ATO PRIMEIRO

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Sala ricamente adornada: mesa, consolos, mangas de vidro, jarras com flores, cortinas, etc., etc. No fundo, porta de saída, uma janela, etc., etc.

CENA I

AMBRÓSIO, só de calça preta e chambre — No mundo a fortuna é para quem sabe adquiri-la. Pintam-na cega... Que simplicidade! Cego é aquele que não tem inteligência para vê-la e a alcançar. Todo homem pode ser rico, se atinar com o verdadeiro caminho da fortuna. Vontade forte, perseverança e pertinácia são poderosos auxiliares. Qual o homem que, resolvido a empregar todos os meios, não consegue enriquecer-se? Em mim se vê o exemplo. Há oito anos, eu era pobre e miserável, e hoje sou rico, e mais ainda serei. O como não importa; no bom resultado está o mérito... Mas um dia pode tudo mudar. Oh, que temo eu? Se em algum tempo tiver que responder pelos meus atos, o ouro justificar-me-á e serei limpo de culpa. As leis criminais fizeram-se para os pobres

CENA II

Entra Florência vestida de preto, como quem vai à festa.

FLORÊNCIA - Entrando — Ainda despido, Sr. Ambrósio?

AMBRÓSIO — É cedo (Vendo o relógio) São nove horas e o ofício de Ramos principia às dez e meia.

FLORÊNCIA — É preciso ir mais cedo para tomarmos lugar. AMBRÓSIO — Para tudo há tempo. Ora, dize-me, minha bela Florência... FLORÊNCIA — O que, meu Ambrosinho?

AMBRÓSIO — O que pensa tua filha do nosso projeto?

FLORÊNCIA — O que pensa não sei eu, nem disso se me dá; quero eu - e basta. E é seu dever obedecer.

AMBRÓSIO — Assim é; estimo que tenhas caráter enérgico. FLORÊNCIA — Energia tenho eu.

AMBRÓSIO — E atrativos, feiticeira.

FLORÊNCIA— Ai, amorzinho! (à parte: ) Que marido!

AMBRÓSIO — Escuta-me, Florência, e dá-me atenção. Crê que ponho todo o meu pensamento em fazer-te feliz...


FLORÊNCIA — Toda eu sou atenção

AMBRÓSIO — Dous filhos te ficaram do teu primeiro matrimônio. Teu marido foi um digno homem de muito juízo; deixou-te herdeira de avultado cabedal. Grande mérito é esse...

FLORÊNCIA — Pobre homem!

O Noviço - Martins PenaOnde histórias criam vida. Descubra agora