EPILOGUE

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Há apenas três presentes sob a árvore de natal esse ano. Um deles contém a etiqueta com meu nome, a letra meio rabiscada às pressas com a caligrafia que eu conheço a anos. Tantos anos. Às vezes penso que anos demais. Trinta e dois deles, um após o outro depois daquele primeiro. O segundo presente é para Joy. Não é algo real, no entanto. A caixa está vazia porque, no final, tudo o que importa é o simbolismo. E o terceiro é para Jisung. Meu Jisung. Meu alfa. Meu marido. Aquele que colocou o mundo em mim e jamais o tirou. Ele está preparando o jantar enquanto finjo ver o especial de natal na televisão, meus olhos apagados por trás dos óculos não estão focados em lugar algum, no entanto. Há tantos retratos sobre a lareira que lembrar deles lá é como ter meu coração aquecido, cheio de amor.

Não preciso olhar para eles para saber a ordem nas pessoas na primeira fotografia, mas o faço mesmo assim. Há uma garota jovem e sorridente segurando um peixe com as pontas dos dedos, ela tem os cabelos trançados em dois ao redor do rosto e o boné escuro parece grande demais para sua cabeça. Pensar que Kalia tem quase trinta anos agora é doloroso, faz-me recordar o quão velho estou. Ela tinha pouco mais de dezesseis na foto e logo ao seu lado estão seus pais, Changbin e Felix. Eles sorriem para a câmera e meu melhor amigo ajuda Benjamin com seu peixe. O menino de dez anos é idêntico à Felix. Na segunda foto há um rapaz dentro de sua beca de formatura, ele sorri largo com os dentes brancos e olhos cheios de um amor que jamais caberá dentro de sua alma. Timothy. Jisung e eu o adotamos de um orfatato ilegal no Senegal dois anos depois que nos casamos. Ele tinha seis, hoje está comemorando o natal com sua esposa no México. Eles e as crianças virão para o final do recesso na semana pós ano novo. A seguir estão dias garotinhas idênticas em vestidos de cetim, ambas fantasiadas de dias versões diferentes da Cinderela para o halloween alguns bons anos. Ella e Kate vieram para nós quando ainda eram bebês, estávamos na fila de adoção por cinco anos depois de termos Timothy. Ambas agora têm idade para a faculdade, ansiosas demais com as festas para voltar para casa. Kate com certeza é aquela que arrasta a irmã de irmandade a irmandade atrás de um pouco mais de diversão. Na foto seguinte, estamos todos nós no natal passado. Kate está vestida de mamãe Noel e segura Utah em seus ombros, ela é uma ômega muito diferente de mim, às vezes tenho certeza de que puxou mamãe. Eva está no colo de Jisung com suas trancinhas desfeitas e Thimoty sorri com os braços ao redor de Sonya. Estou sorrindo para a câmera na outra ponta e Nancy apoia o queixo em meu ombro. Ela é tão suave e tranquila que não parece ser alfa.

— Ei, amor — Jisung chama da cozinha, sua voz está mais grave do que quando éramos jovens assim como ele perdeu algum cabelo e os que ainda têm estão grisalhos. Acho que nunca o amei mais do que agora e ontem me senti da mesma forma. É sempre assim quando se trata dele.

— Sim?

— Por que não trás sua bunda até aqui e abre um vinho para nós? — ele provoca como se ainda fôssemos adolescentes. — Eu fiz alguns canapés de salmão, sei que você adora.

Jisung sabe tudo sobre mim.

Nosso primeiro ano depois de Joy foi difícil, a reaproximação aconteceu naturalmente no entanto. Eu o amo e ele ainda me amava o bastante para não repudiar qualquer coisa sobre mim. Nos casamos em vinte e oito de setembro, quatro anos depois de Joy. Compramos uma casa no subúrbio onde havia um jardim nos fundos e espaço para crianças que sequer sabíamos que iríamos ter. Mas tivemos e elas são lindas, são nossas e eu as amo com tudo o que tenho. Sorrindo, ergo-me do sofá e arrasto os pés até a cozinha. Minhas costas doem um pouco demais depois de entrar na casa dos sessenta, mas Jisung sempre faz boas massagens noturnas e deixa beijos suaves ao longo da minha coluna então não posso reclamar. O tempo está visivelmente estampado em nossos rostos, mas meu coração continua palpitando como um louco por ele. Há muito tempo atrás, pensei que as coisas melhorariam, pensei que o calor um dia pararia de subir para minhas bochechas sempre que estou com meu alfa. Trinta e dois anos depois e aqui estou eu sentindo-me quente somente porque o homem com quem venho dividindo metade da minha vida ainda me chama de "amor". Um velho idiota, é o que sou.

— O cheiro está ótimo — digo enquanto desço minha mão até a parte de trás de seu pijama de cetim que combina com o meu, presente de casamento de Ella, e dou-lhe um tapinha ali. — Tão bom quanto esse seu grande traseiro.

— Oh, querido, ambos sabemos de quem é a maior bunda na sala.

Jisung gira o corpo apenas o bastante para deixar um beijo nos meus lábios enquanto passo por ele para pegar suas taças no armário. Sim, nós ainda nos beijamos. Sim, céus, ainda estamos completamente apaixonados um pelo outro e depois de trinta e dois anos, tenho certeza de que a sequência numérica escondida sob a tatuagem gasta no meu pulso não tem absolutamente nada a ver com isso.

— Você é um idiota — murmuro apesar do sorriso bobo no meu rosto. — Ella disse que não sabe se elas vem para o ano novo.

— Kate está de namorado novo?

— Namorada dessa vez — corrijo servindo-nos generosas quantidade de vinho. Empurro uma taça para Jisung antes de continuar. — Ela com certeza herdou isso de você, sabe, namorador como o inferno.

— Não seja um velho mesquinho e ciumento, Min — ele puxa minha mão enquanto pega a taça, deixa um beijo na palma antes de conrinuar. — Depois de tanto lutar finalmente cedi somente à você.

Gasto alguns segundos observando a foto presa por imãs na geladeira, são todas as minhas irmãs com roupas de natal combinando. Mamãe morreu dois anos antes dessa foto e seu lugar é ocupado por Tessa, a filha de mais nova de Somi.

— Conseguiu falar com Chan?

— Sim, eu disse que estamos velhos demais para festas de natal.

Pesco alguns petiscos na geladeira e os arrumo na tábua de cortes, ao lado dos canapés. Não faz sentido assar um peru para dois. Jisung continua cortando suas folhas para a salada verde, ele bebe um pouco de vinho e ergue a taça no ar em busca de um brinde. Seus olhos brilham quando o encontro no meio do caminho.

— Feliz aniversário, amor — ele diz.

Jisung está com a mão estendida em minha direção e quando nossos dedos se encontram, ele me puxa para um abraço. Sem que eu possa dizer que não, música começa a soar pelo cômodo. Ele adora isso, adora transformar a cozinha em uma pista de dança. Deixamos as taças no balcão enquanto nossos pés se movem em conjunto, ele agarra minha cintura com precisão e encosta sua testa na minha. Nossos lábios correm um para o outro como imãs e mesmo depois de tantos anos é impossível não me derreter neles.

— Obrigado — eu murmuro e não tenho certeza se estou falando das felicitações ou de toda a nossa vida.

AEQUALIS || MINSUNG VER.Onde histórias criam vida. Descubra agora