Hospedagem

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[ Kim Taehyung point view ]

Depois de conhecer exatamente cada cômodo da casa — cômodos que não são nem um pouquinho pequenos diga-se de passagem —, finalmente voltei para o quarto e fui correndo tomar um banho, pois se tem algo que eu necessito com urgência, é colocar as ideias no lugar e relaxar o corpo em uma banheira.
Eu tive um banho excelente na banheira do meu novo quarto e no meu novo banheiro. Agora a minha ficha caiu finalmente, eu estou na minha nova casa, para ressaltar. Nossa eu estou no paraíso, se for possível. Mesmo que talvez eu só esteja me iludindo legal, já que eu sou trouxa em certas coisas e ocasiões da vida.
Jeongguk teve toda paciência em apontar, mostrar e explicar cada canto e coisa da casa, como se fosse uma exposição de arte ou artefatos históricos de um museu, o que me fez ver o quanto ele é dedicado nas coisas que faz e gosta.
Ele ainda fez questão de dizer os horários certos de todas as programações para que eu possa me habituar corretamente, o que me fez se surpreender mais por saber que eles seguem padrões dos quais costumam ter na rotina. Desde o costume de acordar super cedo e até mesmo na hora de dormir.
Jeon contou como tudo exatamente funciona e os afazeres que cada um tem em um dos dias da semana. São coisas básicas, como limpar a casa, manter tudo ajeitado e também o dia de quem irá lavar a louça.
Eu confesso que no começo fiquei meio perdido na situação, eles levantam às quatro e meia da manhã, café fica pronto às seis, almoço ao meio-dia, lanche das três da tarde e jantar às sete e meia em ponto. Juro que tive de anotar tudo em um bloquinho de notas para recordar. Mas até aí tudo bem, eu consegui entender perfeitamente e vou tentar entrar nesse padrão da casa, assim como todos que também o seguem.
Mas chegou em um ponto que eu não consegui lidar literalmente com as coisas que todos falaram juntos.
Primeiro porque eu não faço ideia do que eles fazem no clube e eu sou proibido de pisar naquele local, sendo essa ordem do Jeon. Segundo porque ver todos esses homens armados dentro de casa me faz ver que são pessoas importantes, ou apenas mais um grupo de mafiosos pelo estilo e jeito de viver. Terceiro que eles são receptivos até, alguns já se apresentaram e outros estão tentando me incluir agora na família, como eles costumam se nomear me explicou Min Yoongi.
De banho já tomado e deitado sobre a cama, eu apenas estava vendo as mensagens no meu celular e principalmente no grupo da faculdade, sem nada para fazer.
Suspirei cansado por saber que ainda tenho que terminar o trabalho para apresentação e tentar ganhar a maior nota, ou pelo menos bater a média desse semestre. Para falar a verdade eu caí drasticamente nas notas do semestre passado e agora tenho que correr atrás do prejuízo, principalmente da situação em que me encontro.
Obviamente peguei DP em duas matérias e isso é um caos a mais na minha vida. Já não basta os meus problemas, meu psicológico abalado e tudo que me aconteceu nos últimos meses, agora tenho que me preocupar com a recuperação, mais uma coisa da minha lista de tragédias bem trágicas.
Ouvi duas batidas sobre a porta, me fazendo largar o celular em cima do criado mudo e me levantar da cama, arrumando a minha blusa moletom branca sobre o corpo, já que eu costumo dormir apenas de  cueca box e uma blusa simples.
Andei em direção a porta e abrindo-a com calma, vendo Yoongi me analisando atentamente e ao notar que não uso calças, abriu um sorriso de canto.
Sem dizer nada, dei passagem para que o mais velho entrasse e assim ele fez, andando em direção ao sofá e se acomodando, totalmente folgado. Fechei a porta, suspirando cansado, andando em direção ao de madeixas verdes menta e me sentando no apoio de braço do sofá.
