Running on Air | Drarry

16

Draco assume a direção em Birmingham novamente. Harry não tem certeza para onde eles estão indo, mas não se importa.

— Durma um pouco — Draco diz a ele e Harry acena com a cabeça. Ele encara Draco, seus olhos mal abertos, apenas o suficiente para observar Draco sem que ele perceba. De vez em quando, o brilho laranja de um poste de luz desaparece sobre o carro, ou os faróis de outro carro passando, iluminando Draco por um segundo. Sempre olhando para frente, ele pensa, olhando para o rosto de Draco. Nunca desviando o olhar.

Ele adormece com o olhar ainda fixo em Draco.

.

Quando ele acorda em seguida, é uma superfície lenta para a realidade, as luzes borradas gradualmente entrando em foco. Cruzamentos pontilhados de semáforos, luzes brilhantes, carros passando rapidamente. O som dos trens passando nas proximidades. Harry se endireita na cadeira, piscando lentamente. Londres, ele percebe. Eles estão em Londres. Seu relógio apita: três da manhã. Mas esta cidade nunca dorme e o trânsito está intenso até agora. Harry se pergunta quantas pessoas estão a caminho de Heathrow, a caminho de mil destinos com os quais ele só pode sonhar.

— Onde estamos indo? — ele murmura, a voz ainda rouca de sono. Draco olha para ele.

— Você está indo para casa.

A quente sonolência cai de Harry como uma capa. Ele olha para Draco, seu coração acelerando.

— Casa...? — Ele repete.

— Seu apartamento — Draco diz.

A caixa de concreto no céu. É aqui que tudo termina? As praias planas de Sutton-on-Sea, a agitação brilhante de Brighton, os penhascos elevados e varridos pelo vento da costa da Cornualha, os prados de canola de Wiltshire, o céu estrelado de Snowdonia...

... E tudo termina aqui, num apartamento vazio com móveis empoeirados e paredes vazias?

In incepto finis est.

Bem, é claro que é assim que tudo vai acabar. Este foi um tempo emprestado, esta viagem. Uma viagem roubada, momentos que não deveriam acontecer, memórias que nunca deveriam ser dadas. E agora Draco voltará para a mansão, para sua mãe agitada e seus elfos domésticos amorosos, e Harry voltará para seu apartamento branco e vazio e ficará na varanda bebendo uísque, e talvez se ele ouvir com atenção o suficiente ele poderá ouvir alguém assobiando, sopre o vento do sul, do sul, do sul...

No deserto profundo e imaculado de Snowdonia, parecia que a lua havia se equilibrado em seu coração, leve e clara como o próprio céu. Aqui, em Londres, parece pesar sobre ele, pesado como chumbo, dificultando a respiração. O peso só aumenta à medida que eles saem da rodovia e seguem estradas cada vez mais familiares. Finalmente chegaram ao bloco de apartamentos; Draco estaciona o Renault com a mesma graça de sempre, seja na beira de um penhasco na Cornualha ou segurando a mão de Harry para lhe mostrar um lago cheio de estrelas. Por um momento, o coração de Harry acelera enquanto Draco caminha com ele até a escada, mas então ele se lembra que está dirigindo há horas. Uma xícara de café antes de ele sair novamente seria uma cortesia básica, pelo menos.

É estranho estar de volta ao apartamento. Ele leva séculos para encontrar as chaves e mais ainda para abrir a porta. O ar tem um leve cheiro de poeira, Harry pensa enquanto liga o interruptor de luz, iluminando as paredes brancas, as prateleiras vazias, os balcões da cozinha organizados. As cortinas estão todas abertas e além do rio as luzes da cidade brilham. Harry lentamente coloca as chaves no balcão vazio.

— Café? Não tenho leite — Harry acrescenta, mas Draco balança a cabeça.

— Chá está bom.

Harry não esteve ausente por muito tempo, mas por alguma razão ele tem dificuldade em lembrar onde está tudo. O açúcar foi guardado na segunda ou terceira prateleira? Ele abre um armário para pegar canecas, mas descobre que está cheia de copos. Ele pode muito bem estar na casa de um estranho. Enquanto eles esperam a chaleira ferver, Draco se senta no balcão da ilha e passa a mão pela borda dela.