Passeios de carro
Quando tudo estava parado
A cidade trancada
Em seus próprios quartos
Todos a uma distância segura
Como as estrelas acima
Que não podem interagir
Senão vão explodir
O carro é uma espaçonave
Tudo bem navegar assim
Não queria que tivesse fim
Talvez mais estrelas fiquem visíveis
Menos luz na cidade
Talvez nossas vozes intensifiquem
E falemos de coisas não tão simples:
-Valeu a pena me ter como filho?
-Levi, era o destino.
-Pai, tô escrevendo um conto sobre isso. O fim do mundo no fim fica lindo.
-Que legal, filho. Me conta mais, parece demais
-Tive quatro aulas esse ano e saí de duas com vontade de chorar. As pessoas são odiosas e é um porre estar lá.
-Eu entendo, filho. Foi um pouco assim comigo.
Olha, pai
O céu é tão bonito
Ah, pai
Que saudade do infinito
(Ir e vir)
De carros e indivíduos
De me assustar
A cada quase acidente
De me preocupar
Se vou conseguir chegar lá
Agora eu me pergunto
Vamos sair vivos?
Ou será que o vírus
Vai nos atingir como um carreta sem freio?
Tudo muito, muito feio
Eu não sei, estou com medo
Mas ainda não volte pra casa
Saia por outra entrada
Vamos dar mais uma volta
Rodar mais meia hora
Até quase ir embora
Dessa cidade mansa
-Manaus em quarentena.