Capítulo Vinte

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Na segunda-feira, Guilherme e eu fomos até a PF. Não conversamos com Vinícius dessa vez, apesar dele estar presente na sala onde o encontro aconteceu, quem comandou tudo foi o delegado Maurélio que, pelo o que eu entendi, era quem liderava a operação que estava investigando Sandoval.

Ele me fez relatar com detalhes tudo o que acorreu na noite de sábado. Desde a hora em que aqueles homens me pegaram em frente ao clube até o momento em que Sandoval foi abatido pelo atirador. Ele fazia algumas perguntas para complementar o que eu dizia, mas eu praticamente fiz um monólogo a maior parte do tempo.

— Acredito que ele tenha ficado desesperado porque estávamos chegando perto de conseguir a prisão preventiva dele. — Maurélio falou quando terminei.

— Sim, eu acho que foi isso mesmo.

— Se por um lado, a morte dele acaba com o seu pesadelo, por outro, nos deixa num beco sem saída na operação. Nós tínhamos perguntas que só ele poderia responder.

Ficamos muito tempo ali, depois que contei que Sandoval confessou que foram seus homens que mataram meu pai, Maurélio me mostrou algo intrigante, mas que eu já imaginava.

— Durante a investigação nós encontramos quatro contas bancárias em nome do seu pai. — A princípio, eu achei estranho serem quatro, eu só tinha conhecimento de uma que era a que estava zerada após a morte dele. — Nós pedimos a quebra do sigilo bancário dele e descobrimos que três dessas contas estão zeradas, porém em uma delas nós encontramos mais de cem milhões de reais.

— Meu Deus! — exclamei, pois não imaginava que meu pai tinha tanto dinheiro guardado.

— O dinheiro está bloqueado porque seu pai era o operador do esquema de lavagem de dinheiro. Acredito que, após concluída as investigações e todos os cálculos feitos, você irá receber parte desse dinheiro. Porque, afinal, seu pai tinha o patrimônio dele que foi adquirido de maneira lícita.

Aquilo me deixou ansioso, não que eu fizesse questão de receber qualquer dinheiro, eu preferiria que meu pai estivesse vivo aqui comigo, contudo, esse dinheiro, mesmo que parte dele, ajudaria muito a situação financeira da minha família.

A mídia ficou em cima quando a morte do deputado foi divulgada. Foi um alvoroço, os jornalistas descobriram meu telefone e me ligavam o tempo todo querendo marcar uma entrevista. Ficavam na porta da vila esperando que eu saísse. Seu Ayrton se enfureceu um dia e foi até a portão brigar com eles, disse que era um absurdo eles ficarem ali, em cima de mim, quando eu tinha sofrido um trauma muito grande.

Não surtiu muito efeito, os jornalistas continuaram ali, afinal, aquele era o trabalho deles. Mas, como tudo que acontece no Brasil, logo outra notícia surgiu e o interesse pela morte do deputado foi diminuindo. Possibilitando que voltássemos a ter uma vida normal.

No começo, eu fiquei verdadeiramente abalado e qualquer coisa me assustava. Um barulho de escapamento na rua, uma risada mais alta no clube, alguém falando mais alto perto de mim...qualquer coisa era capaz de me desorientar. Guilherme foi muito paciente e me ajudou bastante nesse tempo. Ele conversava comigo, me fazia observar o ambiente para que eu pudesse ver que não havia perigo. Com o tempo, eu fui acalmando e essa sensação de que algo ruim aconteceria a qualquer momento foi passando.

Ajudou muito quando os homens do Sandoval, que foram presos no dia do meu sequestro, tiveram a prisão definitiva decretada. Eles ficariam presos por um bom tempo. Isso me trouxe um alívio grande. A operação ainda demoraria para ser concluída, mas por hora, eu poderia viver mais tranquilo.

Na verdade, de tudo o que aconteceu, o que mais doeu dentro de mim foi saber que meu pai havia fugido e nos deixado para trás. Aquilo me machucou de verdade. Porém, eu tinha ao meu lado um homem sábio que sabia usar as palavras da melhor maneira possível.

Louco por EleOnde histórias criam vida. Descubra agora