11| O País De Mim

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Onde os interesses da minoria
São mais prioritários que os de um povo faminto.

O país de mim, que vive disfarçado de democracia
Mas que não passa de uma monarquia.
Que na demanda do povo querer estar no poder,
Choramos gases lacrimogêneos nas mãos dessa tirania
— Ou não, desses ditadores
Que se autodenominam democratas.

Onde a vida está cada vez mais cara
Nas caras dos Caras sem cara
E mais realeza na cara dos Caras com cara.
Maldita vida dos Caras sem cara!
Que a fome tenha piedade de nós.

O país de mim, onde o sexo é um esporte,
Jogado de uma forma clássica,
Com intuito de arrecadar alguns Samora’s⁸
Ou de escalar os degraus do sucesso
Dentro de um helicóptero
Pousando, assim, uma calcinha.

Onde o ser ninguém
Continua a ser menos ninguém
No meio dos alguns
Que continuam a ser muito mais poucos serdes alguns.

O país de mim, que contribui para a evangelização
E para a divulgação da cultura ocidental,
Implantando igrejas e difundindo o cristianismo,
Desmerecendo a cultura africana,
Dizendo que é tudo pecado
E que a porta do inferno nos espera.
Ops! Já estamos fritos.

Onde a religião tem cara de dólar,
Com os seus depósitos numa igreja,
Disfarçados detrás duma cruz,
Sugando o sangue dos inocentes.
Quando vão libertar-se dessas correntes?

Onde o racismo ganhou asas
Numa disputa do preto ao preto,
Pois ter um tom mais escuro é motivo de risos e ofensas,
Onde o mais claro rebaixa o seu irmão com tonalidade mais escura.
Onde pensam que os Mestiços ou Mulatos são brancos,
E nós já sabemos como isso termina.

O país de mim, onde o dinheiro tem idioma,
E é uma língua falada por algumas mulheres,
Que se vendem por alguns presidentes mortos.
E quem não os tem, não os tem.
Mas também é idioma dos homens com espadas de fogo
Que, com presidentes mortos,
Queimam o seu fogo,
Empunham a sua espada
No coração da terra prometida.

Esperem, Esperem, Esperem! Esse é o país de mim,
Onde a Polícia e o Ladrão compartilham do mesmo copo,
Entre sorrisos e abraços
Que atormentam o sossego do meu povo.
Quando, nessa maldita terra, haverá justiça?
Talvez numa outra vida, numa outra terra com varias estações.

Oh, céus! Que a vida tenha piedade da minha alma.

Pambyson Pambe


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8. Samora’s refere-se às notas de Metical (moeda moçambicana). Em cada nota, o rosto do primeiro presidente de Moçambique (de 1975 até sua morte, em 1986), Samora Machel, está presente.

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