XIII

290 37 5
                                    

Há duas horas atrás estava sobre pressão, na aula de desenho a pintar a Phoebe da forma mais abstrata possível. Agora, estou no meu próprio escritório a ver o catálogo de todas as criaturas mágicas criadas pela Fantastic Kingdom UK, sobre uma vista maravilhosa.
Ouvi duas leves batidas na porta e pedi para que, quem quer que estivesse do outro lado da porta, entrar. Retirei a minha atenção dos papéis para encarar a pequena figura do menino loiro, que baloiçava nos seus pezinhos enquanto olhava para os dedos das suas mãos.

"Olá Charlie." - saudei-o com um sorriso carinhoso.

"Olá Mamã." - ele correu para mim e esticou-se para deixar um casto beijo na minha bochecha antes de eu o puxar para o meu colo.

"O que te traz aqui?"

"Vens à praia comigo e com o Papá? Agora?" - ele perguntou e eu rapidamente olhei pelo grande vidro atrás de mim observando céu cinzento.

"Não está um pouco frio para ir à praia?" - interroguei-o.

"Sim mas eu vou levar assim um casaco muito quentinho, " - ele apertou os seus braços contra o seu peito - "Se quiseres eu até posso levar um para ti. Eu tenho três. Um da cor do mar, outro da cor das vaigotas, e outro castanho." - ri com a sua troca de letras e agradeci, dizendo que ele não necessitava de me emprestar nenhum casaco, até porque não me serviriam, e disse-lhe também que aceitava o convite.

Olhei uma última vez para o relógio certificando-me de que já tinha trabalhado tempo suficiente para poder abandonar a empresa e pus-me de pé, oferecendo a minha mão ao menino que se encontrava diante de mim.

Descemos 2 pisos e encontra-mo-nos com Niall. Este estava sentado no sofá da receção com toda a sua atenção no telemóvel.

"Papá!" - Charlie gritou e rapidamente largou a minha mão, correndo até ao sofá e sem demoras, saltou de uma forma descuidada e desprevenida para cima do Pai, que grunhiu de dor arregalando os olhos. - "A Valie vem connosco. Vamos, vamos, eu quero ir ver as vaigotas!" - ele entusiasmou-se puxando Niall para se levantar.

"Eu já te expliquei que não são vaigotas, são gaivotas, Charlie!" - ele disse, levantando o seu corpo e dirigindo-se a mim. Os seus braços rodearam o meu corpo e a sua mão acariciou as minhas costas. - "Como correu o primeiro dia?" - ele perguntou depois de se afastar uns centímetros, mostrando-me o seu sorriso brilhante.

"Muito bem!" - sorri de volta e assenti com a cabeça.

"Vamos, vamos!" - Charlie disse já aborrecido pelo tempo que estava a esperar.

Dirigi-mo-nos até à garagem onde se encontrava o Audi Q3 que me trouxe até aqui pela primeira vez.
Entramos no carro e abandonamos a garagem. Em poucos minutos encontrava-mo-nos na autoestrada. Ouvi o som de uma chamada e olhei para o telemóvel pousado entre o meu lugar e o do condutor. Niall olhou para lá e murmurou algo, deixando a música terminar sem atender.
Pouco tempo depois o mesmo som voltou a encher o carro e eu olhei para Niall que parecia não ouvir o mesmo que eu.

"Papá não ouves?"

"É a Namira." - sussurrei pensando que talvez ele não quisesse que Charlie soubesse quem era.

"Sim eu sei. Não te preocupes." - ele meramente disse.

"Quando chegamos?" - ouvi da parte de trás do carro.

"Agora."

O carro foi estacionado num dos inúmeros espaços vazios e à nossa frente estava uma praia deserta; apenas o paredão era ocupado por cinco pessoas que faziam exercício físico.
Deixei o carro e Niall, que tinha agora o seu chapéu de avô, já se encontrava a apertar o kispo volumoso do menino com suaves caracóis dourados. Este correu até mim e agarrou a minha mão, agarrando depois a de Niall assim que ele chegou até nós. Percorremos o passadiço de tábuas de madeira e quando pousamos os pés na areia húmida, eu e Niall senta-mo-nos e apreciamos a criança que corria atrás das pobres vaigotas.

"Tens frio?" - ele perguntou delicadamente.

"Estou bem, obrigada." - agradeci sorrindo.

"Papá, podemos fazer aquele jogo da bola?"

Niall pôs-se de pé e foi até ao seu filho. Charlie recebeu uma pequena bola vermelha e o Pai colocou-se de joelhos à sua frente. O pequeno começou a lançar a bola para os braços de Niall que se encontravam esticados por cima da sua cabeça.

"Assim é fácil. Tens de ficar muito esticado." - Charlie pediu e Niall colocou-se de pé. - "Salta e estica muuuito os braços!"

Niall olhou para trás e sorriu para mim, pedindo depois para que eu fosse até lá.

"Importas-te de subir para os meus ombros?"

"O-o quê?" - gaguejei.

Niall baixou-se e levantou as suas mãos para mim.

"Confia em mim." - ele fitou-me e assentiu.

Pousei as minhas pernas por cima dos seus ombros e assim que ele se pôs totalmente de pé, senti o meu corpo cair para trás. Charlie arfou eu fechei os olhos com força, mas em poucos segundos, o meu corpo foi puxado para o equilíbrio pelos braços de Niall.
Suspirei tranquilizada daquela sensação e confortei-me olhando para a paisagem daquele ponto mais alto.

"Já podes Charlie." - Niall assegurou.

O pequeno agarrou na bola e puxou-a o mais atrás possível de forma a atingir uma altitude elevada. Assim o fez e o objeto veio parar às minhas mãos fazendo Charlie saltar e bater palmas de alegria. Devolvi-lhe a bola e assim que esta pousou nas suas mãos ele sentou-se na areia.

"Estou cansado. Preciso da energia Papá." - ele pediu antes de se deitar para trás.

Niall andou até ao filho, fazendo-me agarrar o seu cabelo e soltar um soluço assim que o impulso da sua perna me fez desequilibrar novamente.
Quando chegou perto do pequeno, baixou-se para que eu saísse de cima dele e rapidamente levou as suas mãos ao peito da criança, que antes do Pai lhe começar a fazer cócegas já se estava a rir.

"Que dizes? Já tens energia suficiente para irmos jantar ao Burger King?"

//Eu não sei o que fazer em relação ao verbo assentir. Ele fica bem em qualquer lugar, invejo-o.

Obrigada a todos os que votam, comentam, e claro, aqueles que aumentam o meu número de leituras.
Hugs xx //

• Charlie •Onde histórias criam vida. Descubra agora