12 - prayer x

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Eiji

- Ah, você reparou.- Ash respondeu, apesar de parecer desconcertado- É porque eu era parte de uma gangue.

O meu espanto deveria ser gritante em minha expressão pelo sorriso hesitante que ele exibiu, provavelmente tentando amenizar o clima.

Lynx fez com que a minha crise de ansiedade parecesse um evento distante com tamanha revelação. Isso explicava a dificuldade para arrumar empregos, a postura defensiva e o questionamento que me fez ao se mudar.

"Espera, vai confiar num completo estranho?" a pergunta ecoou pela minha cabeça e procurei reagir em meio ao choque, não querendo que ele tivesse a ideia errada sobre o meu silêncio.

- Como você saiu?- minha voz saiu baixa, preocupado se teria uma forma correta de abordar o tópico.

- Fui pego pela polícia em uma operação, eu era menor de idade na época e tive que fazer uns serviços comunitários. Fiquei no reformatório por três anos, mas a minha ficha é limpa hoje em dia.- explicou devagar e eu assenti em compreensão, ainda processando as informações- Pode perguntar, eu não me importo.

Outra de suas falas passou pela minha mente e lembrei que Ash me disse que era entregador.

Tecnicamente, ele nunca mentiu, só omitiu.

- Por que você entrou em uma gangue?- murmurei enquanto observava o vento movimentar os fios dourados de sua franja para longe e dar ênfase ao esmeralda de seus olhos, que se destacavam mesmo em meio a penumbra.

Daria uma bela foto...

- Eu não era escolarizado e isso dificultava o meu currículo...com traficantes, eu tinha vantagem pela minha aparência. Os brancos levantam menos suspeitas e eu vi que seria dinheiro fácil. Griffin, meu irmão, tinha acabado de ser contratado por um time de baseball e eu não queria ficar para trás.- Ash subiu os seus joelhos numa tentativa de se acomodar- Meu plano era parar com umas 5 entregas.

Ele se alfabetizou sozinho? Impressionante.

- Não sabia que você tinha um irmão, como ele é?- mudei o tópico, não querendo ser invasivo.

Inibi o impulso que me fazia querer fotografá-lo, sabendo que o momento estava longe de ser adequado. Ele parecia precisar desabafar e eu ficava feliz em poder ajudar, mesmo que minimamente, ao me focar em seu relato. O que não foi difícil, falar de Griffin fazia com que a felicidade se manifestasse em peso nele. Eu até me peguei sentindo falta da minha família.

Lynx me contou que nasceu em Cape Cod, no interior de Massachusetts, e como foi abandonado por sua mãe com pouca idade. Contou como o pai insistiu que eles trabalhassem e deixassem a escola de lado para arcar com as despesas da casa. Que vieram para Nova York, após a morte do pai, quando Griffin completou 16 anos e ele o ajudou a aprender a ler e a escrever. E então, como se sustentaram com bicos até que Ash tivesse 15 e seu irmão fosse selecionado por um time no Japão.

- Bom, começou com renda extra e evoluiu para brutalidade...depois que mataram uma criança na minha frente.

Ali, até as barulhentas ruas da cidade pareciam ter parado para escutar o que veio a seguir. Ash acabou completando as lacunas da história sem precisar que eu verbalizasse minhas outras dúvidas e uma hora inteira se passou em questão de segundos.





Ash

Era bom conversar com alguém sobre isso, principalmente com Eiji...que indagava somente por curiosidade e recebia minhas palavras com nada menos do que pura empatia. O julgamento que eu esperava jamais apareceu e acompanhados pela neve que caía por toda Nova York, contrastamos as realidades em que fomos inseridos na escuridão de seu quarto.

nos bastidores | ash x eijiOnde histórias criam vida. Descubra agora