reprimir.

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Os gritos eram ensurdecedores. Não cessavam. Ecoavam.
Na tentativa de abafar os gritos tampou os ouvidos com as mãos, miseravelmente falhando. Parecia que à qualquer momento alguém sairia sangrando daquela briga, provavelmente, sua mãe.
Tinha vontade de sair pelo portão e caminhar no parque para se acalmar, mas não podia. Tinha vontade de pegar o frasco de vidro sob a escrivaninha e jogá-lo na parede, mas não podia. Tinha vontade de chorar e gritar, mas não podia. Definitivamente não podia expor seus sentimentos ou até mesmo tentar acalma-los. De todo modo a criticariam e a sufocariam com uma infinidade de perguntas que não estava disposta a responder, e que se não respondesse, seria chamada de rebelde e mau educada mesmo que na verdade só quisesse um momento de paz longe de tudo.
Então, reprimiu os sentimentos como fizera uma infinidade de vezes. Talvez por isso tivesse tido crises tão fortes de ansiedade: porque não aguentara mais ter que guardar tudo sempre quando estava com os pais. Perto deles nunca podia por seus sentimentos pra fora pois não tinha seu espaço respeitado e nem sequer privacidade. Se desejasse espaço e privacidade seria acusada de estar escondendo algo ou de nunca compreender a chamada preocupação deles.
Definitivamente não sabia quanto tempo aguentaria viver sob o mesmo teto que eles. O pior era não ter saída. Aguentando ou não, teria que permanecer ali naquele ambiente sufocante.
Queria tanto uma companhia naquele momento, alguém que a tirasse de casa e a levasse para bem longe dali e a deixasse chorar tudo que sentia. Mas ninguém viria a seu socorro e infelizmente ela mesma não poderia se socorrer.
No fim do dia se perdeu em um mar de pensamentos durante a noite. Recorreu à escrita. Passou a ser assim desde então.

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