O jornalista na televisão fala sobre guerras no oriente, um grande dossiê sobre como os grandes na América irão resolver tudo com suas armas e granadas enquanto tento não dormir, meus olhos pesam como o inferno e o cheiro do cobertor no qual estou enrolado é tão familiar que poderia ser facilmente interpretado como uma canção de ninar. O problema? Ainda não são nem cinco da tarde. Cedo demais. Bocejo e esfrego os olhos com força na tentativa de afastar o sono, na mesa de centro ainda há alguma pipoca e chá porque comer qualquer coisa realmente nutritiva não parece ser a vontade do bebê desde... uh, sempre, basicamente. "Os primeiros meses são sempre mais difíceis, muita náusea e alguns incômodos a mais. Não se preocupe, apenas tome suas vitaminas e tente não sair muito fora da rotina, é importante entender que não importa o quão terrível se sinta, você não está doente, querido, apenas grávido" as palavras da obstetra parecem ecoar dentro da minha cabeça conforme estico a mão para mais uma barra de chocolate. É basicamente tudo o que estou conseguindo comer nos últimos dias e, por deus, sinto-me completamente perdido entre o banheiro e a cama. Vomitando grande parte do dia e dormindo na outra metade, minhas juntas ardem por motivos desconhecidos e os malditos quadris parecem estar sendo brutalmente abertos sem o mínimo de escrúpulo. E, como se não fosse o bastante todo esse maldito caos, minha libido de merda está tão atiçada que tudo o que quero fazer é enrolar minha pernas ao redor de Jisung, me afundar nele e morrer com seu cheiro bem fundo do meu nariz. Também há alguns pares de livros empilhados na mesa, todos sobre maternidade, alguns deles Jihyo fez questão de me entregar embrulhado em papel de presente antes de pegar o vôo para o Colorado a alguns dias. Ela é uma merdinha inteligente demais para deixar passar a criança crescendo dentro de mim, não que eu estivesse prestes a negar-lhe a verdade se fosse questionado sobre. Quer dizer, ter ao menos uma base de apoio familiar – ainda que mínima – me soa bem.
Estou com quase seis semanas agora, aparentemente. O bebê não é mais do que um grão de areia e causa todo um maldito rebuliço dentro de mim como se fosse uma grande coisa ocupando os lugares que não foram feitos para ele, fazendo-me chorar no banho como um fodido e querer passar a noite toda em cima do meu alfa. Meu. Completamente meu. E isso também é uma coisa a se lidar, especialmente pelo fato de Jisung sempre cheirar como outras pessoas. Alfas, ômegas e betas. Sempre há traços de outro alguém que... bem, é irritante. Eu tenho minhas crianças felizmente livres de qualquer feromônio, o mesmo não acontece com todos os malditos a serem tatuados pelas mãos grandes e talentosas deles. Às vezes, apenas esfrego-me nele como um bastardo idiota tentando marcar território. É estúpido, eu sei. Meu estômago revira depois da terceira mordida no snikers e, completamente frustrado, o empurro de volta para a mesa, embrulhando-me ainda mais sob o cobertor de Jisung e tentando desesperadamente esperá-lo com os olhos abertos e um sorriso satisfeito no rosto que, sinceramente, sei que não vai rolar. Não enquanto esse bebê minúsculo continuar bombardeando meus sentidos com sensações que não pertencem a mim, o pequeno egoísta.
— Aqui — Felix diz ao empurrar uma garrafa de água com gás para minhas mãos.
Ele parece confortável comigo em seu apartamento grande parte dos dias da semana. Eu, ao contrário, ainda o odeio por Changbin, pelo quer que diabos tenha realmente acontecido ou não entre eles. Nós não falamos sobre isso. Na verdade, nós não falamos sobre nada. Aceito a água sem relutância e, instantes depois, estamos novamente nos ignorando deliberadamente, sentados em lados opostos do sofá enquanto o silêncio ardiloso se arrasta sobre nós como cobras cheias de veneno a ser destilado. Meu celular sobre a mesa de centro apita com uma mensagem de Changbin e, droga, ambos olhamos para a tela no mesmo instante. Ergo meus olhos e o pego com o cenho franzido, quase dolorido. Estranho. "O futuro que vejo nem sempre é aquele que vai vir a acontecer, tudo depende de se fazer a coisa certa no melhor momento. Às vezes, as coisas apenas não funcionam e, quase sempre, sim" sinto as palavras do meu melhor amigo queimar em meus ossos como brasa quente e, imediatamente, lembro-me de como soou quando as disse. Tínhamos quase dezoito, último ano do colégio, ansiosos para o começo de nossas vidas. Fumamos alguns cigarros de erva no estacionamento porque não tínhamos par para o baile, quer dizer, Changbin não tinha. E eu jamais o deixaria passar por algo assim sozinho. De qualquer forma, ele pareceu tão condescendente com seu destino dentro de um monastério que, na época, pensei que era o que realmente ele queria para a vida. Tornar-se um sacerdote. Marcar as pessoas, destiná-las às outras. Ouvir os deuses dos Cosmos. Hoje, percebo o quão malditamente idiota fui e, também, o quanto meu cara estava quebrado. "Ainda está" corrijo-me ao pegar o telefone entre os dedos. "Pizza essa noite, como nos velhos tempos?" diz a mensagem. A culpa preenche minhas veias como cocaína, tenho passado tanto tempo ocupado entre o trabalho, Jisung e essa coisa toda com o bebê que mal temos nos vistos nos últimos dias. "Chego em meia hora, não peça nada com cebola. E azeitona. E queijo. E brócolis" respondo. Não demora para que um emoji que polegar para cima brilhe na tela.
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AEQUALIS || MINSUNG VER.
FanficEm um mundo evoluído e dividido em três classes primárias há aqueles que , por uma antiga e milenar magia , são predestinados um ao outro antes mesmo de nascer . Eles são chamados de alfas e ômegas . E é através de sacerdotes dotados do Grande Dom q...