Estava decepcionado com a visita da minha mãe, não imaginava que viria até a mim assim, mas também pensei se eu deveria dar-lhe alguns pontos por não mencionar sobre as dívidas que não podia pagar.
Pedalei o mais rápido que pude, quis acreditar que aquilo me faria esquecer as palavras sorrateiras da mamãe, mas eu só me cansei, mais ainda. Dei algumas voltas por aí, me afastei o quanto pude das redondezas do meu pequeno apartamento, porém acabei retornando, pois precisava ir ao parque. Encostei minha bicicleta nas costas do banco e me sentei, respirei fundo e comecei a distribuir os pedaços do pão que havia trazido comigo. Alguns pombos estavam ali, à minha frente, e outros perambulavam um pouco longe de mim. Logo tive a atenção de mais pombos, o que me fez pensar que eu deveria ter comprado mais pão no caminho.
Eu estava começando a me desvencilhar de alguns pensamentos corriqueiros, quando um grande Golden retriever corre na direção dos pombos e os espanta por completo. Ouço um grito de longe, uma voz firme. Olho em sua direção e vejo uma mulher vestida em um conjunto de moletom rosa, segurando a corda de uma coleira na mão. Imaginei que o cão fosse dela.
— Pombos! Pombos! — quanto mais avançava seus passos, mais ressaltava. — Ya (ei, expressão informal), Pombos! Por quê?
Por que estava gritando os pombos se seu cão havia os espantado?
Ela finalmente chegou perto de mim e fez uma cara feia enquanto via seu cão correr para lá e para cá.
— Ya, Pombos!
Me perguntei se queria alimentá-los também, mas não encontrei nenhum vestígio que me tirasse aquela conclusão.
— Pombos! Por quê? Volte aqui.
Minha plateia estava completamente dispersa, o Golden não os deixava em paz. Amava cães, mas não estava sendo um dia legal, acabei ficando um pouco irritado.
— Senhorita, eu posso lhe fazer uma pergunta?
Ela me encarou, logo vi seus olhos arregalados. Ficou em silêncio por alguns segundos, o que acabou me encorajando.
— Se permitiu que o seu cão espantasse os pombos, por que insiste em chamá-los?
— O quê? Os pombos?
Fiz que sim com a cabeça.
— Eu não estou chamando os pombos.
— Como não? Já faz um tempo desde que está gritando: Pombos! Pombos!
— Ah, não é isso. É que o meu cão se chama Pombos.
Fiquei boquiaberto. Comecei bem o meu dia. Agora eu quem havia resolvido ficar em silêncio, o que a levou a rir, logo em seguida, quando finalmente pareceu ter entendido a situação.
— Sem chances! Pensou que eu estava chamando os pombos grou grou? — finalizou, imitando o arrulhar de um pombo. Riu mais ainda.
Me vi constrangido.
— Por que eu chamaria os pombos? — indagou, logo se sentando ao meu lado, o que achei curioso de sua parte.
— Eu não sei. Mas, seu cão os espantou, e eu estava distribuindo migalhas de pão à eles.
— Distribuindo migalhas de pão... Woah, não sabia que o carboidrato pode causar problemas no estômago e intestino deles?
A olhei, com a testa franzida.
— É veterinária?
— Não — respondeu, logo desviando seu olhar de mim para o seu cão —, pesquiso coisas assim quando não consigo dormir à noite — sorriu. — Sabia que as vacas têm melhores amigas e que se são separadas elas ficam estressadas?
Minha testa continuava franzida.
— Não fazia ideia — respondi, não muito interessado naquela conversa.
— Pois é. Vacas são legais — disse e então firmou sua voz ao chamar pelo cão novamente, finalmente tendo sua atenção. — Pombos, já se divertiu? — perguntou a ele, e foi correspondida com um latido.
— Por que escolheu esse nome para ele?
— Os pombos são inteligentes, espertos e ágeis. Meu cão não é diferente. Entre um prato de carne crua e cozida, adivinha qual ele escolheria.
— A cozida?
— Nenhuma. Ele prefere peito de frango grelhado, esse filho da mãe — sorriu, modificando o tom de voz, como uma mãe pode fazer estando orgulhosa ou que se rendeu à fofura de seu filho.
— É, ele é bem esperto.
— A propósito, Pombos, diga "olá" a este rapaz.
O cão então pulou em cima de mim e me deu algumas lambidas no rosto. Me rendi ao seu cumprimento, embora tenha ficado surpreso de antemão.
— Pombos, você é realmente um cão muito esperto.
— Sim, ele é — disse, logo dando uma risada convencida.
— Ele pareceu muito obediente quando pediu para que me cumprimentasse. Por que não a escutou quando gritou por ele há um tempinho?
— Pombos ama os pombos. Estou tentando treiná-lo quanto a isso, mas é algo que ainda temos que trabalhar bastante. Ele não se contém quando os vê perambulando por aí — disse e acabei rindo, por pensar que o ponto fraco de Pombos eram os pombos. — A propósito, eu me chamo Seo Yu Na. Não, Yu Na — disse me erguendo uma de suas mãos, para um cumprimento.
O clima já era outro, e eu não me via mais estressado, por sinal. Até tentei me lembrar do que estava sentindo, mas aquela mulher estranha acabou por afastar meus pensamentos angustiados de antes. Hesitei em corresponder ao seu cumprimento, mas então ela abriu um sorriso grande, de dentes largos que acabou realçando suas bochechas rechonchudas. Não havia reparado antes, mas ela tinha covinhas profundas, como as minhas.
— Meu nome é — comecei, erguendo vagarosamente minha mão — Min Hyeok — correspondi.
— Min Hyeok? Wooaah — disse, após um suspiro.
— O quê?
— Você não tem cara de Min. Pensei que diria algo como "Nam".
— Por que, "Nam"?
— Não sei. Enfim, você tem apelido?
— Apelido?
Confirmou, balançando rapidamente a cabeça.
— Hummm, me chamavam de "Min" na escola, apenas.
— "Min"? — indagou, logo rindo. — Que infantil.
— Julgando meu apelido assim? Aposto que não tem um apelido legal também.
— Meus amigos me chamam de Yuyu.
— Parece bobo.
— E eu prefiro "Nam" à "Min" — deu de ombros.
Ri, um pouco sem reação. Quase me senti envergonhado. Conversar com ela parecia ser difícil. Ela pensava muito rápido e algo me dizia que seria capaz de tornar divertido e vantajoso, qualquer que fosse o assunto.
— Bom, eu já preciso ir — disse, encaixando a corda na coleira de Pombos. Se levantou e me fez uma continência.
— Por que a continência?
— É divertido. A propósito, me desculpe pela travessura do Pombos. Ele é bem animado, como pôde ver. E mesmo que ele não diga nada, sinta-se acolhido, pois ele te lambeu. E isso é bom — abriu novamente aquele sorriso. — Até a próxima, Min Min — acenou e então saiu saltitando.
Acompanhei seus passos até desaparecer da minha visão. Balancei a cabeça em negação e acabei rindo daquele episódio.
— Woah, que quinta-feira estranha.
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Olá, Quinta-feira!
RomanceOnde o amor está apenas a alguns dias de distância. OLÁ, QUINTA-FEIRA!, é um romance leve, com uma pitada de drama e comédia. Escrita em 10 capítulos lindos, curtos e contagiantes para você se apaixonar... _________________________ OBRA DE: 𝑁𝑎𝑡𝑖...