Capítulo Dezenove

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Na terça-feira, depois que Guilherme foi embora, eu aproveitei para colocar a casa em ordem. Já tinha feito algumas coisas no dia anterior, mas ainda faltava uma parte. Estava varrendo a sala enquanto vovó costurava no sofá. A televisão estava ligada e o jornal da tarde já estava passando. Estava distraído quando uma reportagem chamou minha atenção.

"Foi deflagrada nessa manhã, uma operação da Polícia Federal que teve como alvo a casa de três deputados federais. Alberto de Carvalho do PDM, Francisco Castro do PMC e Marcos Vinícius Buarque também do PMC, tiveram suas casas revistadas onde computadores foram apreendidos assim como documentos e celulares. Os três deputados foram levados até a sede da Polícia Federal para prestarem depoimentos. Nenhum dos agentes da PF que estavam na operação quis gravar entrevista, mas o que se sabe é que esses três parlamentares estão envolvidos em crimes de corrupção ativa e lavagem de dinheiro."

Eu gelei, todo o meu corpo paralisou. A reportagem ainda continuou, mas eu não conseguia mais prestar atenção. Esses políticos estavam na lista de clientes do meu pai junto com o nome do Sandoval. Eu não estava entendendo mais nada, se a Polícia foi atrás desses três, por que deixou o Sandoval de fora?

Corri para o meu quarto e liguei para Guilherme, ele já estava a par da situação e disse que já tinha entrado em contato com Vinícius, mas ele ainda não tinha retornado. Guilherme falou para eu me acalmar, que isso era um bom sinal, porque as coisas estavam andando. Porém, o meu medo era que quem já me ameaçou por três vezes ainda estava por aí.

Passei a tarde toda com o telefone na mão aguardando alguma notícia de Guilherme. Nem fui ensaiar na casa de Vítor. Um pouco antes de me arrumar para o trabalho, Guilherme finalmente me ligou com alguma coisa concreta.

— O Vinícius disse que, por enquanto, só foram atrás desses três porque as acusações contra eles são mais leves. Eles já foram liberados depois de prestarem depoimento, e o Vinícius disse que eles querem a prisão preventiva do Sandoval porque o que eles têm contra ele é mais pesado...incluindo... — ele parou um momento e respirou fundo. — Incluindo o assassinato do seu pai.

— O quê? — perguntei num fio de voz. — Então está provado? Sandoval matou o meu pai mesmo?

— Amor, o Vinícius não quis me dar muitos detalhes, mas ele disse que tudo leva a crer que sim. Eles estão apenas preparando as provas, organizando os documentos para levar até o juiz e pedir a prisão desse bandido.

— Mas por que eles não o prendem logo? — eu falei um pouco exaltado.

— Porque tudo tem q ser bem amarrado para que ele não consiga sair tão cedo dessa. Se tudo der certo, Sandoval vai ficar preso durante um bom tempo.

— Deus te ouça, Deus te ouça.

Ainda conversamos mais um pouco, mas eu precisava me arrumar para o trabalho. Estava me sentindo meio aéreo. Receber a confirmação que meu pai não morreu por acidente, mas foi assassinado por um homem ganancioso, fez meu estômago embrulhar.

Foi difícil me concentrar nas tarefas mais básicas nesse dia. Errei uns três pedidos simples no bar, coisa que não acontecia havia tempo. Até Denis reparou que eu não estava bem e disse que se eu quisesse ir para cara mais cedo não teria problema, mas eu não quis. Ficar no clube distraía minha mente dessa confusão toda.

Guilherme me buscou quando o clube fechou e trouxe mais detalhes da operação. Coisas que tinham saído na mídia enquanto eu ainda estava trabalhando.

— O nome do seu pai foi citado no jornal da noite.

— Sério? — perguntei olhando para ele.

— Sim, mas não falaram nada demais. Quer dizer, falaram que o esquema ocorria através de transações financeiras na corretora do seu pai, mas não o acusaram de nada. Só falaram que ele morreu em um acidente suspeito no início do ano.

Louco por EleOnde histórias criam vida. Descubra agora