— Já vai dormir, Kim? — perguntou, arqueando a sobrancelha.
— Na verdade eu só estava mesmo planejando mofar em cima da cama e buscar formas de relaxar. — respondi, sorrindo mínimo pela expressão dele. — E você o que veio fazer aqui mesmo? — ousei a perguntar, já que a minha curiosidade sempre fala mais alto. — Me fazer companhia ou mofar comigo?
— Você é o novo hóspede dessa casa cheia de caras imbecis. — sorriu, me avaliando com cautela e dando de ombros, parecendo não se importar tanto com o modo em que falou dos outros. — Creio que deve ter pelo menos uma pessoa para te guiar, ou quem sabe apenas passar o tempo e jogar conversa fora? — explicou, gesticulando com as mãos e soltando um suspiro baixo. Ele parece cansado. — Mas tudo bem se não quiser. Saiba que não irei me ofender, ou se chatear.
— Eu pensei que veio apenas para saber se eu não fugi ou algo desse tipo, porque aqui tem regras demais para ser cumpridas e não sei se irei conseguir me habituar rapidamente aos costumes de vocês. — falei, dando de ombros e pensando sobre esse tipo de assunto. — Mas fique à vontade, pois é sempre bom ter alguém para conversar, ou apenas passar o tempo e se distrair. Não gosto de ser rude com as pessoas, Min.
— Quase isso também, já que nós sempre fazemos a vigia dos quartos antes de ir dormir e agora vai ter que se acostumar, pois quando não for eu, será Jeongguk ou Namjoon zanzando pela casa. — comentou, me fazendo concordar com um aceno de cabeça e suspirar fraco. — Mas então… o que estava fazendo antes de eu aparecer? Estava tão silencioso que eu pensei que havia saído para dar uma explorada a mais ou apenas zanzar pela casa para conhecer mais o local.
— Tudo bem. — sorri mínimo, principalmente pela confissão de que tem uma patrulha às nove da noite e que aqui eles são cautelosos. — Eu estava apenas vendo os trabalhos que devo fazer da faculdade e vendo algumas mensagens no grupo da minha sala. — disse, abraçando minha nova almofada e encarando as ações que Yoongi tinha em meio ao assunto. — Nada demais.
— Bom eu te entendo. Mas você faz faculdade do que exatamente? — perguntou, me olhando nos olhos, percebi que aqui todos fazem isso e ainda por cima não desviam.
— Eu faço faculdade de medicina veterinária, sempre amei poder cuidar dos animais e quando eu era pequeno tinha um gatinho. — comentei sinceramente, sorrindo animado por falar da minha área e especialização.
— Então você gosta de salvar os animaizinhos? — comentou Yoongi, me analisando atentamente e sorrindo um pouco contido.
— Muito. Na verdade eu amo poder ajudá-los de qualquer forma. — concordei, me empolgando um pouco. — Poder ver como eles ficam felizes quando são tratados e bem cuidados, ou de como eles se animam quando estão sendo bem atendidos e ganhando algum petisco. — comentei, me ajeitando sobre o sofá. — Acho que não tem coisa melhor, porque eles são seres fofos e companheiros demais.
— Eu entendi, ok? Não se empolgue tanto, Kim. — pediu, rindo nasalado da minha situação e alegria exagerada.
— Mil perdões. — peço, me sentindo envergonhado por isso, pois sempre me empolgo. — Geralmente eu fico muito empolgado quando falo de algo que gosto muito e às vezes fica chato até para mim ter que lidar por não ter amigos por causa disso, mas não vem ao caso. — expliquei, com certa calma minha situação. — Desculpe mesmo.
— Preciso ir agora, mas espero que possamos conversar mais vezes e também quando eu tiver tempo. — falou, se levantando do sofá, arrumando a sua camisa e andando em direção a porta. — Boa noite, Kim. E por favor se cuide. — desejou, abrindo a porta e dando de cara com Jeon. — Boa noite JK. Já estou de saída.
