alma antiga

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"Sangtae:não se esqueça de nada.lembre-se de tudo e supere. Se não superar,sempre será uma criança cuja alma nunca floresceu."
(It's okay Not  to be okay)

Naquele lugar ressoava uma tensão, o ardor das feridas ainda era uma lembrança constante dos anos de morte e pranto, do outro lado de toda aquela devastação os perpertuadores encaravam o último sobrevivente de tamanha desgraça, a cautela rastejava em suas peles, naquele momento pareciam estarem lidando com um animal enfurecido após ter perdido sua casa, não havia divergência, um olhar perdido, enuviado pela consciência da perda e pelo conhecimento da ruína.

Aterrou abaixo tudo que lhe era quente, amável, doce, em suma lhe restará o feio, o quebrado, como se estivesse a deriva em um oceano vermelho sem uma bússola para assegurar que ainda lhe restará um lar, um lugar para retornar, uma cama para descansar e braços para lhe confortar.

O sétimo senhor assistiu seu povo e seus aliados serem transformados em cascas, meros corpos insalubres e podres, a corrosão doentia do lugar era uma lacuna em sua mente, um espaço destinado apenas para lembrar-lhe sobre tudo que tinha e perdeu e tudo que desejava mas que nunca iria conseguir.

uma podridão sarcástica passou a residir em seu peito, uma vez que experimentou a perda de todas as pessoas que um dia jurou proteger essa dormência doentia que passou a acariciar sua existência tomou uma proporção imensa dentro de si, era cruel, um sentimento arcaico que desde seu nascimento o acompanhava.

Ele ponderou, questionou por um momento que valia lhe traria a Vitoria, em desgraça se encontrava, não sobrou nada do que tinha e em seu âmago já não existia o desejo de viver.

sentimentos calorosos foram soterrados a muitos anos quando viu cair os seus, quando sentiu o amargor das feridas, quando experimentou a dor da perda, não havia muito o que pensar, estender pensamentos passou a ser uma tortura, sua mente era traiçoeira, foi moldada a uma corda podre onde seus passos bambeavam e em seu decorrer lembranças tortuosas eram constantemente reproduzidas, intrusivas memórias de um passado que nunca voltaria passaram a assombrar seus ossos, tudo que lhe restará era o cheiro pungente de vingança, e um companheiro aprisionado, que foi tão aterrador quanto os outros, seu último laçar, seu nó esperançoso.

Kurama.

Um espectador presente no clâ uzumaki,  enlaçados a anos de linhagem, sabia que para naruto, aquela terra devastada seria seu túmulo, o garoto seputaria a própria existência, seria isso uma extensão de toda sua devoção.

Esperado. Como haveria de viver em uma terra onde tudo que lhe era precioso há muito havia sido arruinado? Desonrado? Reduzido a humilhação? Não condiz com a índole do mesmo, a questão era, como reverter? Era possível?

De tamanha extensão era os talentos dos uzumaki's mestres em fuuinjutsu, um clâ há muito dizimado, deixados em terra sem a honra do descanso, naruto sabia, tinha em mente a complexidade que sua origem possuía e quais caminhos esse legado lhe permitia recorrer.  Com a imensidão de sua tristeza ele forjou uma matriz, derramou naqueles traços toda sua saudade, marcando na pele sua ruína, seu desejo pelos sorrisos, seu anseio pela presença, sua gana pela paz, seu peito queimava, parecia que aquela matriz replicava maldosamente tudo que ele sentia, como se aquele ardor lhe lembra-se suas falhas, sua incompetência, o quão atroz era a unidade de sua existência, o único que vagava por aquele mundo desvastado, infértil , apocalíptico. A dor lhe era um consolo, uma punição, outro lembrete irônico de seus pecados.

Martírio.

