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A noite de Halloween estava chegando ao fim para as crianças do bairro, mas não para mim. As ruas, que antes estavam cheias de fantasmas, bruxas e pequenos monstros, agora estavam vazias, apenas algumas luzes piscantes e folhas secas sendo sopradas pelo vento. O silêncio tinha um peso melancólico, como se todas as risadas e vozes infantis tivessem ficado para trás, enterradas no frio da noite.
Eu ainda tinha uma festa à fantasia para ir, mas antes de me apressar para me arrumar, deitei no sofá, tentando aproveitar os últimos momentos de paz. Mas é claro que a campainha tinha outros planos. Suspirei, me levantando para ver quem poderia ser agora, e, ao abrir a porta, lá estava Miles, com sua fantasia de Ghostface.
Ele se manteve em silêncio, me encarando por trás da máscara branca, com aquele olhar fixo e misterioso que ela proporcionava. Seu capuz preto balançava levemente ao vento, e mesmo com a máscara cobrindo seu rosto, eu conseguia sentir a provocação no jeito como ele se movia, inclinado levemente para frente para me observar melhor.
── Merda ── eu sorri, meio cansada e divertida. ── Você ficou incrível, Miles.
Ele não respondeu imediatamente, mas depois de uma pausa, inclinou a cabeça, como um vilão de filme de terror, o que me fez rir. Então, com sua voz abafada pela máscara, ele murmurou:
── Desculpa por não ter ido com você e a Flora pedir doces. Acabei me enrolando.
Eu dei de ombros, puxando-o para dentro. ── Tudo bem, a Flora se divertiu comigo. Ela estava praticamente em êxtase com tanto doce.
Miles olhou ao redor da sala, observando a decoração improvisada e as tigelas vazias de doces, enquanto eu tentava não parecer ansiosa com sua presença. Ele finalmente tirou a máscara, e aquele rosto conhecido apareceu, um pouco bagunçado, com os cabelos despenteados. Havia um brilho nos olhos dele, algo entre o cansaço e uma vontade que eu conhecia bem.
── E você? Ainda não se arrumou? ── Ele me perguntou, notando meu vestido comum, sem o brilho ou exagero de uma fantasia de festa.
Eu revirei os olhos e sorri, me sentindo um pouco exposta. ── Estava tirando um cochilo. Mas ainda tenho tempo, certo?
── Temos uma hora ── ele confirmou, deslizando as mãos para a minha cintura, suas luvas ásperas roçando a minha pele. ── Mas quem disse que precisamos de todo esse tempo?
Eu soltei uma risadinha nervosa, mas antes que pudesse responder, ele ergueu a faca falsa e começou a encenar uma cena de filme de terror, fingindo me atacar com facadas exageradas e lentas.
── Ah, claro, porque nada diz romance como ser empalada no meu próprio sofá ── brinquei, segurando a faca de plástico e jogando para longe.
Ele sorriu, aquele sorriso típico que só ele tinha, um pouco malandro, um pouco sério demais. Miles deixou as mãos deslizarem pelo meu vestido, subindo pela barra até alcançar minhas coxas. A maneira como seus olhos me observavam parecia querer captar cada reação minha, cada suspiro.
Eu sabia que deveria parar, que ainda tinha que me arrumar, que ele, como sempre, estava apenas de passagem. Mas o calor da proximidade e o peso de suas mãos me fizeram hesitar.
── Droga ── ele murmurou, de repente interrompendo o toque. Seu celular vibrou, e ele se afastou, trazendo de volta aquele abismo entre nós. ── É o Rodrick.
Revirei os olhos, tentando esconder a decepção que me queimava o peito enquanto ele atendia. A conversa era rápida e sem emoção, com Rodrick cobrando sua presença e mencionando que o resto da banda estava esperando. Eu escutava cada palavra, sabendo que significava que o nosso momento estava, mais uma vez, encurtado.
Quando ele desligou, tentou segurar minha mão, seu olhar quase implorando por compreensão.
── Foi mal, s/n. Eu tenho que ir. Você sabe como é... ── Miles murmurou, a voz dele soando quase culpada.
── Tudo bem ── forcei um sorriso, tentando esconder o nó que se formava na minha garganta. Eu odiava o quanto era fácil para ele me fazer acreditar que, talvez, dessa vez, ele ficaria.
Miles olhou para mim mais uma vez, seus olhos percorrendo meu rosto como se quisesse guardar uma última imagem antes de sair. Ele pegou sua máscara de volta e, sem olhar de novo, passou pela porta que eu abri para ele, desaparecendo na escuridão do corredor.
Suspirei, fechando a porta atrás de mim, sentindo o peso do vazio que ele deixou para trás. Pelo menos agora eu tinha tempo de sobra para me arrumar.
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𝐬𝐜𝐫𝐚𝐰𝐧𝐲, miles fairchild
Fanfictionmanter a sua paixão por miles em segredo dele mesmo foi difícil, mas mantê-la em segredo de seu irmão foi ainda mais difícil.