolveram ao longo da sua vida profissional. E no caso de Aizawa eram, sem dúvida, os doces.

- Uuuups. Peço desculpa-Disse Bakugou assim que entrou na cozinha e nos encontrou às voltas com os ingredientes-.

- Não. Pode ficar-Disse por impulso, e até surpreendida comigo mesma, quando Bakugou se preparava para recuar-.

-Não, nem pensar. Faça o que tem a fazer com o meu avô, eu não estaria aqui a fazer nada e tenho mais que fazer.

-Essa é uma ideia errada que o menino tem. É extremamente importante que os familiares se envolvam neste tipo de atividade com os seus idosos para os motivar ainda mais. Senão vai parecer que estão a fazer uma tarefa qualquer porque eu estou a ser paga para os pôr a fazer isso. E não gosto nada desse conceito.

Não era para ser assim - Bakugou KatsukiOnde histórias criam vida. Descubra agora