3| XVI:XV⁴

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Estimados irmãos, vamos fazer a primeira leitura,
Retirada do velho livro de nossa história:


Os portugueses chegaram aqui
E nos deram espelhos,
Nos deram “riquezas”,
E nós, de bom grado,

Lhes abrimos os caminhos de nossa casa.
O que parecia ser uma oferta de paz,
Na verdade, era um acordo de compra desleal.


Quando os portugueses chegaram,
Nos fizeram acreditar em anjos,
Ou melhor, que eram anjos.
Nos chamaram de ateus
E nos ofereceram uma bíblia.
Enquanto rezávamos,
Apunhalaram-nos com suas armas
E ficaram com a nossa terra,
Nos roubado assim a identidade.


Quando os europeus chegaram,
Foram se instalando em nossas casas,
Escravizando nossas tribos,
Matando nossos índios.
Em cada canto onde antes se falava línguas tupi-guarani⁵,
Agora se fala as línguas dos brancos,
A crença dos brancos,
A ganância dos brancos.


Quando os europeus chegaram,
Todos fascinados com a nossa riqueza,
Começaram a perpetuar batalhas,
A espalhar a incerteza,
Semeando a discórdia no reino do ouro.
E ainda chamaram-nos de inferiores,
Seres irracionais e sem cultura.
Quando descobriram o gosto pelo açúcar,
Fizeram-nos de escravos no Novo Mundo⁶.


Assim, Moçambique chegou ao Brasil.
Nossas cicatrizes foram unidas,
Nossas histórias, reescritas,
E nossa liberdade,
Impedida.








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4. Referência aos séculos da chegada dos portugueses aos respectivos países: Brasil (em 1500, século XVI) e Moçambique (em 1498, século XV).

5. Uma das mais importantes famílias linguísticas da América do Sul, pertencente ao tronco Tupi. Refere-se ao idioma falado pela maioria das tribos indígenas que habitavam a costa do Brasil em 1500.

6. Forma como os europeus se referiam ao continente americano durante a época das grandes Navegações (século XV – início do século XVII).

Do Céu ao Inferno: De Terras DistantesOnde histórias criam vida. Descubra agora