Capítulo 13

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__Anastasia. Me desculpa. Sério mesmo.

Me junto a Kate no balcão, pego uma caneca no armário e preparo meu café. Ela guarda o leite semidesnatado na geladeira e volta com um leite de amêndoas para mim.

Não estou mais com raiva e decepcionada como ontem. Hoje me sinto resignada, mas esperançosa. É um fato brutal e tristíssimo que a maioria das pessoas simplesmente desapareça da nossa vida quando estamos mal e precisando delas mais do que nunca. Eu conto com Kate para segurar essa barra comigo.

Ela se senta à mesa de jantar.

__Nunca me considerei uma pessoa covarde, mas pensar no aconteceu com Christian é de cortar o coração. O sofrimento dele me deixa... desconfortável. Tipo, e se eu tentar puxar um assunto qualquer e acabar falando besteira?

Fico pensando em um conselho para dar, uma tentativa de colocar em palavras as coisas que gostaria de ouvir das pessoas quando a minha mente entra em parafuso.

Ela aponta com a mão para a porta.

__Não acredito que acabei de perguntar se estava tudo bem. Isso é coisa que se pergunte pra alguém que está numa situação como a dele?

Sinto vontade de abraçá-la por demonstrar tanta consideração.

__Acho que ele não se incomodou nem um pouco, - aviso. __É o tipo de coisa que todo mundo pergunta. É como fazer um comentário sobre o tempo. Não precisa ficar encanada com isso.

__Não tenho nenhuma experiência nesse tipo de situação, - diz Kate, contornando com a ponta do dedo o desenho de tema náutico da caneca. __Não tenho filhos; nunca perdi nem um animal de estimação. Meus pais, meus avós, meus irmãos e os agregados da família estão vivos e respirando. O que é que eu sei sobre perder uma pessoa amada?

__Sabe o suficiente pra se mostrar preocupada e cuidadosa. - E eu fico tão aliviada que estou até zonza. Saber que ela se sente assim significa muito para mim. Às vezes as pessoas fazem um esforço para oferecer aquilo que podem, e é importante reconhecer isso, mesmo que não seja aquilo de que a gente precisa.

__Mas já chega disso, - ela resmunga. __Enfim, você está saindo com o cara! E é minha amiga. Quero conhecer esse homem que faz parte da sua vida. Quero que a gente possa conviver numa boa.

__Então vamos conviver numa boa, - respondo, encolhendo os ombros. __Eu não estava lá quando vocês beberam vinho naquela noite, mas parece que todo mundo se entendeu bem. Não dá pra ser sempre assim?

Ela me encara com uma expressão de desânimo.

__Como? Nessa época ele era um bonitão rico e famoso que tinha acabado de se mudar pra cá e que estava dando em cima da minha amiga. Mas hoje é um artista angustiado que perdeu a família. O olhar no rosto dele quando falou sobre o filho... - Ela estremeceu toda. __Foi horrível.

Eu me lembro bem desse olhar atormentado e de como isso me deixou abalada também.

__Pois é.

Os ombros dela desabam.

__Christian é maravilhoso. Sério mesmo. Gosto muito dele. Preciso arrumar uma forma de me comunicar melhor, antes que acabe passando a impressão de que tenho alguma coisa contra ele.

__Quando ele estiver por perto, acho que vai ser bem fácil pra você. Ele é uma graça.

__É mesmo. - Kate tomou um gole de café e baixou a caneca de novo. __E você, nunca ficou sem jeito por causa disso?

Fico um pouco hesitante para responder.

__Não. Mas entendo por que você se sente assim. O luto é uma coisa muito pessoal, né? E, quando a gente fica sabendo que a outra pessoa está sofrendo o tempo todo, não tem muito como tirar isso da cabeça na hora de conversar com ela.

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