Surpresa em dobro

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Leave the sleep and let the springtime talk

In tongues from the time before a man

Listen to a daffodil tell her tale

Let the guest in walk out

Be the first to greet the morn

Deixe o sono e a primavera falarem a vos

Em idiomas ancestrais

Ouça o que narciso tem para contar

Permita que o convidado entra e saia

Seja o primeiro a saudar o amanhecer.

ElanNightwish

Angus

A chuva seguiu constante e sem trégua avançando noite e madrugada adentro. Por sorte encontramos a cabana e provisões. Após o episódio do sonho de Sarah e as revelações fornecidas através dele, jantamos, conversamos e descobri mais sobre a bela e intrigante mulher.

Sarah ama seu nome, assim como ama a cantora Sarah Brightman, seu grupo favorito é o Westlife e a música favorita é My Love. Seu poeta predileto é Robert Burns, ela adora flores no geral, detesta a cor rosa e simplesmente odeia despedidas.

De fato, Sarah é jovem e infelizmente já fora obrigada a dizer adeus a muita gente em sua tão curta vida. Para distraí-la, contei-lhe um pouco sobre meu trabalho, meu tempo na faculdade em Edimburgo. Sarah riu de todas as minhas aventuras e peripécias e aos poucos, vencida pelo sono, suas pálpebras se encerraram como cortinas de seda e ela adormeceu.

Peguei-a no colo e conduzia-a ao único quarto disponível na cabana. O quarto não estava tão aquecido quanto a cozinha e a sala, contudo notei uma pequena lareira e então, depois de colocá-la na cama e cobri-la, voltei a sala reunindo alguns feixes de lenha e acendi a lareira. As chamas timidamente se acenderam e o calor aos poucos foi envolvendo o cômodo. De forma semelhante, as chamas douradas bailavam lançando um brilho ambarado a tez pálida e translúcida do rosto de Sarah.

Dhia, ela em si já é um feitiço, um encanto, tudo nela demandava, pedia que fosse amada, e eu a amaria, no tempo certo.

Rocei de leve meus lábios na fronte delicada e voltei a sala levando algumas mantas comigo. A primavera nas Highlands é sempre inconstante. Com a chuva, a temperatura caiu consideravelmente e deveria estar em torno de 4° ou 5° graus. Aproximei-me da lareira, deitei-me, cobrindo-me, fechei os olhos e cai no sono.

— Querido sobrinho! Vejo que a encontrou. Você está indo bem. Sarah aceitará a magia. Já posso sentir, mas cuidado: um perigo os ronda e pode atrapalhar os planos.

Falta, pouco, muito pouco, meu caro. Não deixem que nada os impeça!

— Ajude-me, Tia Rhonna. Dê-me apenas uma pista.

— O perigo nunca vem desacompanhado. Tem véus amarelos e olhos mel, seu beijo contudo, é amargo feito fel. O irmão é ainda pior: olhos verdes faiscantes. Mas, causam dores fortes e lancinantes. Há magia em seu toque, provençal, entretanto sua alma queima com o mal.

— Angus, meu caro sobrinho, com o Beltane chegando tudo pode acontecer. Cuidado para a sua flor bela não fenecer.

— Então serão dois que teremos que enfrentar?

— E são irmãos. No sangue na maldade — Agora descanse, entregue-se a sono. Amanhã o sol voltará a brilhar. Siga em frente com sua luta e a vitória conquistará.

No dia seguinte, o trinado dos pássaros me despertou. Levantei-me trôpego e um tanto aturdido pelo sonho. Dirigi-me a janela abrindo as cortinas e contemplei um céu limpo, azul e o astro rei a iniciar sua trajetória. O tempo estava firme e sem indícios de mais chuva. Volvi o corpo, tencionando ir ao quarto, quando Sarah surgiu bela e resplandecente.

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