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── Por que a s/n não está vindo mais, Miles? ── A voz da minha irmãzinha ecoou suavemente na sala enquanto assistíamos a um desenho animado. A animação colorida na TV contrastava com a sensação cinzenta que pairava no ar. Minha mãe passava as tardes no trabalho, e era minha responsabilidade cuidar da Flora. Eu não me importava de ficar com ela; ao contrário, era bom passar o tempo com aquela criança cheia de vida. Mas hoje, o peso do meu próprio coração me tornava difícil sentir alegria.

── Eu fiz merda ── respondi, fixando meu olhar na tela, tentando ignorar o som suave das pipocas sendo mastigadas.

── O que você fez? ── A pergunta dela foi direta, e eu percebi que o tom de sua voz estava mais sério do que o habitual.

Olhei para Flora, que parecia chateada, como se entendesse a profundidade da situação. Respirei fundo e deixei minha cabeça cair contra o sofá, buscando refúgio no estofado gasto. Os dias estavam pesados e deprimentes, uma sequência interminável de sombras e lembranças que não me deixavam em paz.

── Não é da sua conta, Flora ── tentei afastá-la da situação, mas a verdade era que eu só queria evitar que ela visse a fragilidade que eu sentia.

── Mas ela é minha amiga! ── Flora respondeu, sua voz agora carregada de um desagrado inesperado. Era a primeira vez que a via defender alguém assim.

── Eu sei ── murmurei, levantando-me do sofá, incapaz de lidar com a intensidade do seu olhar. ── É que as coisas são complicadas.

── Ou você que é um idiota? ── Sua afirmação me surpreendeu, e eu senti um peso se formar no meu peito. Flora parecia realmente gostar de s/n.

── É, acho que eu sou ── admiti, a sinceridade machucando mais do que eu esperava. Ela bufou, se sentando novamente no sofá, e eu sabia que provavelmente passaria o fim de semana inteiro me ignorando por causa disso. Engoli em seco e fui em direção ao meu quarto.

Ao abrir a porta, fui recebido por uma visão caótica: meias espalhadas pelo chão, uma mesa coberta de papéis amassados, e minha bateria desorganizada, como se cada objeto refletisse o caos na minha mente. O lugar estava em desordem, assim como meu coração.

"Você só sente falta do meu corpo."

"Eu só achei que... a gente tinha alguma coisa."

A lembrança de s/n me dilacerava, e eu não sabia como mudar aquela situação.

[...]

── Oi, Peter ── minha voz saiu rouca, um reflexo da sonolência que ainda pesava em mim. ── O que aconteceu?

── O ensaio é daqui a meia hora, você pode aparecer? ── Ele soou animado, mas eu mal conseguia processar suas palavras.

── Tá... ── Afastei o telefone do ouvido, forçando os olhos a se acostumarem com a luz. Já eram seis da tarde. ── Eu chego em meia hora.

Ouvi uma risadinha dele ao fundo, mas eu ainda lutava para compreender o que acontecia ao meu redor.

── Vai ser na casa do Rodrick, tchau.

Ele desligou, e o silêncio que ficou era opressivo. Minha respiração estava pesada, e as mensagens que ele havia me enviado mais cedo ressoavam em minha mente. Encara-lo depois de tudo parecia uma tarefa impossível. Rodrick sempre foi meu melhor amigo; nós tínhamos crescido juntos. Mas agora, a culpa pesava em mim, um fardo que eu nunca tinha sentido por causa de uma garota.

Eu não era o garoto mais popular da cidade; esse título pertencia a Rodrick. Mas conhecia garotas, e nenhuma delas era como s/n. Ela era única, quase etérea, enquanto eu me sentia um demônio no meio de tanta luz.

── Flora, eu tô indo na casa dos Heffley, quer vir? ── Gritei descendo as escadas, o cabelo pingando, um resquício da minha demora no banho.

Quando cheguei à sala, encontrei Flora com minha mãe.

── Deixou ela sozinha? ── Minha mãe perguntou, o olhar dela carregado de preocupação e seriedade.

── Eu estava dormindo, só isso ── Respondi de forma casual, tentando esconder a vergonha. ── Eu disse a ela que iria dormir.

Minha mãe fechou os olhos, quase sem paciência, e percebi que o dia dela tinha sido pesado.

── E você vai sair?

── Vou ── respondi, colocando o celular no bolso. ── Posso levar a Flora, se ela quiser.

── Eu quero! ── Ela pulou do sofá, animada, enquanto corria para pegar um casaco.

── Miles, só não volta com ela tarde, tá bom? ── Minha mãe se aproximou, verificando se eu tinha me vestido bem para o clima que já começava a ficar congelante.

Balancei a cabeça, seguindo em direção à porta, com Flora atrás de mim.

── Eu gosto de andar no seu carro ── ela disse, cheia de alegria, e eu percebi que o castigo do silêncio que eu imaginava não duraria tanto quanto eu pensava.

Sorri, ligando o carro.

── O que é isso? ── ela perguntou, apontando para o chão do carro.

── O quê?

── Acho que é uma presilha de estrela ── Ela pegou um grampo marrom do chão, e a lembrança dela imediatamente me atingiu. Era uma presilha que s/n provavelmente deixara cair quando eu a levei mais cedo.

── Ah ── murmurei, tentando disfarçar a emoção que se agitava em mim. ── Eu dei carona pra sua amiga mais cedo.

── A s/n? ── Ela perguntou, confusa.

── Você tem mais amigas? ── Brinquei, observando-a revirar os olhos.

── Vocês não tinham brigado? ── Sua pergunta era direta e desafiadora.

Olhei para Flora enquanto ligava o carro e aquecia o motor.

── Longa história ── respondi, mantendo o olhar na estrada.

Ela deu de ombros, mas a expressão dela denunciava a preocupação que ela sentia por s/n.

── Você deveria entregar de volta pra ela ── Flora disse, enquanto deixava a presilha de cabelo em cima da minha coxa.

Ela agarrou o seu ursinho de pelúcia e olhou para fora do carro, enquanto eu respirava fundo, ponderando se deveria deixar a presilha na mesa de jantar da casa dela ou fazer algo mais. Afinal, o que eu poderia dizer a ela agora? As palavras me escapavam como areia entre os dedos, e a sensação de que tudo estava perdido me acompanhava a cada quilômetro que dirigia.

𝐬𝐜𝐫𝐚𝐰𝐧𝐲, miles fairchild Onde histórias criam vida. Descubra agora