— O que está fazendo aqui nessa hora, Min Yoongi? — questionou o moreno tatuado, parecendo incomodado.
— Apenas vim dialogar com o novo morador, ele tem assuntos interessantes e a felicidade dele até que contagia o mais mal humorado da vida, JK. — respondeu, saindo do quarto de uma vez e sumindo do meu campo de visão.
Levantei-me do sofá, arrumando a minha blusa moletom branca corretamente sobre o corpo e mordendo o lábio inferior ao ver Jeongguk entrando no quarto sem nem ao menos falar alguma coisa. Ele apenas entrou, fechou a porta e foi em direção a cama em total silêncio, me deixando um pouco tenso.
Com certo receio, me aproximei dele calmamente e me sentando na beirada da cama, mantendo a minha cabeça baixa, já que eu ainda tenho respeito e sei usá-lo.
— Eu contei para os meninos sobre você e peço que não fique bravo, pois quero que todos possam se habituar. — disse, quebrando o silêncio incômodo que se instalou por cinco minutos.
— Está tudo bem. — sorri mínimo, brincando com os meus dedos e sem encará-lo devidamente. — De qualquer forma você fez o certo, não tenho porque de ficar bravo ou falar algo, já que agora eu sou a sua propriedade. — falei, cruzando as pernas e engolindo a seco. — Devo manter o respeito.
— Não! Você não é a minha propriedade e nunca será considerado como tal. — afirmou em um tom de voz sério e que até me surpreendeu, pois eu não esperava por essa. — Eu só ganhei aquele jogo porque vi o quão assustado você estava e o quão hesitante ficou ao olhar para a cara de cada um daqueles homens sujos e isso me fez se sentir protetivo.— falou, ainda mantendo o tom sério na voz. — Mas não pense que fiz isso porque foi vendido, pois você é apenas um membro da casa.
— Mas Jeon eu realmente fui ven-…
— Acredite eu posso ser o que for, mas nunca deixaria um homem como o seu pai levar vantagem ao vender o próprio filho em um jogo de roleta e com homens de índoles tão péssimas. — disse, me encarando fixo e apenas mordi o lábio superior, desviando o olhar. — Isso para mim foi o cúmulo, porque ele só provou aquilo que todos desconfiavam desde o início e eu tenho nojo de pessoas como ele.
— Olha eu sei que o meu pai me vendeu em um jogo e assim como sei que ele me odeia mais do que tudo na vida e sempre deixou isso claro… — iniciei o assunto, engolindo a seco por confessar isso e tentando evitar chorar. — Mas eu não tenho raiva dele e nunca vou ter. Por mais que ele fez tudo de ruim comigo durante esses anos, eu quero que pelo menos ele seja feliz com o que for escolher em sua vida. — falei, deixando escapar um suspiro dos meus lábios e abaixei a cabeça. — Mesmo que você odeie essas coisas, principalmente a forma suja em que ele me vendeu e deu a minha virgindade a troco de dinheiro. Saiba que está tudo bem.
— Por que um garoto como você estaria dentro de um lugar daqueles com uma fama péssima, Kim? — ousou a perguntar, enquanto me analisava com atenção.
— Pelo simples fato de que o meu pai não me deixou ficar em casa e me arrastou com ele, dizendo ser o seu dia de sorte fajuta como sempre. — sussurrei, dando de ombros e confortável para dialogar. — Ele apenas percebeu que o filho dele não presta para jogo algum, já que perdi a maioria das lançadas e ainda ouvia xingos de graça.
— Não Taehyung, você apanhava toda vez que algo não dava certo como ele desejava. Eu via todos os tapas que ele te dava, os puxões de orelha, os chutes na sua canela e mesmo assim você se manteve obediente e de cabeça baixa. — confessou, me fazendo se encolher no meu lugar por saber que tinha alguém me observando e que esse alguém agora é a quem pertenço.