Kurama há muito lhe disse "o peso que carregas nunca foi seu, as feridas que a si infringe são tão injustas quanto o infortúnio que a essas nações assombrou". Esse ser que não é feito de carne ou ossos, desprovido de veias e artérias, inviável para vida, esse ser que sentiu-se sangrar, arder no peito, sufocar na alma quando desde sua criação desconhecia algo tão humano em si, um ser que soluçou, implorou e se desesperou quando tudo que lhe foi conhecido era a superioridade de si mesmo. Kurama sentiu frio, viveu o luto, não pelos que partiram mas por seu jinchuuriki, seu laço,  aquele a quem podia despir-se de todo orgulho e ódio,  e ajoelhar diante de qualquer existência se preciso for, desde que a vida desse laço fosse poupada, kurama que era expectador de tamanha devastação, que tinha certeza que o sétimo lorde daquela nação nunca mais seria capaz de sorrir novamente, lamentou profundamente que aquele ponto fosse o fim de todos os esforços que aquela geração já fez. Os gritos advindo de naruto, a pele sendo queimada em prol da pouca esperança que sobrava, os inimigos que os temia e ao mesmo tempo lhes desprezava, tudo isso era uma trauma que ele nunca imaginou enfrentar. O ódio sempre foi sua bagagem, esse mesmo ódio tomou uma direção que ele nunca considerou, ódio não pelas pessoas que naruto perdeu mas sim um ódio "por" essas pessoas terem partido.

Finalizado. Foram minutos? Não, pareceram horas, tanto sangue, a tinta há muito secou, tudo que lhes restaram era o sangue, havia tanto, crostas em lama, crostas em corpos , vermelho, uma cor viva, agora tão morta, putrida, fétida, enlutada. Vermelho que agora era tudo que ambos conhecia. E agora? O que fazer? Era isso? Apenas acionar a matriz e eles estariam de volta há um tempo onde pessoas ainda poderiam ser vistas? E se mesmo assim ele falhar novamente? E se todos morrerem novamente? E se ele não puder sair de seu espiral de dor e todos sofrerem novamente?

Novamente? Ainda tinha uma possibilidade de um novamente? Quão capaz ele seria de mudar o passado a ponto de um futuro tão odioso nunca ocorrer? Ele poderia? Realmente?

"Naruto, por favor". Implorou kurama "apenas deixe ir, podemos lidar com isso depois, um passo de cada vez, garoto"

Torpor, um corpo marionete. "Acione" ressou no fundo de sua mente, kurama, seu último findar, implorou por si, pediu que não desistisse, ele ao menos ainda o tinha, certo? Pelos menos alguém sobrou, era suficiente,  naruto não saberia o que faria se até mesmo kurama fosse tirado de si,  ponderou enquanto olha para seu peito rasgado, sangue em uma matriz complexa, funcionará, certo? Ou  ao menos morrerei no processo.

Suficiente. Um pensamento mórbido mas acalentador.

Um sorriso, os shinobes sobre seu comando sentiriam suas espinhas gelar se visse seu hogake com um sorriso como aquele. Repuxado de forma tão doce, um olhar vazio, sombras lançados sobre uma bochecha funda.

Fome.

Não só aquela que lhes assolava à anos mas aquela que significava apenas uma coisa.

Devastação.

Sede de vingança, um peito onde jazia um coração oco.

Enquanto infundia chakra, ele gargalhou, clamando massacre, para ele, a partir dali a misericórdia era uma mera palavra distinta, observando  kaguya se aproximar ao longe, junto com seu filho odioso, ele sorriu, sentindo seu corpo estremecer quando sentiu o fogo da matriz lamber sua pele.

Doeu.

Queimou.

Mas nada era mais doloroso que suas perdas, então ele apenas consentiu, enquanto seus inimigos avançavam para impedir qualquer que seja aquele poder violento ele assistiu de longe, poderia sentir o lampejo do triunfo se aproximam,  então ele acolheu aquele sentimento aterrador.

E o sétimo senhor de uma nação arrebatada pela ruína, ruiu, em meio a chamas que clamavam destruição, ele desapareceu, junto com a última existência de chakra.

E tudo que ficou em seu encalço foi as ruínas de um mundo que ele jurou nunca mais existir.

O sétimo lorde caiu. "Que Deus tenha piedade de sua alma" as chamas pareciam sussurrar.

O vento pareceu concordar, que assim seja.


ruínas de quem souOnde histórias criam vida. Descubra agora