Capítulo Sete

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Numa noite, estava atendendo no bar quando um homem balançou a mão para chamar a minha atenção.

— Boa noite. Qual é o seu pedido?

— Um chopp.

Afastei-me para ir até a máquina e tirei o chopp do senhor.

— Aqui está — falei colocando a tulipa na sua frente.

— Você é o filho do Armando? — Olhei para o homem para ver se o conhecia também, mas nunca o tinha visto antes.

— Sou. Você conheceu o meu pai?

— Ah sim, eu conheci bem o Armando. — Ele bebeu um pouco do chopp e voltou a falar. — Eu estava te procurando desde a morte dele, mas você mudou da cobertura de Botafogo. Até mandei meus colaboradores atrás de você. Onde você foi se esconder, rapaz?

— Você...você que mandou aqueles caras atrás de mim? — O medo tomou conta de mim e eu precisei me segurar no balcão.

— Bom, você tem que entender o meu lado, você sumiu no mundo. E eu preciso receber o dinheiro que seu pai me devia.

— É o que? — pergunto sem entender nada. Eu sei que muitos clientes perderam dinheiro com a falência da empresa do meu pai, mas Aurélio garantiu que eu não precisaria pagar mais nada a ninguém, visto que eu vendi todos os bens da família para pagar as dívidas.

— Seu pai, rapaz, sumiu com o meu dinheiro e eu espero que você me devolva tudo o que ele me devia.

— Senhor, olha onde eu estou trabalhando, você acha que se eu tivesse algum dinheiro eu trabalharia aqui a madrugada inteira? — perguntei na esperança de fazê-lo enxergar a minha situação.

— Isso não é problema meu. Com o dinheiro do seguro de vida do seu pai você consegue me devolver parte do meu dinheiro e depois a gente vê como fica — ele falou se levantando e deixando um dinheiro em cima do balcão. — Agora eu preciso ir, não se preocupe, eu entro em contato. — Deu um sorriso cínico e saiu em direção a porta do clube.

Fiquei imóvel durante incontáveis minutos, meu corpo suava e minhas pernas tremiam. O ar mal entrava em meus pulmões e eu precisei reunir forças para não surtar. Avisei ao Denis que não estava me sentindo bem e fui em direção aos banheiros. Quando entrei, agradeci por não estar tão cheio e fui na pia jogar uma água no rosto para tentar me acalmar. Fechei meus olhos e tentei me concentrar em levar o ar para dentro dos meus pulmões.

— O que aconteceu, Pedro? — Olhei pelo espelho e vi o reflexo de Guilherme atrás de mim.

Me virei imediatamente e corri em sua direção, me jogando em seus braços. Ele me apertou contra seu corpo e comecei a chorar. Nem pensei direito no que estava fazendo, apenas queria me sentir seguro perto dele como vinha me sentindo ultimamente em sua presença.

— Pelo amor de Deus, Pedro, o que aconteceu? Alguém te fez mal? Algum cliente foi inconveniente com você? Me diz quem é que eu vou atrás desse desgraçado agora mesmo — Guilherme perguntava aflito e nervoso enquanto me apertava ainda mais em seus braços.

Comecei a me acalmar um pouco e tentei me recompor. Um pouco mais calmo e sem chorar eu consegui explicar o que aconteceu.

— Um cara mais velho apareceu aqui no clube e sentou no bar. Ele sabia meu nome e disse que eu devo pagar a ele o dinheiro que meu pai o devia. Foi ele quem mandou aqueles três homens atrás de mim — falei com os olhos arregalados e apertando os braços de Guilherme.

— Meu Deus, Pedro. E você conhece esse homem? Já viu ele em algum lugar?

— Não, eu nuca o vi, mas eu também não conhecia todos os clientes do meu pai. E agora, Guilherme, o que eu vou fazer? Eu não tenho dinheiro nenhum. Ele disse que meu pai tinha um seguro de vida, mas eu nunca soube e o advogado do meu pai saberia se ele tivesse, não é?

Louco por EleOnde histórias criam vida. Descubra agora