— Ele sempre fez isso, mas não significa que eu não suporte. Para falar a verdade, às vezes eu me escondia dele e ficava trancado no quarto, ainda mais quando ele estava bêbado e alterado. — contei, olhando para um ponto qualquer do quarto e me perdendo nas memórias vagas. — Eu fugia com medo, principalmente quando ele aparecia com o cinto para me bater, ou quando ele tentava… — parei de falar, negando com a cabeça e me ajeitando na cama. — Deixa quieto. Eu não quero ficar lembrando dessas coisas e muito menos reviver cada um dos péssimos momentos e sofrimentos que tive de aguentar ao lado do meu pai.
— Saiba que agora você está comigo, na minha casa, com a minha família e a minha vida. Eu realmente recomendo que tente ser feliz pelo menos, não irei te obrigar a parar de fazer o que gosta, muito menos irei impor várias ordens nas suas costas e acredite sinta-se em casa. — falou, sorrindo mínimo quando ousei encará-lo nos olhos e me fazendo suspirar. — Você não é a minha propriedade, muito menos eu sou o seu dono. Eu te comprei? Claro. Mas para uma vida melhor, uma vida libertadora e longe desses abusos e agressões que sofria.
— Jeongguk… — chamei pelo moreno que apenas me olhava e abaixei a minha cabeça tímido. — Vocês são mafiosos, não é mesmo? Essas armas, o clube que eu sou proibido de entrar, o galpão e o escritório, as meninas… — tentei buscar por alguma resposta que seja para entender tudo isso e não soar rude. — Estou certo?
— Nosso trabalho pode não ser um dos melhores, mas cada um aqui cuida e protege, então não se preocupe. Se o meu status de vida te assombra, pode ficar tranquilo que eu estarei aqui para te manter seguro, ou até mesmo os meninos. — assegurou-me, mas eu apenas concordei com a cabeça. — Somos uma família, nosso dever é proteger nossos membros e também ajudá-los.
— Será que tem horário para dormir também? — perguntei, pois era uma dúvida que eu desejo saber desde que ele me mostrou toda a mansão dos Águias e claro para mudar um pouco esse assunto do qual ele não está disposto a falar.
— Não Taehyung. Mas é obrigatório que todos estejam nos seus quartos às nove em ponto para a patrulha e vistoria, já que estamos passando por um caso sério ultimamente. — comentou, rindo nasalado pela minha suposição e devo dizer que é bem boba por sinal. — Qualquer barulho e vozes não saia, às vezes pode ser uma nova briga de clubes ou algo relacionado ao trabalho e esses homens ficam bem agitados.
— Tudo bem. Eu sou caseiro mesmo e não haverá problemas em ficar no quarto relaxando. — expliquei, sorrindo mínimo.
— Eu não quero você se privando. Apenas quero você se divertindo e aprendendo a viver como um jovem da sua idade. — aconselhou, se levantando da cama e me olhando rapidamente. — Preciso ir, mas qualquer coisa bate na porta do meu quarto que é ao lado. Fiz questão de te deixar no segundo maior quarto da casa. — confessou, me fazendo morder o lábio inferior e concordar com a cabeça. — Quero que fique confortável e também possa aproveitar.
— Certo… então até amanhã. — disse, me levantando também, mas Jeongguk fez questão de me impedir e me fez sentar confortavelmente na cama novamente.
— Até amanhã e tenha uma boa noite, Kim. — sussurrou, sorrindo mínimo, enquanto andava até a porta e assim saindo do quarto ao fechá-la.
Uma nova vida e a liberdade…
Eu acho que sou livre de tudo que já sofri antes na vida e poder descobrir que Jeongguk não me vê como um objeto ou como a sua propriedade, já me deu pelo menos 50% de chances de poder fazer o certo, ou de tentar largar dessa chata depressão.

Love Shot [ Taekook ]Onde histórias criam vida. Descubra agora