Leonidas

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O salão de jantar estava decorado de um jeito tão romântico que estava enjoativo.

O barco não demoraria a atracar em Luxor, e eles sempre faziam aquelas noites temáticas perto do fim da viagem, para fazer os turistas retornarem nas próximas, ou até no retorno ao Cairo.

O Egito estava cheio de gente em lua de mel, e não podia negar que os donos das embarcações eram excelentes marketeiros. Era muito difícil alguém subir no "Tesouro do Nilo", o nome daquele barco que eu estava, e não querer voltar depois.

Tinha a arquitetura de um barco de época, com uma madeira bonita por todos os lados, nada daquele ferro horroroso de embarcações modernas. Era decorado de um jeito até europeu com arcos exagerados e entalhes sofisticados, ainda que com retoques egípcios nos quadros espalhados pelos corredores. Era de bom gosto, tinha que admitir. Por isso quase sempre era nele que viajava. Podia pegar um trem para fazer o mesmo trajeto, até seria mais rápido, mas nada se comparava a cruzar o Nilo em uma embarcação daquelas.

Claro que tinham momentos que eu queria me jogar na água e me arriscar com animais perigosos, ao invés de ficar ali dentro. Estava exatamente em um assim, com aquele monte de velas e lampiões espalhados pelas mesas e nas arandelas das paredes do salão.

O cheiro era de flores e a luz completamente amarelada, dando um clima sedutor ao ambiente. Casais estavam espalhados pelas mesas, rindo por cima das velas vermelhas e se tocando de um jeito que me fazia revirar os olhos.

Esse último dia eu costumava comer e ir direto para o meu quarto, mas algo me prendeu ao salão naquela noite. Talvez fosse o tédio. Já tinha acabado de ler o livro que trouxera comigo e estava nostálgico demais para ligar o telefone de novo. Então só me sentei no bar, pedi um whisky e fiquei assistindo a um jogo de futebol que passava em uma televisão grande perto da estante das garrafas.

Em pouco tempo nem mesmo o efeito do whisky estava funcionando como calmante. As risadas tímidas dos amantes nas mesas misturadas as dos homens no canto do bar me deixaram nervoso. Eles também estavam vendo o jogo. Cerca de sete ou oito, todos egípcios e bem bêbados. Os que tinham abordado a garota algumas horas atrás entre eles.

Procurei discretamente Nina pelo salão. Ela estava sentada em um canto mais afastada, sozinha em uma mesa, se balançando para a música que vinha suave pelas caixas de som enquanto comia. Parecia completamente alheia aos homens no bar, ou a qualquer pessoa, para falar a verdade.

Foi inevitável que meus olhos se revirassem.

Como a família deixou aquela garota viajar sozinha? Eu entendia uma mulher um pouco mais vivida, mas Nina parecia uma criança descobrindo o mundo pela primeira vez. Isso não era sensato. Não era seguro.

Respirei fundo e voltei minha atenção para o jogo. Aquilo em absoluto era da minha conta. Estava no Egito para descansar a cabeça, não arrumar um problema.

O garçom colocou um pote de amendoins na minha frente e reabasteceu meu copo de whisky. Eu agradeci em árabe. Depois de tantas idas e vindas por aquela parte do mundo, árabe se tornou quase como uma das minhas línguas oficiais. Emperrava no italiano e no francês, e tinha uma dificuldade absurda para línguas do extremo oriente, mas árabe fluía muito bem.

Não dava para me passar por alguém da terra, era pálido e tinha cabelos claros demais para isso, mas me virava muito bem com a língua. As vezes achava que até era uma maldição, principalmente quando ouvia coisas que não queria porque as pessoas me julgavam turista e achavam que podiam dizer qualquer coisa na minha frente.

Como naquele momento.

O homem mais novo que abordou Nina naquela tarde falou alto o suficiente para que eu pudesse ouvir de onde estava.

Desertos Distantes (Degustacao)Onde histórias criam vida. Descubra agora