Epílogo

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Amber Run - I Found You  🎶🎶

Imagine Dragons - Birds 🎶🎶 

[...] Reza a lenda que Démeter, a deusa da agricultura, em sua dor e luto constante pela perda de sua filha Perséfone para o submundo, deixou a terra cair em escassez e desolação absoluta. Apesar disso, depois de se banhar nas aguas do rio do esquecimento, e deixar suas mágoas para trás, voltou para o reino dos deuses, e com sua volta, as estações retornaram, e os homens puderam desfrutar de ricas colheitas.

Lenda sobre as deusas esquecidas do continente humano, trecho

Nádia, capital da Corte Primaveril, 2016

Existe uma palavra nas terras humanas que de um país para outro não há uma tradução exata: Commuovere. Refere-se a uma história que te levou as lágrimas.

Era essa a sensação que permaneceu no coração de Lucien nos últimos séculos, ao ver a roda do tempo girar, e não ter mais seu melhor amigo Tamlin ao seu lado. Mas o feérico tinha tido uma vida agradável ao lado dos novos amigos da Corte Noturna graças ao laço de parceira de sua cunhada Feyre e de Rhysand, e dos súditos de sua corte, após Tamlin passar o poder de suas terras para suas mãos.

O antigo Grão-Senhor Primaveril tinha sido consumido pela loucura, e pela dor que ele mesmo havia provocado. Ou talvez tivesse sido a dor de perder alguém que nunca tinha sido seu para início de conversa.

No entanto, Lucien como um bom amigo permaneceu ao seu lado pelos anos de enfermidades, até que Tamlin morreu em seu quarto, balbuciando pedidos inúteis a um jovem que conhecera há mais dois séculos, mas não o reconheceu como seu por puro preconceito.

Havia momentos em que Lucien pensava que podia ter feito alguma coisa por Tamlin. Lutado com mais afinco para impedir-lhe de sucumbir, então se lembrava de que neste mundo, não importava quanto se tentasse, algumas pessoas não podiam ser salvas.

Ele protegia a Corte Primaveril com sua própria vida desde então. Não voltou para os braços de Jesminda, apesar de se lembrar do amor intenso que ambos viveram tanto neste novo mundo como no outro. No entanto, não parecia justo com a feérica que merecia muito mais do que ser uma substituta. Seu coração tinha apenas uma única pessoa: Elain, sua amada Grã-Senhora.

A planície era iluminada pelo pôr-do-sol alaranjado que banhava os telhados das casas da capital Nádia. A primavera tinha começado recentemente, e as flores do campo enfeitavam as largas e movimentadas ruas. As rosas vermelhas e os hibiscos tornavam a paisagem mais pitoresca e tranquila.

No topo do terraço da torre, Lucien aproveitava a brisa vespertina. Era um dos lugares mais altos de toda a cidade, que lhe permitia observar possíveis inimigos, e estranhos que penetrassem as barreiras utilizando magia sombria como vinha acontecendo nos últimos anos.

Seus sentidos feéricos captaram um grito infantil, em um salto pulou da torre como um pássaro. Aterrissando ao chão, apoiado em um joelho, Lucien se pôs a correr à procura da criança em perigo, seus cabelos vermelhos esvoaçando contra o vento.

Ao longe, pôde ver dez soldados de sua guarda cercando pequenas crianças illyrianas em um beco parcialmente escuro, prontos para atacar.

— Solte os meninos! — Lucien gritou, irritado.

— Meu senhor, eles foram pegos roubando. Outra vez. — Um dos guardas se pronunciou a olhando com seus olhos cinza e severos.

Antes que Lucien pudesse se pronunciar novamente, o som de saltos cantou sobre os ladrilhos. Uma feérica cruzou o pequeno espaço até eles, com as mãos em sua cintura. O vestido parecia ser feito de pétalas de rosas vermelhas, e fios de ouro. Havia uma coroa de galhos, e flores em seus cabelos castanho-alourados.

— Acredito que seu lorde tenha lhe dado uma ordem. Além disso, a guarda hunterwatch não foi criada para massacrar crianças, soldado. — A voz melodiosa perfurou o estranho silêncio que havia se infiltrado no beco.

Os guardas foram colocados para ficar de joelhos. Lutando para respirar com as mãos em volta do próprio pescoço. Fixaram seu olhar na feérica, que os observava com a expressão entediada.

— E-Elain, meu amor, você não deveria estar descansando? — Lucien tropeçou em suas próprias palavras ao falar.

Não conseguia acreditar em seus próprios olhos que admiravam Elain, que estava de pé enquanto conversava. A ponta dos dedos repousando em sua delicada cintura robusta por causa da gestação avançada. Sua postura severa envolta em sua graça impessoal contrastando com a memória difusa e borrada de uma jovem camponesa sorridente. Memórias eram falsas carregadas de nostalgia e mentiras, mas a realidade era dura, porém aceitável.

— Espero não ter que me repetir. — A Grã-Senhora olhou para todos os guardas, que assentiram. — Agora saiam da minha frente, antes que eu arranque a cabeça de cada de um de vocês. 

 Todos saíram em menos de um minuto com exceção de Lucien.

— Eu pensei que a curandeira tivesse dado conselhos específicos, meu amor. — disse Lucien, em um tom que beirava a condescendência, mas Elain achava particularmente fofo.

A Grã-Senhora suspirou resoluta. Tentando soar calma ao falar, mas quando seus lábios se abriram em um sorriso maroto, as palavras que saíram foram totalmente ao contrário do que pensou ao princípio:

— Não mesmo, milorde, não deveria estar em casa, estou cansada de olhar para as mesmas paredes brancas e monótonas. — falou Elain fazendo um estranho biquinho infantil. — Eu pensei que você ficaria feliz em me ver... Você não me ama mais agora que estou redonda como uma melancia?

— Eu não pareço feliz para você? Só estou preocupado, afinal, falta pouco tempo para que a bebê nasça. E se as paredes as irritam podemos pintá-las da cor que você quiser.  E você não está gorda, mas cheinha... — As mãos de Lucien tinham puxado Elain para perto de si em questão de segundos. E isto era o mais perto que ela já o tinha visto tagarelar.

Um vento suave percorreu a coluna de Elain ao sentir a aproximação repentina. A feérica olhou para Lucien. Havia uma mecha branca que despontava por entre seus cabelos vermelhos, mas para ela, Lucien sempre seria o feérico de cabelos selvagens, e personalidade arrogante e sensual, que conhecera quando foi transformada em feérica há muitos anos.

— Você não mudou nada apesar de todos esses anos, sua raposinha astuta. — retrucou Elain, sorridente.

A feerica colocou a mão no ombro de Lucien e o apertou gentilmente. Ela nunca pensou que merecia toda essa felicidade, mas mesmo sabendo que ao morrer não iria para o mesmo lugar que seu amado. Afinal, sua mãe tinha lhe avisado que voltaria imediatamente para o reino dos deuses, Elain estava feliz, pois poderia dizer para os demais deuses que não importava o quanto fossem imortais e poderosos, eles nunca saberiam o que eram ser amados verdadeiramente.

Corte das Doces Ilusões [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora